Fazia tempos que eu não acordava ao som de uma chuva tão forte, e foi o que aconteceu hoje pouco depois das 6 da manhã. No entanto, mesmo gostando de chuva, dessa vez foi torturoso ouvi-la.
Hoje eu tive o sonho mais real da minha vida, e foi desagradável. Apesar de não estar presente no momento, eu sonhei com a enchente de São Luiz em uma versão contrária ao que aconteceu comigo e minha mãe. Desta vez eu é que estava em casa, e ela não. Foi estranho sonhar que estava lá, e sentir momentaneamente um pouco do que ela sentiu. No sonho, diferente do que minha mãe fez, eu não havia conseguido achar um local seguro para os meus gatos.
Isso me fez ficar mais desesperado ainda e acordar assustado, na hora em que os seminaristas oravam na capelinha ao lado do quarto. Me espantei ao ouvir a forte chuva que caía, e imaginei se ela fora a culpada por eu sonhar com o ocorrido. De qualquer maneira, minutos depois, e com o coração já desacelerado, voltei a dormir. Voltei para o mesmo sonho. Acordei poucos minutos depois. Desisti de dormir.
Faltava pouco para chegar a hora de levantar, e aproveitei para fazê-lo. Estava preparado para uma longa caminhada até a Câmara Municipal, aonde teoricamente me encontraria com o grupo do projeto, pois o Jaime tinha um compromisso mais cedo e não poderia me levar.
Já de saída, encontrei com ele. Ele sairia mais tarde, no mesmo horário que eu. Aproveitei a carona, e esperei um bom tempo na Câmara, ansiosamente.
Infelizmente houve um desentendimento na comunicação entre Câmara, Unitau, e membros do projeto, e entenderam no final das contas que eu não poderia ir hoje. Foram sem mim de carro, e eu fui de ônibus.
Cheguei um pouco tarde, a reunião obviamente já acabara, e todos já estavam a trabalho. Conversei com o editor-chefe, Luiz Egypto, e fizemos alguns acertos para a minha pauta. Pouco tempo depois estava retornando à Taubaté, para trabalhar hoje e poder me ausentar amanhã.
Amanhã o carro sairá às 9:30 de Taubaté com os membros do jornal, e, contando com possíveis atrasos, a equipe deve chegar às 10:30. Como não iniciei minha produção hoje, pretendo ir mais cedo do que eles, de ônibus, pretendendo chegar às 8 da manhã na cidade. Se for voltar para Taubaté no mesmo dia, terei até as 21 horas para encerrar minha produção na cidade naquele dia. Acredito que será tempo suficiente para trabalhar boa parte da matéria. É um tema amplo: as condições da zona rural da cidade.
Obviamente o dia foi um tanto quanto estressante, pois caminhei aproximadamente uma hora em uma velocidade acelerada, tudo para conseguir chegar ao ponto de ônibus à tempo de ir para São Luiz, e depois para chegar a tempo no estágio. Tudo isso depois de ter acordado de maneira desagradável, e um plano falhar parcialmente. Sempre acompanhado pela chuva.
Mas não importa, eu imaginei alguma turbulência na primeira semana, e tenho mais algumas previsões para o final de semana, pois tenho compromissos urgentes pendentes.
Os problemas são nada, se comparados à oportunidade de crescimento que estou tendo esse ano.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Corra, News, corra!
Pela primeira vez na vida eu estou sentindo de verdade o que é ter cada vez menos tempo livre.
A faculdade voltou de vez, com dois dias de aula semanais, mais o dia de orientação do trabalho de conclusão de curso.
O estágio continua diariamente à tarde, exceto às sextas-feiras temporariamente, aparentemente.
E agora, após conversas entre responsáveis pelo projeto do jornal quinzenal de São Luiz do Paraitinga e o presidente da Câmara de Taubaté, começarei a ir às sextas-feiras para a cidade trabalhar nas matérias e, muito provavelmente, ficarei por lá nos finais de semana.
Cogitava-se a intenção de eu passar mais dias em São Luiz. Para não prejudicar a Câmara e poder compensar as quatro horas de trabalho durante os outros dias de estágio na semana, expliquei a todos que seria melhor eu ficar na cidade apenas a partir de sexta-feira.
O presidente da Câmara aceitou, o meu chefe apoiou. Não sei da reação dos outros ainda, ficarei sabendo amanhã.
Creio que passar cerca de três dias por lá semanalmente seja mais do que suficiente para fazer entrevistas, fotografar e visar novas pautas para a edição seguinte do periódico que, até onde sei, levará o nome de 'Reconstrução de São Luiz do Paraitinga'.
A parte da escrita será feita em qualquer lugar, seja São Luiz ou Taubaté. Na falta de um computador, haverá um lápis e papel à disposição. Essa questão me dá mais segurança ao falar de passar três dias na cidade. Não vejo razão para passar mais.
Amanhã, excepcionalmente, irei para lá. Na primeira reunião, realizada na semana passada, pensamos em pautas suficientes para a primeira edição do jornal. Irei com os dois outros estagiários de jornalismo que participarão do projeto, e na impossibilidade de presença da professora Angela, ela disse ser fundamental minha ida, para que eu pudesse colocar os companheiros à par do que já foi discutido.
