terça-feira, 19 de abril de 2011
Novo endereço
Resolvi mudar o blog para o Wordpress! Como é possível importar as informações dos blogs, fiz a mudança sem perder postagens/comentários. O novo endereço é www.guerrafelipe.wordpress.com. Agradeço a quem sempre me visitou pelo Blogspot, principalmente os seguidores. Espero encontrá-los por lá também =)
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Bullying
A recente "tragédia do Realengo" levantou uma série de discussões (que acabarei tomando como base para esse e outros posts, já que já fui um "gordinho estranho" da escola), dentre elas os efeitos/consequências do bullying - atos de violência física ou psicológica.
Caso alguém não tenha noção do ocorrido (apesar da estranheza de achar o meu blog e não ter visto uma notícia sequer sobre isso): um rapaz com distúrbios mentais não cuidados (ou não suficientemente cuidados) herdados da mãe entrou em uma escola do Realengo, bairro do Rio de Janeiro, e atirou em várias crianças. Ele teve preparo técnico e material para isso (sabia atirar e carregava speeloaders - acessório que facilita a reposição de balas em armas de tambor, como a clássica .38), e já planejava a ação há tempos. Na hora do ataque ele matou 11 crianças e feriu 18, que foram internadas um pouco depois. Durante a internação mais uma delas morreu. O atirador, ao perceber que não tinha mais jeito de continuar o ato - a polícia tinha acabado de entrar na escola e um militar havia lhe acertado um tiro -, se matou. Nos relatos que deixou (vídeos, carta etc), o rapaz fez diversas menções a vários assuntos - nem todos com sentido e lucidez -, dentre eles o bullying que sofrera naquela escola há anos, e disse que o ato era uma "lição" a muitos.
Acabamos nos perguntando de que maneira o bullying é capaz de estimular uma atrocidade dessas - voltar ao local em que foi alvo de zombaria anos antes para matar pessoas que não conhece, crente de que isso tem sentido. A resposta, apesar de não sabermos bem quão violentado ele era na escola, é que dificilmente a violência escolar (zombaria, contatos físicos) incentivaria isso. É CLARO que, para haver um ato desse tipo é necessário que o responsável tenha algum forte distúrbio, não tenha recebido acompanhamento adequado e tenha encontrado influências e motivações (às vezes pequenas, mas que para ele teriam tido grande efeito). No final das contas, o bullying pode acabar servindo como um motivador para o ato - ele acreditou piamente que teve razão no que fez.
O bullying, obviamente, costuma ter consequências não tão graves assim. Mas ele está em todo lugar desde sempre. No caso das escolas, qualquer estudante ou ex-estudante sabe, certamente, de algum caso da violência - seja como agressor, vítima ou testemunha. A maior característica do ato é a falta de resposta da vítima para com o agressor. Por exemplo, uma criança pode passar anos sendo alvo de zombaria de dezenas e nunca responder a uma das ofensas. Passado algum tempo, a tendência é que ela seja mais introvertida do que outrora, e poderá levar traumas e desenvolver dificuldade para se relacionar com outras pessoas. Há situações drásticas como a ocorrência no Rio de Janeiro, e outras menos graves, que chegam a ser consideradas heroísmo por parte, principalmente, dos que já foram alvos dessa violência um dia.
Por exemplo, divulgaram recentemente imagens de uma ocorrência em uma escola na Austrália na qual um rapaz chamado Richard Gale, magro, acompanhado de vários amigos, resolveu zombar de um garoto, Casey Heynes, o "gordinho estranho". O agressor puxa o outro pelo colarinho e dá um soco, enquanto outras pessoas somente assistem. Na segunda tentativa, a vítima se defendeu do golpe. Nisso, o agressor começa a gingar em posição de luta, como um lutador de boxe. Tentou e simulou mais alguns golpes. Por último, já cheio da situação, o "gordinho" retribuiu a agressão de uma maneira BEM mais forte do que se esperava. O agressor saiu mancando, enquanto outro rapaz, que devia ser amigo de Richard, ficou frente a frente com o "gordinho", provavelmente pensando se arriscaria a sorte.
O "gordinho" virou o herói de milhões nesse instante, e se tornou um dos vídeos "virais" da internet - aqueles que se espalham rapidamente e geram grande repercussão por um período geralmente curto. Basicamente todos os comentários feitos nesses vídeos solidarizam com o rapaz apoiando o ato e desmerecendo o agressor. Na verdade, também fiquei surpreso ao ver o vídeo, e o garoto acabou virando herói também para mim. Mesmo sem saber se a situação era a mais facilmente interpretada - o garoto "normal" que anda em bando caçoando dos "estranhos" -, acabei tendo algum orgulho pelo ato, muito provavelmente por já ter tido vontade de fazer isso quando estava na escola.
À parte sobre o meu caso: eu fui um desses "gordinhos estranhos" na infância e em quase toda a adolescência (não que não seja mais gordinho ou estranho). Some a isso o fato de que no final do ensino fundamental e no ensino médio tive um cabelo bem comprido - ele era bem liso. A princípio, eu não o cortava por preguiça (e por não ligar para aparência), mas com o tempo fui criando zelo pelo cabelo, que era bastante bonito (ele chegou a ter uns 50 cms, até cortá-lo no terceiro colegial). Na sexta série, na época gordinho+branquelo+cabelo raspado, meu apelido para alguns foi Feioso, pelo personagem dA Família Addams. No colegial, enquanto emagrecia e o cabelo crescia, acabei virando Primo Itt, do mesmo seriado (demorei muito tempo para começar a prender o cabelo, então acabaram fazendo a comparação). O primeiro apelido não agradava muito pela palavra também ter tom pejorativo, mas o segundo eu até achava divertido.
