sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Poucos dias após meu retorno à casa do Marcelo, é hora de bancar o nômade e pular para outra casa. Fora os dias que passei em São Paulo e na praia, foram quase três semanas na casa dele. Já enchi bastante sua família, e com certeza não terei como agradecer o suficiente por me ajudarem tanto.

Já cheguei ao novo local onde me abrigarei: um seminário. Meu amigo, também estudante de jornalismo, além de padre, Jaime, me ofereceu hospedagem por aqui. Ele, outros padres e estudantes de teologia, futuros padres, vivem aqui. Todos se espantam quando eu falo para onde viria, afinal, é diferente ter um amigo padre que estuda jornalismo, é diferente uma pessoa se hospedar aonde padres vivem, e podem achar curioso um agnóstico aceitar com o maior prazer conviver com padres.

Eu acho que é aí que está a essência da fé. É cansativo ver como até hoje as religiões se confrontam em busca de "ter" a verdade absoluta. Aliás, é triste como são as próprias pessoas que certas vezes fecham seus olhos para a fé, se importando apenas em dizer que sua igreja é que é a verdadeira.

Como sempre, sou grato à minha mãe pela sua maneira estudiosa de ser, que despertou grande curiosidade em mim em relação a, dentre tantas coisas, estudar religiões. E isso tudo sem o ceticismo de afirmar como muitos estudiosos "eu estudo religiões, e não acredito em nada". Ela sempre falou de Deus, sempre falou de fé. Nos últimos anos, principalmente nos meus três anos em São Luiz do Paraitinga, cidade que inspira a vontade de sentar no mato e refletir, a questão "ter fé" passou muito pela minha cabeça.

Nossa mudança para São Luiz foi resultado dos fatores necessidade+vontade. A vida em Sâo Paulo estava cara, dando despesas demais para minha mãe, e ela tinha vontade de morar em um retiro, longe do trânsito, stress, tudo. Acho que foi nessa mudança radical de vida (morar 18 anos em São Paulo e mudar para São Luiz) que comecei a pensar nisso, afinal, mudamos com fé, tendo a esperança de que nossa vida melhoraria.

De fato, melhorou no aspecto de me dar mais oportunidades. Morar em um lugar relaxante, viajando diariamente para estudar e trabalhar, é uma boa maneira de ter paz espiritual. Pode parecer cansativo, mas eu sempre preferi viajar diariamente numa poltrona, vendo lindas paisagens, do que pegar um ônibus em São Paulo, com trânsito, poluição, gente apertada. Até o custo da passagem em Sâo Paulo saía mais caro para mim. É, eu acho que essas viagens intermunicipais eram o sonho de todos os meus amigos que vivem em São Paulo dependendo do transporte público.

Deixar São Paulo saiu caro para mim somente por causa desses amigos, que me fazem falta. Mas não posso reclamar, minha vida mudou demais nos últimos anos, e mesmo com os problemas que surgiram, mudou para melhor.

Agora estou em um seminário, com a possibilidade de sentar na grama e pensar na vida, ter novamente paz espiritual, mesmo que momentânea, pelas responsabilidades e urgências que tenho no momento. Pretendo até assistir ou participar do que fazem por aqui. Quem sabe dar uma xeretada na biblioteca procurando algo que um leigo possa entender. Possivelmente, até assistir a uma missa celebrada pelo Jaime. Faz muitos anos que não assisto a uma, e independente de não seguir a doutrina, sei que me faria bem participar disso com um amigo.

É o que eu falo: fé está muito além do que se diz das religiões. Dela vem a esperança das pessoas, que acreditam, mesmo que sem ver possibilidades, em algo melhor para suas vidas. É muito mais do que se fazer restrições achando que elas é que lhe darão uma vida melhor. É acreditar na possibilidade de se reerguer independente do que aconteça. Tendo fé, lutando com ela, e não dependendo dela, achando que tudo cairá do ceu, é possível ganhar algo novo, ou reconquistar algo que lhe foi tirado. E, acima de tudo, é crer que apesar das divergências das religiões, da visão de cada pessoa sobre quem ou o que é Deus, e sobre como chegar a ele, o respeito é fundamental.

Acho que por isso me faz bem ter um amigo padre, e conviver com ele. Desde o início da faculdade eu falo da minha visão e da minha mãe a ele, e nunca houve qualquer preconceito entre os dois. O máximo que eu fiz foi colocar um fone no ouvido dele enquanto ouvia música pesada, e disse "curte aeee, Santidade".

2 comentários:

  1. Nossa,que postagem interessante,adorei!Sou a dona do blog "Coisas de Laurinha",fiquei contente com sua visita e passei por aqui para dar uma conferida.Sabe,sou evangélica,mas meus amigos geralmente comentam sobre a forma como me porto,porque não gosto de impor nada a ninguém,não prego igreja,prego Jesus,ou,no caso do texto,a fé. Esses dias falei com um amigo sobre estudar diversas religiões,entender um pouco sobre cada uma,até para não dar margem ao preconceito que há na sociedade.Creio que,se há milhares de pessoas que seguem determinada doutrina,é porque há um motivo que vai além da manipulação de massas e isso me traz curiosidade em saber mais. Sempre que possível,passarei por aqui.Até! ;)

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  2. Muito bem, meu camarada.
    Diante de tantos acontecimentos ruins, olhar para trás muitas vezes nos causa dor e tristeza. Mas disso fica a lição de que tudo passa, tudo é muito efêmero. O que permanece mesmo é o conhecimento que a gente adquire e o afeto daqueles que amamos e que também nos amam. E o melhor de tudo é que sabemos que é possível recomeçar sempre e tocar a vida para frente sem medo de ser feliz. Força e coragem sempre. Estamos muito feliz de tê-lo conosco. A casa é sua. Baccio in tuo cuore.

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