Aos poucos estou me sentindo mais jornalista. Participar de reuniões de pauta, sair com mais frequência às ruas - lugar em que o jornalista sempre deve estar - para realizar entrevistas, ouvir pessoas contando suas histórias, publicá-las, e, acima de tudo, entender a relevância social do seu trabalho e como ele poderá ajudar a população, não tem preço.
Com relação ao meu trabalho de conclusão de curso, também estou bastante empolgado. Cada vez que converso com o meu professor orientador, Robson Bastos, vejo como ele também se empolga com o assunto. Ele me faz querer voar longe. Não, não, isso não é poesia. É no sentido literal mesmo.
Eu tive a ideia de inserir fotografias panorâmicas da cidade, e apontar os locais em que minhas fontes vivem/trabalham. Como pretendo usar fotografias de outros fotógrafos além das minhas, pensei em pedir que alguém liberasse o uso das imagens panorâmicas da cidade enquanto alagada. Robson me sugeriu que tentasse conseguir um voo de helicóptero para fotografar a cidade e possuir fotos panorâmicas que mostrassem a cidade em obras, afinal, a ideia não é congelar o trabalho na enchente, e sim nas ações realizadas posteriormente.
Eu achei a ideia excelente, e engraçada por parecer impossível. Antes que eu pudesse questionar a possibilidade de isso acontecer ele me passou alguns contatos que, possivelmente, poderão me levar para o alto. A Unitau e o Cavex (Centro de Aviação do Exército) de Taubaté possuem um bom relacionamento, e se considerarem o meu trabalho relevante, poderei conseguir minhas fotos (e participar de uma aventura).
O meu tempo livre está ficando cada vez mais escasso, mas a empolgação, ahh, a empolgação... essa não para de crescer.
A faculdade voltou de vez, com dois dias de aula semanais, mais o dia de orientação do trabalho de conclusão de curso.
O estágio continua diariamente à tarde, exceto às sextas-feiras temporariamente, aparentemente.
E agora, após conversas entre responsáveis pelo projeto do jornal quinzenal de São Luiz do Paraitinga e o presidente da Câmara de Taubaté, começarei a ir às sextas-feiras para a cidade trabalhar nas matérias e, muito provavelmente, ficarei por lá nos finais de semana.
Cogitava-se a intenção de eu passar mais dias em São Luiz. Para não prejudicar a Câmara e poder compensar as quatro horas de trabalho durante os outros dias de estágio na semana, expliquei a todos que seria melhor eu ficar na cidade apenas a partir de sexta-feira.
O presidente da Câmara aceitou, o meu chefe apoiou. Não sei da reação dos outros ainda, ficarei sabendo amanhã.
Creio que passar cerca de três dias por lá semanalmente seja mais do que suficiente para fazer entrevistas, fotografar e visar novas pautas para a edição seguinte do periódico que, até onde sei, levará o nome de 'Reconstrução de São Luiz do Paraitinga'.
A parte da escrita será feita em qualquer lugar, seja São Luiz ou Taubaté. Na falta de um computador, haverá um lápis e papel à disposição. Essa questão me dá mais segurança ao falar de passar três dias na cidade. Não vejo razão para passar mais.
Amanhã, excepcionalmente, irei para lá. Na primeira reunião, realizada na semana passada, pensamos em pautas suficientes para a primeira edição do jornal. Irei com os dois outros estagiários de jornalismo que participarão do projeto, e na impossibilidade de presença da professora Angela, ela disse ser fundamental minha ida, para que eu pudesse colocar os companheiros à par do que já foi discutido.
Aos poucos estou me sentindo mais jornalista. Participar de reuniões de pauta, sair com mais frequência às ruas - lugar em que o jornalista sempre deve estar - para realizar entrevistas, ouvir pessoas contando suas histórias, publicá-las, e, acima de tudo, entender a relevância social do seu trabalho e como ele poderá ajudar a população, não tem preço.
Com relação ao meu trabalho de conclusão de curso, também estou bastante empolgado. Cada vez que converso com o meu professor orientador, Robson Bastos, vejo como ele também se empolga com o assunto. Ele me faz querer voar longe. Não, não, isso não é poesia. É no sentido literal mesmo.
Eu tive a ideia de inserir fotografias panorâmicas da cidade, e apontar os locais em que minhas fontes vivem/trabalham. Como pretendo usar fotografias de outros fotógrafos além das minhas, pensei em pedir que alguém liberasse o uso das imagens panorâmicas da cidade enquanto alagada. Robson me sugeriu que tentasse conseguir um voo de helicóptero para fotografar a cidade e possuir fotos panorâmicas que mostrassem a cidade em obras, afinal, a ideia não é congelar o trabalho na enchente, e sim nas ações realizadas posteriormente.
Eu achei a ideia excelente, e engraçada por parecer impossível. Antes que eu pudesse questionar a possibilidade de isso acontecer ele me passou alguns contatos que, possivelmente, poderão me levar para o alto. A Unitau e o Cavex (Centro de Aviação do Exército) de Taubaté possuem um bom relacionamento, e se considerarem o meu trabalho relevante, poderei conseguir minhas fotos (e participar de uma aventura).