Tenho algumas poucas lembranças das caçoadas. Uma vez (lá pela sexta ou sétima série), uma colega de sala chegou em mim demonstrando bastante dúvida perguntando se eu já havia beijado alguma garota. Meu amigo é que acabou respondendo, afirmando algo do tipo "é claro que sim". Outra vez um grupo de garotas, conhecidas na escola não exatamente pela fama de íntegras, me viu passando e me chamou. Não me lembro tão bem, mas foram umas duas ou três perguntas, repetindo um pouco o que a colega perguntou da outra vez, e acrescentando dúvidas quanto a eu ter namorada (obviamente para caçoar). Acabei inventando que namorava uma garota do condomínio em que morava. Lembro de ter ouvido de longe algumas brincadeiras pelo cabelo comprido. O último exemplo é o mais antigo dessas ocorrências, mas é o mais curioso. Na sexta série, após mudar de escola, acabei tendo um colega de sala um pouco desagradável, que geralmente atazanava todo mundo. Ele pegava mais no meu pé, já que era, provavelmente, o mais estranho da turma, e eu não respondia. Ficava quieto, tentava não me preocupar, mas sentia raiva da maneira como ele me tratava certas vezes. No final do ano, já findadas as aulas, um dos meus melhores amigos ligou para mim, e a conversa se resumiu basicamente a isso:
- Falae Felipe, tá sabendo do que aconteceu com o X?
- Não... o que houve?
- Mataram ele quando ele tava saindo da igreja. Teve um tiroteio e ele levou uma bala perdida.
Foi estranho receber a notícia. Pareceu algo do tipo "O cara que te encheu o ano inteiro morreu". Mesmo assim eu não me senti muito bem com o acontecimento, porque independente disso há a convivência costumeira entre colegas de sala, e acaba sendo estranho receber uma notícia dessas sobre alguém com quem você teve contato durante o ano. De qualquer maneira, a mistura de ingenuidade e humor negro daquela época fez passar pela cabeça o pensamento de que, pelo menos, o rapaz não iria mais ficar no meu pé.
Mas meu caso não era grave, porque não era alvo com tanta frequência, então nunca dei muita bola - apesar de isso ainda estar na minha cabeça e, provavelmente, continuar nos próximos anos.
Quanto ao "gordinho estranho" que virou herói, podemos pensar em outros fatores que contribuiram com a situação. No intento de obter mais informações sobre o ocorrido, acabei encontrando vídeos de um programa que recebeu ambos, vítima e agressor, para expor os lados. De um lado, o agressor disse que também sofria bullying (ver alguém tão novo com piercing me faz pensar que, muito provavelmente, ele o tem para chamar a atenção dos outros, meio que querendo parecer ousado - possivelmente sendo respeitado pelos amigos e/ou querendo provar alguma coisa com as atitudes registradas no vídeo). Do outro, a vítima afirmou que o agressor do vídeo caçoava dele havia três anos, e que naquele momento toda aquela raiva acumulou e extravasou. Ele disse também que cogitou se matar.
A psiquiatra Ana Beatriz Silva falou, no programa Altas Horas, que o pensamento suicida, tanto quanto o desejo de vingança (mesmo que indireta, como o recente caso no Rio de Janeiro) não é raro em pessoas extremamente perseguidas e excluídas na escola. Com relação à suposta vingança, o Estadão divulgou recentemente uma matéria baseada numa pesquisa sobre o bullying e atos extremos de violência em escolas (o governo americano analisou 66 casos, ocorridos entre 1966 e 2011). Resumidamente, ela indicou que o bullying motivou 87% desses ataques.
Ana fez um comentário interessante tendo como base a comparação do bullying com o humor. Ela resumiu em "quando é engraçado deve ser para todos. O bullying é engraçado para alguns a troco da humilhação dos outros".
Fala-se também de casos de cyberbullying, que são as agressões e humilhações feitas pela internet, principalmente em mídias sociais (meios de comunicação nos quais informações pessoais podem ser trocadas, como Orkut e Facebook). Pela facilidade e comodidade de divulgar o ódio alheio, os praticantes do ato tendem a criar movimentos nesses meios contra determinada pessoa (por exemplo, criando uma comunidade no Orkut dizendo que a odeia). Outro exemplo provindo do Altas Horas: uma adolescente chamada Isabela conta que sofreu esse tipo de agressão mal sabendo do que se passava (é outra facilidade do agressor: semear a discórdia sem ser notado pela vítima). Há o pensamento do suicídio em comum.
O assunto começou a ser tratado no Altas Horas depois do depoimento despretensioso de um rapaz chamado Felipe, que dizia ser vítima desse tipo de violência desde a quinta série - ele cursava o terceiro colegial na época do depoimento (ou seja, pelo menos sete anos passando por isso). Ele afirmou ter pensado em "loucuras", que provavelmente devem ser, principalmente, relacionadas ao suicídio (e possivelmente a se vingar também, meio que como no caso do Rio de Janeiro, mas é difícil ver esse pensamento prevalescer. Para eles, provavelmente, é muito mais fácil parar de ser vítima se matando do que matando os outros).
