Foi estranho passar algumas horas em São Luiz do Paraitinga hoje. Tive poucas horas para andar pela cidade toda, fotografar, conversar com as pessoas, de quebra arranjar fontes para o trabalho de conclusão de curso, e me adaptar com a cidade mais limpa do que antes, porém ainda em ruínas.
No ginásio poliesportivo da cidade conversei um pouco com quem trabalhava ali - gente da defesa civil, prefeitura, e voluntários -, e fiquei satisfeito de ver tantas doações. Para mim, pode-se acreditar pouco nas pessoas, mas ninguém pode negar que a solidariedade ainda existe. Um veículo escolar cheio de doações chegou logo depois do ônibus no qual eu fui para a cidade, e foi engraçado ver as pessoas descarregando o veículo às risadas, com o maior bom humor, mesmo com o calor excessivo que fazia na cidade.
Depois foi vez de andar pelo bairro no qual eu vivi. As calçadas, que por ora ficaram cheias de móveis, já estavam vazias. A caminhada até o final do bairro foi tranquila, sem muitas paradas por coisas que me chamaram a atenção. No entanto, chegando à frente da casa em que vivi, obviamente parei. Me aproximei do portão, que estava trancado com uma corrente, e me preparava para dar a meia volta e olhar o final da rua. Antes de me virar, olhei para o final do corredor de casa, e me surpreendi ao ver duas flores rosas vivas. Tentei fotografar, não deu muito certo com a câmera que estava comigo, e parti.
Indo para o final da rua ver a condição das calçadas, que estão desabando aos poucos, comecei a pensar no que poderia significar flores vivas no quintal de uma casa abandonada, com as paredes sujas. No meio daquela cor morta, flores vivas. Deu tempo apenas de pensar "esperança?", até que começasse a chorar enquanto andava.
Entre passos e prantos continuei fotografando a calçada, que chegava a dar medo de tão destruída. Fiz o caminho de volta, e me dirigi para o centro, mas não pela ponte reinaugurada há pouco. Segui reto, para utilizar uma segunda entrada para o centro. Mais uma vez me espantei ao ver a razão de a rua estar interditada: havia um trecho em que a rua estava afundando, e próximo a ela havia partes de uma calçada destruída.
Chegando ao trecho que me levaria ao centro, esperava ver uma escola um pouco quebrada no meio do caminho. Me assustei ao ver que o grande muro que fechava a escola não estava mais ali. Desapareceu. Sem conter a curiosidade, entrei na escola, olhei as salas, e tudo o que estava destruído e destelhado.
Seguindo em frente, fiquei perdido no centro. Por mais que a cidade estivesse muito mais limpa do que semanas atrás, era chocante ver tantas casas desmoronadas. Cheguei a tomar liberdade para entrar no antigo espaço de uma casa. O cheiro de comida estragada que senti semanas atrás onde eu morava voltou com tudo. Menos pior, porque a casa estava vazia, mas bastante enjoativo.
Segui em frente, com várias paradas para fotografar o que restou das casas. As casas que desabaram, geralmente, não permitiam nem uma aproximação maior, muito menos entrar como fiz na primeira. Isso me fez começar a pensar em como será entrevistar as pessoas que perderam as casas, e diariamente passam em frente às ruínas. Alguns minutos depois passei em frente à casa em que meu amigo luthier e músico Silvio trabalhava. Ele, com cerveja na mão, me respondia diversas perguntas, e, quando perguntado se sua casa havia sido atingida, respondeu humoradamente que "na Várzea dos Passarinhos sua casa fora uma das únicas em que a água subiu apenas 6 metros... só passou do teto".
Silvio sempre ajudou a mim e meus amigos de banda a conseguirmos um espaço musical na cidade. Dessa vez ele ajudou aceitando ser fonte do trabalho, e oferecendo abrigo em caso de necessidade nos dias em que irei à cidade. Ele também sugeriu que eu fosse olhar a situação do bairro Várzea dos Passarinhos, explicando como estava o local. O tempo era curto, o sol estava forte, e fui rapidamente ao bairro, que apesar de ser necessário subir bastante para chegar a ele, a descida seguinte o deixa ao lado do rio, e o fez ser fortemente atingido.
Não houve tempo para andar por toda a Várzea, o bairro é extenso, e o tempo curto. Desci novamente para dar uma olhada na situação do Mercado Municipal, que foi totalmente atingido. Nos minutos seguintes conversei com mais pessoas, e fui andar (e correr também quando eu vi o pouco tempo que me restava) um pouco ao lado do rio para ver a situação das ruas.
Minutos depois estava na rodoviária esperando o ônibus de volta para Taubaté. Nisso, vi um grupo de pessoas uniformizadas conversando próximas a ônibus fretados, e obviamente não podia perder a chance de saber quem eram. Era um grupo de voluntários - alunos, professores, funcionários, parentes destes, etc -, da universidade Mackenzie. Me disseram que havia um projeto na instituição para fazer serviços sociais durante dias, e explicaram que a viagem para São Luiz não estava nestes planos. Haviam feito um "edição especial" do projeto para ajudar a cidade, e foram mais de 100 pessoas ajudando a cidade com diversos serviços. Obviamente, mais contatos para o trabalho.
A volta para casa foi tranquila, depois de horas bem cansativas na cidade. Fico feliz de ter conseguido mais fontes para o trabalho, além de uma vasta documentação fotográfica da atual situação da cidade. A próxima passagem pela cidade está prevista para o dia 13, em que haverá uma audiência pública para discutir ações preventivas e planos de reconstrução para a cidade.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
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Sem palavras... palavras são limitadas para expressar sentimentos ....
ResponderExcluirMas... te desejo toda a força do mundo !!!
Aquela força que só os jovens podem ter (eu acho ).
Deixo aqui meu apoio incondicional !!!
Abraço forte.
Josete
Isso que eu chamo de documentação pra TCC! Faz bem pra alma ver as coisas desse ponto de vista.
ResponderExcluirBeijo irmão.
Muito bom alemão, boa sorte no trabalho !
ResponderExcluirAmo você.
Beijos,
Fernando.
Cara...
ResponderExcluirComplicado essa situação, mas acredite, a esperança é a última que morre e ela ainda impera mesmo estando morta...