O meu tempo livre está ficando cada vez mais escasso, mas a empolgação, ahh, a empolgação... essa não para de crescer.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Reconstruindo
Tenho ido bastante à São Luiz. Participei de uma reunião hoje, discutindo um projeto de elaboração de um pequeno jornal quinzenal no município que falará de tudo o que está acontecendo na cidade. Logo em seguida, acompanhei o final de uma reunião de especialistas de diversas áreas que estão planejando a reconstrução do município. A reunião me rendeu alguns ganchos para meu trabalho de conclusão de curso, e consegui, inclusive, conversar com a prefeita.
Aproveitando o assunto, deixo aqui o endereço do meu novo blog, que será destinado a relatar o dia-a-dia na produção do meu trabalho de conclusão de curso. O endereço não é definitivo, mas é fácil de se decorar, e talvez fique assim mesmo.
www.slp-2010.blogspot.com
Apesar dos apesares, as coisas estão dando certo para mim, principalmente neste trabalho. E eu quero que assim seja até a criação do produto final, para que o município receba uma contribuição documental decente feita por mim.
Continuo contente vendo a solidariedade dos outros com o município. No entanto, chegou o momento em que parte dessa solidariedade está atrapalhando! A prefeita Ana Lucia já publicou há algum tempo no site do município um comunicado oficial pedindo a suspensão da doação de roupas e alimentos. Estes não param de chegar.
Hoje, na reunião, ela afirmou que as doações continuam chegando independente do comunicado, e citou um dos exemplos que, infelizmente, atrapalham. "Um caminhão veio ontem do Rio de Janeiro lotado de roupas, independente do meu pedido de suspensão de doações. E eles nem avisaram que viriam! Não havia como negar a doação, mas já estamos lotados, e o excesso de roupas está atrapalhando. O ginásio está lotado, as crianças não podem jogar mais bola lá, e é trabalhoso fazer a triagem do que é doado, de tanta coisa que temos estocada. Precisamos despachar isso, as pessoas não precisam mais de roupas. Cogitamos até doar essas roupas para o Haiti, mas não há interesse nisso, pois afirmaram que o custo do transporte seria alto."
E não faz poucos dias que esse comunicado foi publicado. Eu vou espalhar a informação pelas comunidades do orkut afirmando que não há mais a necessidade de se doar roupas, e sim utensílios domésticos. Como dito no site da prefeitura, as pessoas estão começando a retornar a suas residências, e precisam ao menos do básico para poderem viver, na medida do possível, por conta própria.
Segue os endereços do comunicado, e do pedido dos itens de que a população carece no momento.
http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/mensagem_imprensa.pdf
http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/doacao.htm
Aconselho uma xeretada pelo site, e para quem puder, que faça doações para o município, mas que sejam as doações que realmente ajudarão.
A reunião de hoje discutiu diversos pontos, e houve inclusive a apresentação de um rascunho de projeto que prevê até um teleférico na cidade. Eu entendo que a cidade não será mais o patrimônio histórico de antes, por mais que os casarões sejam replicados, mas não sei se o município precisa virar um parque de diversões para reviver.
Havia extensas pontes, dentre outras coisas que se vê em cidades grandes. Parecia que uma das pontes passaria por cima do bairro em que eu vivi, Verde Perto. Para mim, isso já desqualifica a ideia. Uma ponte que passará por cima de casas? Se houver algum problema com a ponte, a casa será prejudicada. Uma ponte que passará por cima das casas não permitirá que o sol continue batendo nas residências. Algumas delas serão regadas de sombra o dia inteiro. Apesar do calor que passamos atualmente, acho que não é válido fazer uma casa ficar na sombra o dia inteiro, inclusive pelo fato de isso prejudicar o que há no interior.
De qualquer maneira, ideias são sempre bem-vindas. Deixemos que os especialistas deem suas ideias, independente das utopias que vez ou outra aparecerão. Enquanto isso nós, meros mortais, continuamos tentando ajudar a cidade como podemos.
Aproveitando o assunto, deixo aqui o endereço do meu novo blog, que será destinado a relatar o dia-a-dia na produção do meu trabalho de conclusão de curso. O endereço não é definitivo, mas é fácil de se decorar, e talvez fique assim mesmo.
www.slp-2010.blogspot.com
Apesar dos apesares, as coisas estão dando certo para mim, principalmente neste trabalho. E eu quero que assim seja até a criação do produto final, para que o município receba uma contribuição documental decente feita por mim.
Continuo contente vendo a solidariedade dos outros com o município. No entanto, chegou o momento em que parte dessa solidariedade está atrapalhando! A prefeita Ana Lucia já publicou há algum tempo no site do município um comunicado oficial pedindo a suspensão da doação de roupas e alimentos. Estes não param de chegar.
Hoje, na reunião, ela afirmou que as doações continuam chegando independente do comunicado, e citou um dos exemplos que, infelizmente, atrapalham. "Um caminhão veio ontem do Rio de Janeiro lotado de roupas, independente do meu pedido de suspensão de doações. E eles nem avisaram que viriam! Não havia como negar a doação, mas já estamos lotados, e o excesso de roupas está atrapalhando. O ginásio está lotado, as crianças não podem jogar mais bola lá, e é trabalhoso fazer a triagem do que é doado, de tanta coisa que temos estocada. Precisamos despachar isso, as pessoas não precisam mais de roupas. Cogitamos até doar essas roupas para o Haiti, mas não há interesse nisso, pois afirmaram que o custo do transporte seria alto."