Eu não posso dar uma de conselheiro no assunto, mesmo tendo passado por situações desagradáveis, porque o que passei não se compara a esses casos e acabo não sendo um exemplo de superação ou coisa do gênero. De qualquer maneira, arrisco dizer que, além da família, a vítima deve buscar algum tipo de companhia como amparo indireto - ou seja: não ficar procurando gente para mostrar-se como alguém que só tem problemas e que espera somente ajuda do outro. Vivendo na era digital e tecnológica é muito fácil conhecer pessoas de outros lugares que tenham gostos em comum, e, na minha opinião, não há nada melhor do que você tirar algum tempo para conversar/fazer com outra(s) pessoa(s) algo que lhes agrade. Quando se conhece na internet alguém que vale a pena você esquece a questão da barreira física, e vê como há motivos para seguir em frente. Agora sim me usando como exemplo (não necessariamente com internet relacionada): eu, nerd desde criança com o costume de mexer/jogar no computador, sempre me dei bem com determinados jogos, dentre eles os FPS (First-person Shooter, ou jogos de primeira pessoa - aqueles em que você tem a visão do jogo como se estivesse dentro do personagem [e que também viram alvo de polêmicas sobre a influência dos jogos violentos na cabeça das pessoas]). Quando ainda morava em São Paulo, tive minha época de frequentador de lan houses (locais com vários computadores, geralmente com jogos e acesso à internet, que cobram o serviço dos usuários pelo tempo de uso das máquinas) para jogar com outras pessoas que ali estavam, e acabei me tornando conhecido por pequenos grupos de jogadores pelas habilidades ao ponto de ser patrocinado brevemente por uma das lan houses para jogar utilizando seu nome no nickname (apelido). Apesar de não ter orgulho de ser bom em um jogo, nem de ver isso como algo relevante para o mundo, no quesito pessoal era fantástico frequentar os lugares/jogar com os outros e ver como me conheciam e confiavam para exercer a minha função. Para um garoto que não falava muito na escola e muito menos fazia sucesso, eu acaba vendo ali um meio de "ser alguém". Isso acabou me ajudando nos relacionamentos do dia-a-dia, vendo que, independente do que acontecesse na rotina, em algum momento eu poderia ir ao meu reduto e falar com gente que gostava de mim.
É claro que esse exemplo não é tão bom em vários pontos, mas é um meio de mostrar que interesses em comum aproximam as pessoas. Nas escolas há muitas discrepâncias, já que todos estão ali por obrigação e não necessariamente por compartilhar interesses. Por isso, reforço a ideia de que a melhor solução para ter uma válvula de escape para essas irritações da escola é ter um refúgio onde você encontre somente o que gosta - longe da parte do mundo que lhe exclui e humilha.
Caso alguém não tenha noção do ocorrido (apesar da estranheza de achar o meu blog e não ter visto uma notícia sequer sobre isso): um rapaz com distúrbios mentais não cuidados (ou não suficientemente cuidados) herdados da mãe entrou em uma escola do Realengo, bairro do Rio de Janeiro, e atirou em várias crianças. Ele teve preparo técnico e material para isso (sabia atirar e carregava speeloaders - acessório que facilita a reposição de balas em armas de tambor, como a clássica .38), e já planejava a ação há tempos. Na hora do ataque ele matou 11 crianças e feriu 18, que foram internadas um pouco depois. Durante a internação mais uma delas morreu. O atirador, ao perceber que não tinha mais jeito de continuar o ato - a polícia tinha acabado de entrar na escola e um militar havia lhe acertado um tiro -, se matou. Nos relatos que deixou (vídeos, carta etc), o rapaz fez diversas menções a vários assuntos - nem todos com sentido e lucidez -, dentre eles o bullying que sofrera naquela escola há anos, e disse que o ato era uma "lição" a muitos.
Acabamos nos perguntando de que maneira o bullying é capaz de estimular uma atrocidade dessas - voltar ao local em que foi alvo de zombaria anos antes para matar pessoas que não conhece, crente de que isso tem sentido. A resposta, apesar de não sabermos bem quão violentado ele era na escola, é que dificilmente a violência escolar (zombaria, contatos físicos) incentivaria isso. É CLARO que, para haver um ato desse tipo é necessário que o responsável tenha algum forte distúrbio, não tenha recebido acompanhamento adequado e tenha encontrado influências e motivações (às vezes pequenas, mas que para ele teriam tido grande efeito). No final das contas, o bullying pode acabar servindo como um motivador para o ato - ele acreditou piamente que teve razão no que fez.
O bullying, obviamente, costuma ter consequências não tão graves assim. Mas ele está em todo lugar desde sempre. No caso das escolas, qualquer estudante ou ex-estudante sabe, certamente, de algum caso da violência - seja como agressor, vítima ou testemunha. A maior característica do ato é a falta de resposta da vítima para com o agressor. Por exemplo, uma criança pode passar anos sendo alvo de zombaria de dezenas e nunca responder a uma das ofensas. Passado algum tempo, a tendência é que ela seja mais introvertida do que outrora, e poderá levar traumas e desenvolver dificuldade para se relacionar com outras pessoas. Há situações drásticas como a ocorrência no Rio de Janeiro, e outras menos graves, que chegam a ser consideradas heroísmo por parte, principalmente, dos que já foram alvos dessa violência um dia.
Por exemplo, divulgaram recentemente imagens de uma ocorrência em uma escola na Austrália na qual um rapaz chamado Richard Gale, magro, acompanhado de vários amigos, resolveu zombar de um garoto, Casey Heynes, o "gordinho estranho". O agressor puxa o outro pelo colarinho e dá um soco, enquanto outras pessoas somente assistem. Na segunda tentativa, a vítima se defendeu do golpe. Nisso, o agressor começa a gingar em posição de luta, como um lutador de boxe. Tentou e simulou mais alguns golpes. Por último, já cheio da situação, o "gordinho" retribuiu a agressão de uma maneira BEM mais forte do que se esperava. O agressor saiu mancando, enquanto outro rapaz, que devia ser amigo de Richard, ficou frente a frente com o "gordinho", provavelmente pensando se arriscaria a sorte.
O "gordinho" virou o herói de milhões nesse instante, e se tornou um dos vídeos "virais" da internet - aqueles que se espalham rapidamente e geram grande repercussão por um período geralmente curto. Basicamente todos os comentários feitos nesses vídeos solidarizam com o rapaz apoiando o ato e desmerecendo o agressor. Na verdade, também fiquei surpreso ao ver o vídeo, e o garoto acabou virando herói também para mim. Mesmo sem saber se a situação era a mais facilmente interpretada - o garoto "normal" que anda em bando caçoando dos "estranhos" -, acabei tendo algum orgulho pelo ato, muito provavelmente por já ter tido vontade de fazer isso quando estava na escola.
