domingo, 31 de janeiro de 2010

Alpha

Como até o momento Marcel e Leon fizeram, também resolvi criar um blog pra falar da vida, ou sei lá sobre o quê, não posso especificar muito, já são 5:30 da manhã.

Acredito que esse post de começo de blog será diferente de outras apresentações, principalmente quando falar do momento que estou vivendo.

Acabo de acabar meus dias de folga no estágio, tendo passado pela maravilhosa Prainha Branca, e ficando na casa do Marcel, em São Paulo, nos outros seis dias conseguintes à viagem. Foi bom me sentir em casa. Em todos os sentidos: me sinto em casa na casa do Marcel, com a família dele, que me trata como irmão/filho, e me sinto em casa vendo amigos de infância e outros amigos não tão antigos, dentre outros encontros, sem falar nos maravilhosos e inesperados, na cidade em que vivi até 2006.

Quando saí de São Paulo passei a viver em São Luiz do Paraitinga, cidade famosa, até pouco tempo atrás, pelo carnaval tradicional de marchinhas e pela festa do Divino Espírito Santo. Após a virada de 2009 para 2010, o município ficou conhecido pela enchente que devastou grande parte da cidade, desabrigando milhares de pessoas, e destruindo grande parte do que era o maior acervo de casas tombadas do estado de São Paulo.

Como várias pessoas, perdi tudo de material que tinha em casa, exceto cousa ou outra que minha mãe conseguiu salvar, como o Wilbur, o meu contra-baixo, e um vinho do porto preconceituoso que não quis se misturar com a água suja e a lama. Eu não estava lá na hora, minha mãe e meus gatos é que estavam, e minha mãe detalhou bem como foi o momento em seu blog, www.diariosdoretiro.blogspot.com, que aliás motivou a mim e meus amigos a criarmos nossos blogs. Mãe antenada é outra coisa.

Como ela afirma no blog, nossa situação é ótima. Eu ainda não tenho onde morar em Taubaté, e estou sendo hospedado na residência de amigos, e ela está na casa de uma grande amiga dela em São Paulo. Meus cinco gatos também estão lá, e somando-os aos outros dois gatos da Ana Maria, imagina-se a farra que fazem em um apartamento.

Minhas férias do estágio já terminaram, e essa minha semana de folga se deve à semana a mais que trabalhei no ano passado. Aos poucos tento me adaptar a essa nova vida, sem ver minha mãe e meus gatos diariamente, o que me faz uma enorme falta.

Falta pouco, acredito, para achar um local para morar, pelo menos, até concluir a faculdade. Em 2010, minha preocupação também será com o meu trabalho de conclusão de curso, que focará as medidas tomadas durante alguns meses para a reconstrução de São Luiz do Paraitinga. Obviamente, a decisão pelo tema foi repentina, mas, mais do que por ser um bom tema, sinto uma enorme necessidade de falar disso também por fazer parte do que aconteceu. Quando vemos algo na televisão é de uma maneira. Quando um amigo é que passa por uma situação, é diferente. Quando é você que passa pelo ocorrido, você não quer deixar passar em branco. Ou quer, não sei. Eu, pelo menos, com minha eterna vontade de falar das coisas que acontecem em minha vida, não quero deixar.

Acho importante dar atenção às medidas, mas por diversos olhares. Falarei das ações governamentais, das voluntárias, e das ações dos próprios moradores da cidade. Com os últimos, chego a sentir um friozinho na barriga quando penso nas perguntas que farei a eles. Como tratar alguém que acaba de perder tudo? Eu posso chegar e dizer "eu sei o que você está sentindo, eu também perdi tudo", mas seria idiota fazendo essa afirmação. Eu perdi tudo o que havia em casa, mas o que cada pessoa sente nesse momento é único.

Além disso, falar que perdeu tudo não é sinônimo de "estamos no mesmo barco". Eu perdi tudo, mas não me faltou nada em momento algum desde a enchente. Tenho amigos de fora, e minha mãe também, então facilmente saímos da cidade, e aos poucos reestabeleceremos nossas vidas. Mas e quem sempre viveu lá, e perdeu casa, comércio, e não tem para onde ir? Como dizer que estou no mesmo barco que eles? Os que tiveram suas casas condenadas, e não tem condições de ir para outro lugar, por exemplo, dependem das ações externas, e são as que realmente precisam de ajuda.

Eu recebi muito apoio pelo ocorrido, mas sempre fiz questão de falar o mesmo que minha mãe: somos flagelados de luxo. Sei que logo eu me adaptarei a uma nova vida, mas espero sinceramente que o ocorrido em São Luiz não caia no esquecimento, pois é o que costuma acontecer nos meses seguintes a uma tragédia. As doações caem, os voluntários desaparecem, e os munícipes carecem. Claro, sem egoísmo, espero que todas as cidade que têm passado por dificuldades (não são poucas, por sinal), consigam o merecido apoio, e que São Luiz não fique recebendo destaque por ser um município tombado.

Misturando o assunto do meu trabalho de conclusão de curso e o ocorrido em minha vida, agradeço a todos os meus amigos que se manifestaram preocupados comigo. Logo mais criarei outro blog para falar do andamento do meu trabalho, que me acompanhará o ano todo.

Depois desse ano, é incerto o que farei. São várias cogitações, dentre elas voltar a morar em São Paulo. Mas, como a enchente me mostrou, agora sou um rapazinho cheio de responsabilidades, e deverei ir aonde o mercado estiver melhor para mim.

Como de costume, escrevi muito. E agora escreverei à mão um recado agradecendo a hospedagem aqui. É hora de partir, encontrar minha mãe e os gatos novamente, por um curtíssimo período, e voltar à Taubaté para trabalhar.

É estranho pensar que de um dia para o outro eu não tenho a minha antiga casa para voltar, mas seria tolice parar no tempo e prender essa perda na minha cabeça. Como minha mãe escreveu no seu blog, "de repente a vida pode mostrar um novo caminho inesperado, onde antes não havia rumo". Grande mamãe.