E não faz poucos dias que esse comunicado foi publicado. Eu vou espalhar a informação pelas comunidades do orkut afirmando que não há mais a necessidade de se doar roupas, e sim utensílios domésticos. Como dito no site da prefeitura, as pessoas estão começando a retornar a suas residências, e precisam ao menos do básico para poderem viver, na medida do possível, por conta própria.
Segue os endereços do comunicado, e do pedido dos itens de que a população carece no momento.
http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/mensagem_imprensa.pdf
http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/doacao.htm
Aconselho uma xeretada pelo site, e para quem puder, que faça doações para o município, mas que sejam as doações que realmente ajudarão.
A reunião de hoje discutiu diversos pontos, e houve inclusive a apresentação de um rascunho de projeto que prevê até um teleférico na cidade. Eu entendo que a cidade não será mais o patrimônio histórico de antes, por mais que os casarões sejam replicados, mas não sei se o município precisa virar um parque de diversões para reviver.
Havia extensas pontes, dentre outras coisas que se vê em cidades grandes. Parecia que uma das pontes passaria por cima do bairro em que eu vivi, Verde Perto. Para mim, isso já desqualifica a ideia. Uma ponte que passará por cima de casas? Se houver algum problema com a ponte, a casa será prejudicada. Uma ponte que passará por cima das casas não permitirá que o sol continue batendo nas residências. Algumas delas serão regadas de sombra o dia inteiro. Apesar do calor que passamos atualmente, acho que não é válido fazer uma casa ficar na sombra o dia inteiro, inclusive pelo fato de isso prejudicar o que há no interior.
De qualquer maneira, ideias são sempre bem-vindas. Deixemos que os especialistas deem suas ideias, independente das utopias que vez ou outra aparecerão. Enquanto isso nós, meros mortais, continuamos tentando ajudar a cidade como podemos.
Ô ô Barbosa
Carnaval estranho. Diferente dos três últimos anos, em que meus carnavais foram completamente situados em Sâo Luiz do Paraitinga, fui algo do tipo folião nômade. Passei dois dias em São Bento do Sapucaí, cidade que tem um pezinho em Minas Gerais, e um dia em Ubatuba, não longe daqui.
Me diverti em São Bento, mas independente dos problemas que o carnaval luizense estava tendo nos últimos anos - excesso de pessoas, sujeira, falta de respeito -, o carnaval da cidade quase mineira não me entreteu quase nada próximo do que eu me divertia pulando como maluco nos blocos de São Luiz, e, como de costume desde o meu primeiro ano lá, principalmente no bloco do Barbosa.
O carnaval luizense desse ano teve muitos lados.
Para mim, que esperava por exemplo ver meus amigos vindo de outros lugares para São Luiz, me dei mal. Planejei ir a São Paulo vê-los, e também não deu certo. Felizmente consegui me divertir com meus amigos daqui, mas faz uma falta tremenda não encontrar os irmãos paulistanos.
Para os luizenses que estavam cansados de ver mais de 180 mil pessoas na cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, o carnaval foi interessante. Os blocos saíram em diversos lugares, em diversos horários. Não era nada exatamente programado, e muito menos divulgado. Eles sentiam falta disso. São os que veem o carnaval como uma festa da cidade apenas. Uma festa tradicional não comercial.
Para os que ganhavam consideravelmente bem no carnaval e usavam todo esse dinheiro para pagar suas contas no resto do ano, valia o sacrifício de aguentar tanta gente. Principalmente para os que haviam estocado produtos para vender na festa, a ausência das milhares de pessoas custou caro.
Apesar do saudosismo, da renda, dos prejuízos, da diversão, e dos planos que deram ou não certo, esse carnaval teve um sentido muito maior do que todos esses fatores: a união dos luizenses.
Mais do que sair pulando em um bloco acompanhando a letra de determinada marchinha, que se repete por minutos e minutos, mais do que sair tocando uma corneta desafinada tentando acompanhar o bloco, e mais do que se divertir bêbado fazendo qualquer coisa durante a festividade, os moradores de lá precisavam gritar, de uma vez por todas, que estão lá, juntos, lutando para a reconstrução da cidade, de suas vidas.
Mais do que uma marchinha, isso foi praticamente um grito de guerra, do tipo que os grupos fazem antes de, por exemplo, participarem de uma disputa. A disputa dos luizenses é mais séria do que de costume. Não é contra um grupo de iguais, e sim contra algo bem maior. Nada melhor do que mostrarem-se unidos, dando a todos a certeza de que, juntos, eles serão maiores do que as dificuldades.
Me diverti em São Bento, mas independente dos problemas que o carnaval luizense estava tendo nos últimos anos - excesso de pessoas, sujeira, falta de respeito -, o carnaval da cidade quase mineira não me entreteu quase nada próximo do que eu me divertia pulando como maluco nos blocos de São Luiz, e, como de costume desde o meu primeiro ano lá, principalmente no bloco do Barbosa.
O carnaval luizense desse ano teve muitos lados.
Para mim, que esperava por exemplo ver meus amigos vindo de outros lugares para São Luiz, me dei mal. Planejei ir a São Paulo vê-los, e também não deu certo. Felizmente consegui me divertir com meus amigos daqui, mas faz uma falta tremenda não encontrar os irmãos paulistanos.