À parte sobre o meu caso: eu fui um desses "gordinhos estranhos" na infância e em quase toda a adolescência (não que não seja mais gordinho ou estranho). Some a isso o fato de que no final do ensino fundamental e no ensino médio tive um cabelo bem comprido - ele era bem liso. A princípio, eu não o cortava por preguiça (e por não ligar para aparência), mas com o tempo fui criando zelo pelo cabelo, que era bastante bonito (ele chegou a ter uns 50 cms, até cortá-lo no terceiro colegial). Na sexta série, na época gordinho+branquelo+cabelo raspado, meu apelido para alguns foi Feioso, pelo personagem dA Família Addams. No colegial, enquanto emagrecia e o cabelo crescia, acabei virando Primo Itt, do mesmo seriado (demorei muito tempo para começar a prender o cabelo, então acabaram fazendo a comparação). O primeiro apelido não agradava muito pela palavra também ter tom pejorativo, mas o segundo eu até achava divertido.
Tenho algumas poucas lembranças das caçoadas. Uma vez (lá pela sexta ou sétima série), uma colega de sala chegou em mim demonstrando bastante dúvida perguntando se eu já havia beijado alguma garota. Meu amigo é que acabou respondendo, afirmando algo do tipo "é claro que sim". Outra vez um grupo de garotas, conhecidas na escola não exatamente pela fama de íntegras, me viu passando e me chamou. Não me lembro tão bem, mas foram umas duas ou três perguntas, repetindo um pouco o que a colega perguntou da outra vez, e acrescentando dúvidas quanto a eu ter namorada (obviamente para caçoar). Acabei inventando que namorava uma garota do condomínio em que morava. Lembro de ter ouvido de longe algumas brincadeiras pelo cabelo comprido. O último exemplo é o mais antigo dessas ocorrências, mas é o mais curioso. Na sexta série, após mudar de escola, acabei tendo um colega de sala um pouco desagradável, que geralmente atazanava todo mundo. Ele pegava mais no meu pé, já que era, provavelmente, o mais estranho da turma, e eu não respondia. Ficava quieto, tentava não me preocupar, mas sentia raiva da maneira como ele me tratava certas vezes. No final do ano, já findadas as aulas, um dos meus melhores amigos ligou para mim, e a conversa se resumiu basicamente a isso:
- Falae Felipe, tá sabendo do que aconteceu com o X?
- Não... o que houve?
- Mataram ele quando ele tava saindo da igreja. Teve um tiroteio e ele levou uma bala perdida.
Foi estranho receber a notícia. Pareceu algo do tipo "O cara que te encheu o ano inteiro morreu". Mesmo assim eu não me senti muito bem com o acontecimento, porque independente disso há a convivência costumeira entre colegas de sala, e acaba sendo estranho receber uma notícia dessas sobre alguém com quem você teve contato durante o ano. De qualquer maneira, a mistura de ingenuidade e humor negro daquela época fez passar pela cabeça o pensamento de que, pelo menos, o rapaz não iria mais ficar no meu pé.
Mas meu caso não era grave, porque não era alvo com tanta frequência, então nunca dei muita bola - apesar de isso ainda estar na minha cabeça e, provavelmente, continuar nos próximos anos.
Quanto ao "gordinho estranho" que virou herói, podemos pensar em outros fatores que contribuiram com a situação. No intento de obter mais informações sobre o ocorrido, acabei encontrando vídeos de um programa que recebeu ambos, vítima e agressor, para expor os lados. De um lado, o agressor disse que também sofria bullying (ver alguém tão novo com piercing me faz pensar que, muito provavelmente, ele o tem para chamar a atenção dos outros, meio que querendo parecer ousado - possivelmente sendo respeitado pelos amigos e/ou querendo provar alguma coisa com as atitudes registradas no vídeo). Do outro, a vítima afirmou que o agressor do vídeo caçoava dele havia três anos, e que naquele momento toda aquela raiva acumulou e extravasou. Ele disse também que cogitou se matar.
A psiquiatra Ana Beatriz Silva falou, no programa Altas Horas, que o pensamento suicida, tanto quanto o desejo de vingança (mesmo que indireta, como o recente caso no Rio de Janeiro) não é raro em pessoas extremamente perseguidas e excluídas na escola. Com relação à suposta vingança, o Estadão divulgou recentemente uma matéria baseada numa pesquisa sobre o bullying e atos extremos de violência em escolas (o governo americano analisou 66 casos, ocorridos entre 1966 e 2011). Resumidamente, ela indicou que o bullying motivou 87% desses ataques.
Ana fez um comentário interessante tendo como base a comparação do bullying com o humor. Ela resumiu em "quando é engraçado deve ser para todos. O bullying é engraçado para alguns a troco da humilhação dos outros".
Fala-se também de casos de cyberbullying, que são as agressões e humilhações feitas pela internet, principalmente em mídias sociais (meios de comunicação nos quais informações pessoais podem ser trocadas, como Orkut e Facebook). Pela facilidade e comodidade de divulgar o ódio alheio, os praticantes do ato tendem a criar movimentos nesses meios contra determinada pessoa (por exemplo, criando uma comunidade no Orkut dizendo que a odeia). Outro exemplo provindo do Altas Horas: uma adolescente chamada Isabela conta que sofreu esse tipo de agressão mal sabendo do que se passava (é outra facilidade do agressor: semear a discórdia sem ser notado pela vítima). Há o pensamento do suicídio em comum.
O assunto começou a ser tratado no Altas Horas depois do depoimento despretensioso de um rapaz chamado Felipe, que dizia ser vítima desse tipo de violência desde a quinta série - ele cursava o terceiro colegial na época do depoimento (ou seja, pelo menos sete anos passando por isso). Ele afirmou ter pensado em "loucuras", que provavelmente devem ser, principalmente, relacionadas ao suicídio (e possivelmente a se vingar também, meio que como no caso do Rio de Janeiro, mas é difícil ver esse pensamento prevalescer. Para eles, provavelmente, é muito mais fácil parar de ser vítima se matando do que matando os outros).