Para os luizenses que estavam cansados de ver mais de 180 mil pessoas na cidade de pouco mais de 10 mil habitantes, o carnaval foi interessante. Os blocos saíram em diversos lugares, em diversos horários. Não era nada exatamente programado, e muito menos divulgado. Eles sentiam falta disso. São os que veem o carnaval como uma festa da cidade apenas. Uma festa tradicional não comercial.
Para os que ganhavam consideravelmente bem no carnaval e usavam todo esse dinheiro para pagar suas contas no resto do ano, valia o sacrifício de aguentar tanta gente. Principalmente para os que haviam estocado produtos para vender na festa, a ausência das milhares de pessoas custou caro.
Apesar do saudosismo, da renda, dos prejuízos, da diversão, e dos planos que deram ou não certo, esse carnaval teve um sentido muito maior do que todos esses fatores: a união dos luizenses.
Mais do que sair pulando em um bloco acompanhando a letra de determinada marchinha, que se repete por minutos e minutos, mais do que sair tocando uma corneta desafinada tentando acompanhar o bloco, e mais do que se divertir bêbado fazendo qualquer coisa durante a festividade, os moradores de lá precisavam gritar, de uma vez por todas, que estão lá, juntos, lutando para a reconstrução da cidade, de suas vidas.
Mais do que uma marchinha, isso foi praticamente um grito de guerra, do tipo que os grupos fazem antes de, por exemplo, participarem de uma disputa. A disputa dos luizenses é mais séria do que de costume. Não é contra um grupo de iguais, e sim contra algo bem maior. Nada melhor do que mostrarem-se unidos, dando a todos a certeza de que, juntos, eles serão maiores do que as dificuldades.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Ruínas
Foi estranho passar algumas horas em São Luiz do Paraitinga hoje. Tive poucas horas para andar pela cidade toda, fotografar, conversar com as pessoas, de quebra arranjar fontes para o trabalho de conclusão de curso, e me adaptar com a cidade mais limpa do que antes, porém ainda em ruínas.
No ginásio poliesportivo da cidade conversei um pouco com quem trabalhava ali - gente da defesa civil, prefeitura, e voluntários -, e fiquei satisfeito de ver tantas doações. Para mim, pode-se acreditar pouco nas pessoas, mas ninguém pode negar que a solidariedade ainda existe. Um veículo escolar cheio de doações chegou logo depois do ônibus no qual eu fui para a cidade, e foi engraçado ver as pessoas descarregando o veículo às risadas, com o maior bom humor, mesmo com o calor excessivo que fazia na cidade.
Depois foi vez de andar pelo bairro no qual eu vivi. As calçadas, que por ora ficaram cheias de móveis, já estavam vazias. A caminhada até o final do bairro foi tranquila, sem muitas paradas por coisas que me chamaram a atenção. No entanto, chegando à frente da casa em que vivi, obviamente parei. Me aproximei do portão, que estava trancado com uma corrente, e me preparava para dar a meia volta e olhar o final da rua. Antes de me virar, olhei para o final do corredor de casa, e me surpreendi ao ver duas flores rosas vivas. Tentei fotografar, não deu muito certo com a câmera que estava comigo, e parti.
Indo para o final da rua ver a condição das calçadas, que estão desabando aos poucos, comecei a pensar no que poderia significar flores vivas no quintal de uma casa abandonada, com as paredes sujas. No meio daquela cor morta, flores vivas. Deu tempo apenas de pensar "esperança?", até que começasse a chorar enquanto andava.
Entre passos e prantos continuei fotografando a calçada, que chegava a dar medo de tão destruída. Fiz o caminho de volta, e me dirigi para o centro, mas não pela ponte reinaugurada há pouco. Segui reto, para utilizar uma segunda entrada para o centro. Mais uma vez me espantei ao ver a razão de a rua estar interditada: havia um trecho em que a rua estava afundando, e próximo a ela havia partes de uma calçada destruída.
Chegando ao trecho que me levaria ao centro, esperava ver uma escola um pouco quebrada no meio do caminho. Me assustei ao ver que o grande muro que fechava a escola não estava mais ali. Desapareceu. Sem conter a curiosidade, entrei na escola, olhei as salas, e tudo o que estava destruído e destelhado.
Seguindo em frente, fiquei perdido no centro. Por mais que a cidade estivesse muito mais limpa do que semanas atrás, era chocante ver tantas casas desmoronadas. Cheguei a tomar liberdade para entrar no antigo espaço de uma casa. O cheiro de comida estragada que senti semanas atrás onde eu morava voltou com tudo. Menos pior, porque a casa estava vazia, mas bastante enjoativo.
Segui em frente, com várias paradas para fotografar o que restou das casas. As casas que desabaram, geralmente, não permitiam nem uma aproximação maior, muito menos entrar como fiz na primeira. Isso me fez começar a pensar em como será entrevistar as pessoas que perderam as casas, e diariamente passam em frente às ruínas. Alguns minutos depois passei em frente à casa em que meu amigo luthier e músico Silvio trabalhava. Ele, com cerveja na mão, me respondia diversas perguntas, e, quando perguntado se sua casa havia sido atingida, respondeu humoradamente que "na Várzea dos Passarinhos sua casa fora uma das únicas em que a água subiu apenas 6 metros... só passou do teto".
Silvio sempre ajudou a mim e meus amigos de banda a conseguirmos um espaço musical na cidade. Dessa vez ele ajudou aceitando ser fonte do trabalho, e oferecendo abrigo em caso de necessidade nos dias em que irei à cidade. Ele também sugeriu que eu fosse olhar a situação do bairro Várzea dos Passarinhos, explicando como estava o local. O tempo era curto, o sol estava forte, e fui rapidamente ao bairro, que apesar de ser necessário subir bastante para chegar a ele, a descida seguinte o deixa ao lado do rio, e o fez ser fortemente atingido.
Não houve tempo para andar por toda a Várzea, o bairro é extenso, e o tempo curto. Desci novamente para dar uma olhada na situação do Mercado Municipal, que foi totalmente atingido. Nos minutos seguintes conversei com mais pessoas, e fui andar (e correr também quando eu vi o pouco tempo que me restava) um pouco ao lado do rio para ver a situação das ruas.
Minutos depois estava na rodoviária esperando o ônibus de volta para Taubaté. Nisso, vi um grupo de pessoas uniformizadas conversando próximas a ônibus fretados, e obviamente não podia perder a chance de saber quem eram. Era um grupo de voluntários - alunos, professores, funcionários, parentes destes, etc -, da universidade Mackenzie. Me disseram que havia um projeto na instituição para fazer serviços sociais durante dias, e explicaram que a viagem para São Luiz não estava nestes planos. Haviam feito um "edição especial" do projeto para ajudar a cidade, e foram mais de 100 pessoas ajudando a cidade com diversos serviços. Obviamente, mais contatos para o trabalho.
A volta para casa foi tranquila, depois de horas bem cansativas na cidade. Fico feliz de ter conseguido mais fontes para o trabalho, além de uma vasta documentação fotográfica da atual situação da cidade. A próxima passagem pela cidade está prevista para o dia 13, em que haverá uma audiência pública para discutir ações preventivas e planos de reconstrução para a cidade.
No ginásio poliesportivo da cidade conversei um pouco com quem trabalhava ali - gente da defesa civil, prefeitura, e voluntários -, e fiquei satisfeito de ver tantas doações. Para mim, pode-se acreditar pouco nas pessoas, mas ninguém pode negar que a solidariedade ainda existe. Um veículo escolar cheio de doações chegou logo depois do ônibus no qual eu fui para a cidade, e foi engraçado ver as pessoas descarregando o veículo às risadas, com o maior bom humor, mesmo com o calor excessivo que fazia na cidade.
Depois foi vez de andar pelo bairro no qual eu vivi. As calçadas, que por ora ficaram cheias de móveis, já estavam vazias. A caminhada até o final do bairro foi tranquila, sem muitas paradas por coisas que me chamaram a atenção. No entanto, chegando à frente da casa em que vivi, obviamente parei. Me aproximei do portão, que estava trancado com uma corrente, e me preparava para dar a meia volta e olhar o final da rua. Antes de me virar, olhei para o final do corredor de casa, e me surpreendi ao ver duas flores rosas vivas. Tentei fotografar, não deu muito certo com a câmera que estava comigo, e parti.
Indo para o final da rua ver a condição das calçadas, que estão desabando aos poucos, comecei a pensar no que poderia significar flores vivas no quintal de uma casa abandonada, com as paredes sujas. No meio daquela cor morta, flores vivas. Deu tempo apenas de pensar "esperança?", até que começasse a chorar enquanto andava.
Entre passos e prantos continuei fotografando a calçada, que chegava a dar medo de tão destruída. Fiz o caminho de volta, e me dirigi para o centro, mas não pela ponte reinaugurada há pouco. Segui reto, para utilizar uma segunda entrada para o centro. Mais uma vez me espantei ao ver a razão de a rua estar interditada: havia um trecho em que a rua estava afundando, e próximo a ela havia partes de uma calçada destruída.
Chegando ao trecho que me levaria ao centro, esperava ver uma escola um pouco quebrada no meio do caminho. Me assustei ao ver que o grande muro que fechava a escola não estava mais ali. Desapareceu. Sem conter a curiosidade, entrei na escola, olhei as salas, e tudo o que estava destruído e destelhado.
Seguindo em frente, fiquei perdido no centro. Por mais que a cidade estivesse muito mais limpa do que semanas atrás, era chocante ver tantas casas desmoronadas. Cheguei a tomar liberdade para entrar no antigo espaço de uma casa. O cheiro de comida estragada que senti semanas atrás onde eu morava voltou com tudo. Menos pior, porque a casa estava vazia, mas bastante enjoativo.
Segui em frente, com várias paradas para fotografar o que restou das casas. As casas que desabaram, geralmente, não permitiam nem uma aproximação maior, muito menos entrar como fiz na primeira. Isso me fez começar a pensar em como será entrevistar as pessoas que perderam as casas, e diariamente passam em frente às ruínas. Alguns minutos depois passei em frente à casa em que meu amigo luthier e músico Silvio trabalhava. Ele, com cerveja na mão, me respondia diversas perguntas, e, quando perguntado se sua casa havia sido atingida, respondeu humoradamente que "na Várzea dos Passarinhos sua casa fora uma das únicas em que a água subiu apenas 6 metros... só passou do teto".