Eu não posso dar uma de conselheiro no assunto, mesmo tendo passado por situações desagradáveis, porque o que passei não se compara a esses casos e acabo não sendo um exemplo de superação ou coisa do gênero. De qualquer maneira, arrisco dizer que, além da família, a vítima deve buscar algum tipo de companhia como amparo indireto - ou seja: não ficar procurando gente para mostrar-se como alguém que só tem problemas e que espera somente ajuda do outro. Vivendo na era digital e tecnológica é muito fácil conhecer pessoas de outros lugares que tenham gostos em comum, e, na minha opinião, não há nada melhor do que você tirar algum tempo para conversar/fazer com outra(s) pessoa(s) algo que lhes agrade. Quando se conhece na internet alguém que vale a pena você esquece a questão da barreira física, e vê como há motivos para seguir em frente. Agora sim me usando como exemplo (não necessariamente com internet relacionada): eu, nerd desde criança com o costume de mexer/jogar no computador, sempre me dei bem com determinados jogos, dentre eles os FPS (First-person Shooter, ou jogos de primeira pessoa - aqueles em que você tem a visão do jogo como se estivesse dentro do personagem [e que também viram alvo de polêmicas sobre a influência dos jogos violentos na cabeça das pessoas]). Quando ainda morava em São Paulo, tive minha época de frequentador de lan houses (locais com vários computadores, geralmente com jogos e acesso à internet, que cobram o serviço dos usuários pelo tempo de uso das máquinas) para jogar com outras pessoas que ali estavam, e acabei me tornando conhecido por pequenos grupos de jogadores pelas habilidades ao ponto de ser patrocinado brevemente por uma das lan houses para jogar utilizando seu nome no nickname (apelido). Apesar de não ter orgulho de ser bom em um jogo, nem de ver isso como algo relevante para o mundo, no quesito pessoal era fantástico frequentar os lugares/jogar com os outros e ver como me conheciam e confiavam para exercer a minha função. Para um garoto que não falava muito na escola e muito menos fazia sucesso, eu acaba vendo ali um meio de "ser alguém". Isso acabou me ajudando nos relacionamentos do dia-a-dia, vendo que, independente do que acontecesse na rotina, em algum momento eu poderia ir ao meu reduto e falar com gente que gostava de mim.
É claro que esse exemplo não é tão bom em vários pontos, mas é um meio de mostrar que interesses em comum aproximam as pessoas. Nas escolas há muitas discrepâncias, já que todos estão ali por obrigação e não necessariamente por compartilhar interesses. Por isso, reforço a ideia de que a melhor solução para ter uma válvula de escape para essas irritações da escola é ter um refúgio onde você encontre somente o que gosta - longe da parte do mundo que lhe exclui e humilha.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Experiência
Tenho pensado bastante no que eu lembro da minha infância, desde quando ainda era um pirralho. Um dos pensamentos que sempre me acompanhou, junto aos idealismos dos quais sempre falo, é a vontade de escrever livros.
Quando criança, tinha como certo que iria escrever pelo menos cinco livros. Nunca havia pensado no tema. Com o passar do tempo, comecei a tomar gosto pelo mundo da fantasia, principalmente o relacionado à era medieval – cavaleiros, reis, dragões, magia etc – e sempre fazia o possível para fugir da nossa realidade e chegar um pouco mais perto dessas histórias.
Como sou nerd de jogar computador desde a infância, conheci jogos online ainda cedo, e dentre eles um jogo medieval. Como havia vários servidores, existiam também aqueles nos quais você deveria interpretar como se estivesse mesmo na Era Medieval (podia ser ferreiro, alquimista etc, e falar, se não com um linguajar antigo, com um que não incluísse termos novos).
Acho bem legal a possibilidade de você criar um mundo novo e ter outras pessoas participando disso. Esse tipo de servidor exige bastante criatividade de quem joga, já que cada um deve ter um personagem único, com uma história inserida naquela ambientação inventada pelos “mestres”. E, obviamente, nem se fala na criatividade que os administradores devem ter para cuidar de um mundo novo (atualmente ajudo a administrar um desses servidores).
Com isso, eu sempre penso se não conseguiria criar um mundo paralelo, totalmente diferente do nosso. Talvez ligado a alguma época, como a Era Medieval, ou algo futurista, ou algo em outro planeta (que até dependeria menos de referências históricas) etc. Talvez consiga se fizer um trabalho detalhado e longo, sem a pressa de ter um contexto para escrever algo diferente.
Mas hoje em dia eu tenho interesse sobre muitos outros assuntos, tanto jornalísticos quanto históricos (e eventualmente misturando ficção). Pensando mais pelo lado atual, levo em conta algo que vi no ótimo filme “De encontro com o amor”. O experiente escritor Weldon Parish fala várias vezes ao aspirante Jeremy que um escritor deve ter experiência na vida para escrever algo. De preferência, ter passado por diversas situações para que possa descrevê-las com mais profundidade. Como exemplo, Jeremy não soube descrever muito bem o sentimento de levar um soco no estômago, então Weldon resolveu golpeá-lo para que o jovem entendesse o sentimento daquilo e soubesse descrevê-lo melhor.
Sendo assim, eu vejo a necessidade de você conhecer o mundo para falar um pouco dele. Até para trabalhos totalmente fictícios temos que aproveitar o que se pode associar da realidade nele para que as pessoas consigam se ver nas situações descritas. Por isso, sempre passa pela minha cabeça me meter em lugares inusitados e ficar algum tempo lá para conhecer realidades totalmente diferentes da minha. Morei quase um ano em um seminário sem nem ser cristão, e adorei a experiência. Lógico que não fui morar lá devido a essa curiosidade, e sim por necessidades pós-enchente, mas até passou pela minha cabeça escrever um livro sobre a rotina do local e o catolicismo sob a visão de um agnóstico (é claro que para isso eu deveria estudar bem o assunto).