Silvio sempre ajudou a mim e meus amigos de banda a conseguirmos um espaço musical na cidade. Dessa vez ele ajudou aceitando ser fonte do trabalho, e oferecendo abrigo em caso de necessidade nos dias em que irei à cidade. Ele também sugeriu que eu fosse olhar a situação do bairro Várzea dos Passarinhos, explicando como estava o local. O tempo era curto, o sol estava forte, e fui rapidamente ao bairro, que apesar de ser necessário subir bastante para chegar a ele, a descida seguinte o deixa ao lado do rio, e o fez ser fortemente atingido.
Não houve tempo para andar por toda a Várzea, o bairro é extenso, e o tempo curto. Desci novamente para dar uma olhada na situação do Mercado Municipal, que foi totalmente atingido. Nos minutos seguintes conversei com mais pessoas, e fui andar (e correr também quando eu vi o pouco tempo que me restava) um pouco ao lado do rio para ver a situação das ruas.
Minutos depois estava na rodoviária esperando o ônibus de volta para Taubaté. Nisso, vi um grupo de pessoas uniformizadas conversando próximas a ônibus fretados, e obviamente não podia perder a chance de saber quem eram. Era um grupo de voluntários - alunos, professores, funcionários, parentes destes, etc -, da universidade Mackenzie. Me disseram que havia um projeto na instituição para fazer serviços sociais durante dias, e explicaram que a viagem para São Luiz não estava nestes planos. Haviam feito um "edição especial" do projeto para ajudar a cidade, e foram mais de 100 pessoas ajudando a cidade com diversos serviços. Obviamente, mais contatos para o trabalho.
A volta para casa foi tranquila, depois de horas bem cansativas na cidade. Fico feliz de ter conseguido mais fontes para o trabalho, além de uma vasta documentação fotográfica da atual situação da cidade. A próxima passagem pela cidade está prevista para o dia 13, em que haverá uma audiência pública para discutir ações preventivas e planos de reconstrução para a cidade.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Fé
Poucos dias após meu retorno à casa do Marcelo, é hora de bancar o nômade e pular para outra casa. Fora os dias que passei em São Paulo e na praia, foram quase três semanas na casa dele. Já enchi bastante sua família, e com certeza não terei como agradecer o suficiente por me ajudarem tanto.
Já cheguei ao novo local onde me abrigarei: um seminário. Meu amigo, também estudante de jornalismo, além de padre, Jaime, me ofereceu hospedagem por aqui. Ele, outros padres e estudantes de teologia, futuros padres, vivem aqui. Todos se espantam quando eu falo para onde viria, afinal, é diferente ter um amigo padre que estuda jornalismo, é diferente uma pessoa se hospedar aonde padres vivem, e podem achar curioso um agnóstico aceitar com o maior prazer conviver com padres.
Eu acho que é aí que está a essência da fé. É cansativo ver como até hoje as religiões se confrontam em busca de "ter" a verdade absoluta. Aliás, é triste como são as próprias pessoas que certas vezes fecham seus olhos para a fé, se importando apenas em dizer que sua igreja é que é a verdadeira.
Como sempre, sou grato à minha mãe pela sua maneira estudiosa de ser, que despertou grande curiosidade em mim em relação a, dentre tantas coisas, estudar religiões. E isso tudo sem o ceticismo de afirmar como muitos estudiosos "eu estudo religiões, e não acredito em nada". Ela sempre falou de Deus, sempre falou de fé. Nos últimos anos, principalmente nos meus três anos em São Luiz do Paraitinga, cidade que inspira a vontade de sentar no mato e refletir, a questão "ter fé" passou muito pela minha cabeça.
Nossa mudança para São Luiz foi resultado dos fatores necessidade+vontade. A vida em Sâo Paulo estava cara, dando despesas demais para minha mãe, e ela tinha vontade de morar em um retiro, longe do trânsito, stress, tudo. Acho que foi nessa mudança radical de vida (morar 18 anos em São Paulo e mudar para São Luiz) que comecei a pensar nisso, afinal, mudamos com fé, tendo a esperança de que nossa vida melhoraria.
De fato, melhorou no aspecto de me dar mais oportunidades. Morar em um lugar relaxante, viajando diariamente para estudar e trabalhar, é uma boa maneira de ter paz espiritual. Pode parecer cansativo, mas eu sempre preferi viajar diariamente numa poltrona, vendo lindas paisagens, do que pegar um ônibus em São Paulo, com trânsito, poluição, gente apertada. Até o custo da passagem em Sâo Paulo saía mais caro para mim. É, eu acho que essas viagens intermunicipais eram o sonho de todos os meus amigos que vivem em São Paulo dependendo do transporte público.
Deixar São Paulo saiu caro para mim somente por causa desses amigos, que me fazem falta. Mas não posso reclamar, minha vida mudou demais nos últimos anos, e mesmo com os problemas que surgiram, mudou para melhor.
Agora estou em um seminário, com a possibilidade de sentar na grama e pensar na vida, ter novamente paz espiritual, mesmo que momentânea, pelas responsabilidades e urgências que tenho no momento. Pretendo até assistir ou participar do que fazem por aqui. Quem sabe dar uma xeretada na biblioteca procurando algo que um leigo possa entender. Possivelmente, até assistir a uma missa celebrada pelo Jaime. Faz muitos anos que não assisto a uma, e independente de não seguir a doutrina, sei que me faria bem participar disso com um amigo.