Aparentemente hoje em dia é facílimo lançar um livro. Findado 2010 eu estava com o meu primeiro livro na mão. É claro que era um projeto experimental, feito como trabalho de conclusão de curso, mas estou tentando lançá-lo (em último caso espalho pela internet, já que é uma relevante memória de São Luiz do Paraitinga). Mesmo com ele pronto, estou lendo e relendo para me assegurar que não haja falhas na escrita nem no conteúdo, e que ele seja realmente interessante.
As facilidades de hoje em dia permitem que (talvez pseudo-)escritores lancem seus trabalhos pela internet, com custo zero ou baixo. Adequando o formato do trabalho ao que essas “gráficas digitais” utilizam, o autor pode enviar o seu arquivo e deixá-lo em exposição no site, para que a empresa imprima somente o que for demandado e fique com parte do lucro. É uma opção para mim também, apesar de algumas empresas trabalharem com um formato de livro pré-determinado (meu livro tem um formato diferenciado). O meu medo é que as pessoas comecem a usar esse sistema sem qualquer pudor para publicar trabalhos sem se dar o trabalho de ter usado criatividade, embasamento, ética etc.
Aproveitando sempre a experiência, creio que poderei um dia escrever trabalhos relevantes à sociedade com o meu pé que fica na realidade. Com o pé que fica em outro mundo (e talvez um pseudônimo), acredito que possa criar universos paralelos e coisas do gênero com os mesmos objetivos que os autores desse gênero costumam ter - reflexão e fascinação. Minha ideia de misturar os dois ainda me assusta um pouco, mas acho que com criatividade e embasamento dá para fazer algo legal. E assim espero chegar à minha meta mínima de livros lançados.
Quando criança, tinha como certo que iria escrever pelo menos cinco livros. Nunca havia pensado no tema. Com o passar do tempo, comecei a tomar gosto pelo mundo da fantasia, principalmente o relacionado à era medieval – cavaleiros, reis, dragões, magia etc – e sempre fazia o possível para fugir da nossa realidade e chegar um pouco mais perto dessas histórias.
Como sou nerd de jogar computador desde a infância, conheci jogos online ainda cedo, e dentre eles um jogo medieval. Como havia vários servidores, existiam também aqueles nos quais você deveria interpretar como se estivesse mesmo na Era Medieval (podia ser ferreiro, alquimista etc, e falar, se não com um linguajar antigo, com um que não incluísse termos novos).
Acho bem legal a possibilidade de você criar um mundo novo e ter outras pessoas participando disso. Esse tipo de servidor exige bastante criatividade de quem joga, já que cada um deve ter um personagem único, com uma história inserida naquela ambientação inventada pelos “mestres”. E, obviamente, nem se fala na criatividade que os administradores devem ter para cuidar de um mundo novo (atualmente ajudo a administrar um desses servidores).
Com isso, eu sempre penso se não conseguiria criar um mundo paralelo, totalmente diferente do nosso. Talvez ligado a alguma época, como a Era Medieval, ou algo futurista, ou algo em outro planeta (que até dependeria menos de referências históricas) etc. Talvez consiga se fizer um trabalho detalhado e longo, sem a pressa de ter um contexto para escrever algo diferente.
Mas hoje em dia eu tenho interesse sobre muitos outros assuntos, tanto jornalísticos quanto históricos (e eventualmente misturando ficção). Pensando mais pelo lado atual, levo em conta algo que vi no ótimo filme “De encontro com o amor”. O experiente escritor Weldon Parish fala várias vezes ao aspirante Jeremy que um escritor deve ter experiência na vida para escrever algo. De preferência, ter passado por diversas situações para que possa descrevê-las com mais profundidade. Como exemplo, Jeremy não soube descrever muito bem o sentimento de levar um soco no estômago, então Weldon resolveu golpeá-lo para que o jovem entendesse o sentimento daquilo e soubesse descrevê-lo melhor.
Sendo assim, eu vejo a necessidade de você conhecer o mundo para falar um pouco dele. Até para trabalhos totalmente fictícios temos que aproveitar o que se pode associar da realidade nele para que as pessoas consigam se ver nas situações descritas. Por isso, sempre passa pela minha cabeça me meter em lugares inusitados e ficar algum tempo lá para conhecer realidades totalmente diferentes da minha. Morei quase um ano em um seminário sem nem ser cristão, e adorei a experiência. Lógico que não fui morar lá devido a essa curiosidade, e sim por necessidades pós-enchente, mas até passou pela minha cabeça escrever um livro sobre a rotina do local e o catolicismo sob a visão de um agnóstico (é claro que para isso eu deveria estudar bem o assunto).
Aparentemente hoje em dia é facílimo lançar um livro. Findado 2010 eu estava com o meu primeiro livro na mão. É claro que era um projeto experimental, feito como trabalho de conclusão de curso, mas estou tentando lançá-lo (em último caso espalho pela internet, já que é uma relevante memória de São Luiz do Paraitinga). Mesmo com ele pronto, estou lendo e relendo para me assegurar que não haja falhas na escrita nem no conteúdo, e que ele seja realmente interessante.
As facilidades de hoje em dia permitem que (talvez pseudo-)escritores lancem seus trabalhos pela internet, com custo zero ou baixo. Adequando o formato do trabalho ao que essas “gráficas digitais” utilizam, o autor pode enviar o seu arquivo e deixá-lo em exposição no site, para que a empresa imprima somente o que for demandado e fique com parte do lucro. É uma opção para mim também, apesar de algumas empresas trabalharem com um formato de livro pré-determinado (meu livro tem um formato diferenciado). O meu medo é que as pessoas comecem a usar esse sistema sem qualquer pudor para publicar trabalhos sem se dar o trabalho de ter usado criatividade, embasamento, ética etc.
Aproveitando sempre a experiência, creio que poderei um dia escrever trabalhos relevantes à sociedade com o meu pé que fica na realidade. Com o pé que fica em outro mundo (e talvez um pseudônimo), acredito que possa criar universos paralelos e coisas do gênero com os mesmos objetivos que os autores desse gênero costumam ter - reflexão e fascinação. Minha ideia de misturar os dois ainda me assusta um pouco, mas acho que com criatividade e embasamento dá para fazer algo legal. E assim espero chegar à minha meta mínima de livros lançados.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Again, and again...
Em janeiro completou um ano que fui embora de São Luiz do Paraitinga. Foi um ano bem corrido, sem dar para respirar muito pensando no que aconteceu na casa em que eu morava e com a vida que eu tinha (a não ser para pautar o meu trabalho de conclusão de curso, relacionado à cidade).
Sem ficar me prendendo muito ao que ocorreu, consegui muitas coisas boas mesmo com as perdas do início do ano. Morando em Taubaté, conseguia dormir melhor, já que não viajava todos os dias, e ter mais tempo para estudar, trabalhar e ter uma vida social mais ampla. Respirei novos ares, conheci gente nova, e consegui inspiração para alguns projetos que não havia amadurecido nos anos anteriores. Mesmo assim eu ainda me sentia unido à cidade em que morava, tanto que sentia quase um dever em deixar algo que contribuísse com a cidade - sentimento que foi convertido no meu livro (que espero conseguir publicar logo).
Quase no Natal visitei a cidade pela última vez para entregar uma cópia em CD do meu trabalho a alguns amigos e colegas. Foi um dia meio triste, pois sabia que minhas visitas à cidade seriam menos frequentes, já que, findado o meu curso na faculdade, eu partiria do Vale do Paraíba. Sendo assim, aproveitei a situação para deixar um "até algum dia" a essas pessoas.
No final do ano, mais precisamente no dia 30 de novembro, fiquei satisfeito com o resultado daqueles meses de trabalho para concluir o TCC. A banca avaliadora, em especial um professor que adora a cidade tema do meu trabalho, ressaltava a minha coragem em retornar lá tantas vezes mesmo depois de ter passado por tudo o que passei. Ele disse não ter tido coragem de retornar lá uma vez sequer desde a tragédia.
É claro que fiquei feliz com o que o professor falou - tanto sobre a questão de enfrentar o lado emocional para produzir um trabalho quanto sobre a relevância do projeto -, mas para mim fica claro que isso é mais poético que real.
Hoje, um ano passado da tragédia, parei para olhar uma sequência de foto das consequências da chuva deste início de ano. Todos os dias há algo novo, mas hoje é que resolvi parar para ver uma sequência de 109 fotos. Na verdade, não sei o por quê de olhar essas fotos. Acho que foi pela curiosidade de descobrir o que eu sentiria ao ver fotos de tragédias do mesmo gênero da que me afetou há um ano.
Em alguns casos a descrição das fotos marcavam, já que nelas é que constavam números de mortos e outros problemas subsequentes. No mais, as imagens não me abalaram. Na verdade eu senti como se fosse possível usar aquelas mesmas fotos no meu trabalho, como se as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo fossem São Luiz do Paraitinga. E aí sim, voltando à São Luiz veio aquela dor por tudo. De entrar em casa e ver tudo de cabeça para baixo (no meu caso vale ressaltar a felicidade de ter cinco gatos sobreviventes), de andar pelas ruas e ver tudo marrom, inclusive o que as pessoas retiravam de suas casas, e de pensar no pavor das pessoas ao se perderem em pensamentos imaginando que suas vidas haviam acabado ali. Sei que, a cada tragédia que acontecer, o mesmo acontecerá nas novas vítimas.
E aí vem o pensamento adicional de tudo o que passei no decorrer do ano ao retornar à cidade e entrevistas as pessoas, de segurar o choro pelas que perderam tudo mas lutavam para recomeçar até os momentos de alegria ao ver que pessoas que eu conhecia estavam se reerguendo.
Eu, meio participante e meio espectador, sempre fui privilegiado por ter tocado a vida, na medida do possível, apesar dos apesares. Mesmo com a minha situação diferenciada, sempre fiz questão de mostrar que São Luiz não era uma cidade coitada, e que ganhara mais foco pelo bem cultural perdido do que por suas pessoas. No meu TCC, eu relatei mês a mês o que aconteceu na cidade, mas sempre apontando acontecimentos nacionais e internacionais graves, como o terremoto no Haiti e as enchentes no Paquistão.
Agora, um ano depois do acontecimento em São Luiz, que só tirou a vida de um homem durante um deslizamento, e de outros eventos que tiraram a vida de muita gente, nós voltamos a ver tragédias em todos os noticiários, como de costume, matando muita gente.
Na verdade nem sei bem por que estou escrevendo isso... depois de tanto tempo focado no TCC, que me prendia a algo que me marcou, pude descansar mais de um mês. Estava querendo escrever aqui, mas estava precisando divagar um pouco para voltar a pensar em outros assuntos, mas é difícil. Tendo passado por situações que lembram as que estão acontecendo atualmente, fico imaginando se as novas vítimas, daqui a um ano, serão tão privilegiadas quanto eu, que recebi apoio incomensurável dos meus amigos e consegui tocar em frente.
Sem ficar me prendendo muito ao que ocorreu, consegui muitas coisas boas mesmo com as perdas do início do ano. Morando em Taubaté, conseguia dormir melhor, já que não viajava todos os dias, e ter mais tempo para estudar, trabalhar e ter uma vida social mais ampla. Respirei novos ares, conheci gente nova, e consegui inspiração para alguns projetos que não havia amadurecido nos anos anteriores. Mesmo assim eu ainda me sentia unido à cidade em que morava, tanto que sentia quase um dever em deixar algo que contribuísse com a cidade - sentimento que foi convertido no meu livro (que espero conseguir publicar logo).