É o que eu falo: fé está muito além do que se diz das religiões. Dela vem a esperança das pessoas, que acreditam, mesmo que sem ver possibilidades, em algo melhor para suas vidas. É muito mais do que se fazer restrições achando que elas é que lhe darão uma vida melhor. É acreditar na possibilidade de se reerguer independente do que aconteça. Tendo fé, lutando com ela, e não dependendo dela, achando que tudo cairá do ceu, é possível ganhar algo novo, ou reconquistar algo que lhe foi tirado. E, acima de tudo, é crer que apesar das divergências das religiões, da visão de cada pessoa sobre quem ou o que é Deus, e sobre como chegar a ele, o respeito é fundamental.
Acho que por isso me faz bem ter um amigo padre, e conviver com ele. Desde o início da faculdade eu falo da minha visão e da minha mãe a ele, e nunca houve qualquer preconceito entre os dois. O máximo que eu fiz foi colocar um fone no ouvido dele enquanto ouvia música pesada, e disse "curte aeee, Santidade".
Já cheguei ao novo local onde me abrigarei: um seminário. Meu amigo, também estudante de jornalismo, além de padre, Jaime, me ofereceu hospedagem por aqui. Ele, outros padres e estudantes de teologia, futuros padres, vivem aqui. Todos se espantam quando eu falo para onde viria, afinal, é diferente ter um amigo padre que estuda jornalismo, é diferente uma pessoa se hospedar aonde padres vivem, e podem achar curioso um agnóstico aceitar com o maior prazer conviver com padres.
Eu acho que é aí que está a essência da fé. É cansativo ver como até hoje as religiões se confrontam em busca de "ter" a verdade absoluta. Aliás, é triste como são as próprias pessoas que certas vezes fecham seus olhos para a fé, se importando apenas em dizer que sua igreja é que é a verdadeira.
Como sempre, sou grato à minha mãe pela sua maneira estudiosa de ser, que despertou grande curiosidade em mim em relação a, dentre tantas coisas, estudar religiões. E isso tudo sem o ceticismo de afirmar como muitos estudiosos "eu estudo religiões, e não acredito em nada". Ela sempre falou de Deus, sempre falou de fé. Nos últimos anos, principalmente nos meus três anos em São Luiz do Paraitinga, cidade que inspira a vontade de sentar no mato e refletir, a questão "ter fé" passou muito pela minha cabeça.
Nossa mudança para São Luiz foi resultado dos fatores necessidade+vontade. A vida em Sâo Paulo estava cara, dando despesas demais para minha mãe, e ela tinha vontade de morar em um retiro, longe do trânsito, stress, tudo. Acho que foi nessa mudança radical de vida (morar 18 anos em São Paulo e mudar para São Luiz) que comecei a pensar nisso, afinal, mudamos com fé, tendo a esperança de que nossa vida melhoraria.
De fato, melhorou no aspecto de me dar mais oportunidades. Morar em um lugar relaxante, viajando diariamente para estudar e trabalhar, é uma boa maneira de ter paz espiritual. Pode parecer cansativo, mas eu sempre preferi viajar diariamente numa poltrona, vendo lindas paisagens, do que pegar um ônibus em São Paulo, com trânsito, poluição, gente apertada. Até o custo da passagem em Sâo Paulo saía mais caro para mim. É, eu acho que essas viagens intermunicipais eram o sonho de todos os meus amigos que vivem em São Paulo dependendo do transporte público.
Deixar São Paulo saiu caro para mim somente por causa desses amigos, que me fazem falta. Mas não posso reclamar, minha vida mudou demais nos últimos anos, e mesmo com os problemas que surgiram, mudou para melhor.
Agora estou em um seminário, com a possibilidade de sentar na grama e pensar na vida, ter novamente paz espiritual, mesmo que momentânea, pelas responsabilidades e urgências que tenho no momento. Pretendo até assistir ou participar do que fazem por aqui. Quem sabe dar uma xeretada na biblioteca procurando algo que um leigo possa entender. Possivelmente, até assistir a uma missa celebrada pelo Jaime. Faz muitos anos que não assisto a uma, e independente de não seguir a doutrina, sei que me faria bem participar disso com um amigo.
É o que eu falo: fé está muito além do que se diz das religiões. Dela vem a esperança das pessoas, que acreditam, mesmo que sem ver possibilidades, em algo melhor para suas vidas. É muito mais do que se fazer restrições achando que elas é que lhe darão uma vida melhor. É acreditar na possibilidade de se reerguer independente do que aconteça. Tendo fé, lutando com ela, e não dependendo dela, achando que tudo cairá do ceu, é possível ganhar algo novo, ou reconquistar algo que lhe foi tirado. E, acima de tudo, é crer que apesar das divergências das religiões, da visão de cada pessoa sobre quem ou o que é Deus, e sobre como chegar a ele, o respeito é fundamental.
Acho que por isso me faz bem ter um amigo padre, e conviver com ele. Desde o início da faculdade eu falo da minha visão e da minha mãe a ele, e nunca houve qualquer preconceito entre os dois. O máximo que eu fiz foi colocar um fone no ouvido dele enquanto ouvia música pesada, e disse "curte aeee, Santidade".
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