Quase no Natal visitei a cidade pela última vez para entregar uma cópia em CD do meu trabalho a alguns amigos e colegas. Foi um dia meio triste, pois sabia que minhas visitas à cidade seriam menos frequentes, já que, findado o meu curso na faculdade, eu partiria do Vale do Paraíba. Sendo assim, aproveitei a situação para deixar um "até algum dia" a essas pessoas.
No final do ano, mais precisamente no dia 30 de novembro, fiquei satisfeito com o resultado daqueles meses de trabalho para concluir o TCC. A banca avaliadora, em especial um professor que adora a cidade tema do meu trabalho, ressaltava a minha coragem em retornar lá tantas vezes mesmo depois de ter passado por tudo o que passei. Ele disse não ter tido coragem de retornar lá uma vez sequer desde a tragédia.
É claro que fiquei feliz com o que o professor falou - tanto sobre a questão de enfrentar o lado emocional para produzir um trabalho quanto sobre a relevância do projeto -, mas para mim fica claro que isso é mais poético que real.
Hoje, um ano passado da tragédia, parei para olhar uma sequência de foto das consequências da chuva deste início de ano. Todos os dias há algo novo, mas hoje é que resolvi parar para ver uma sequência de 109 fotos. Na verdade, não sei o por quê de olhar essas fotos. Acho que foi pela curiosidade de descobrir o que eu sentiria ao ver fotos de tragédias do mesmo gênero da que me afetou há um ano.
Em alguns casos a descrição das fotos marcavam, já que nelas é que constavam números de mortos e outros problemas subsequentes. No mais, as imagens não me abalaram. Na verdade eu senti como se fosse possível usar aquelas mesmas fotos no meu trabalho, como se as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo fossem São Luiz do Paraitinga. E aí sim, voltando à São Luiz veio aquela dor por tudo. De entrar em casa e ver tudo de cabeça para baixo (no meu caso vale ressaltar a felicidade de ter cinco gatos sobreviventes), de andar pelas ruas e ver tudo marrom, inclusive o que as pessoas retiravam de suas casas, e de pensar no pavor das pessoas ao se perderem em pensamentos imaginando que suas vidas haviam acabado ali. Sei que, a cada tragédia que acontecer, o mesmo acontecerá nas novas vítimas.
E aí vem o pensamento adicional de tudo o que passei no decorrer do ano ao retornar à cidade e entrevistas as pessoas, de segurar o choro pelas que perderam tudo mas lutavam para recomeçar até os momentos de alegria ao ver que pessoas que eu conhecia estavam se reerguendo.
Eu, meio participante e meio espectador, sempre fui privilegiado por ter tocado a vida, na medida do possível, apesar dos apesares. Mesmo com a minha situação diferenciada, sempre fiz questão de mostrar que São Luiz não era uma cidade coitada, e que ganhara mais foco pelo bem cultural perdido do que por suas pessoas. No meu TCC, eu relatei mês a mês o que aconteceu na cidade, mas sempre apontando acontecimentos nacionais e internacionais graves, como o terremoto no Haiti e as enchentes no Paquistão.
Agora, um ano depois do acontecimento em São Luiz, que só tirou a vida de um homem durante um deslizamento, e de outros eventos que tiraram a vida de muita gente, nós voltamos a ver tragédias em todos os noticiários, como de costume, matando muita gente.
Na verdade nem sei bem por que estou escrevendo isso... depois de tanto tempo focado no TCC, que me prendia a algo que me marcou, pude descansar mais de um mês. Estava querendo escrever aqui, mas estava precisando divagar um pouco para voltar a pensar em outros assuntos, mas é difícil. Tendo passado por situações que lembram as que estão acontecendo atualmente, fico imaginando se as novas vítimas, daqui a um ano, serão tão privilegiadas quanto eu, que recebi apoio incomensurável dos meus amigos e consegui tocar em frente.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Eleições
Estava querendo publicar algo relacionado às eleições, mas sem ser aquele arroz com feijão, do tipo "vamos votar consciente dessa vez, serão quatro anos de mandato, blablabla whiskas sachê". Então fiz um apanhado (e vou apanhar de tanto que escrevi) de tudo o que vi recentemente (e, claro, dando meus pitacos).
E-mails
É estressionante ver como diariamente trocentos e-mails relacionados à política chegam a mim (e outras milhares de pessoas). O problema não é receber algo relacionado à política, e sim ver que invariavelmente esses textos (geralmente mal escritos) têm a simples missão de denegrir um dos candidatos à presidência do Brasil. Abusando da ética, começam a surgir informações das quais ninguém, nem os próprios candidatos, sabiam. Tal candidato (não) falou isso, e tal candidato (não) fez aquilo! Só hoje eu recebi três e-mails de uma amiga: um falando dos votos nulos, e dois falando da Dilma.
Quanto ao voto nulo, há uma corrente antiga circulando na internet pregando que se 51% dos votos válidos para um dos cargos forem nulos, as eleições para aquela(s) cadeira(s) deverão ser refeitas com candidatos diferentes dos que participaram dessa candidatura. Numa rápida pesquisa na internet, vê-se que a corrente existe desde 2000 e até agora tem força, mas que não faz sentido algum. De fato, há uma maneira de anular as eleições: com nulidade de votos (e não votos nulos) maior que 50%. A nulidade ocorre quando qualquer elemento do voto torna-o inválido (fraudado). Se essa porcentagem for alcançada, uma nova eleição deverá ser realizada em aproximadamente um mês, mas não há qualquer constatação de que o novo pleito deverá ser realizado com candidatos diferentes.
Quanto aos e-mails da Dilma, um fala de uma suposta afirmação da candidata que teria sido feita durante a inauguração de um comitê em Minas Gerais. Reproduzirei os pontos mais críticos:
"Após a inauguração de um comité em Minas, Dilma é entrevistada por um jornalista local. veja:
como a senhora vê o crescimento da sua candidatura nas pesquisas?
O povo brasileiro sabe escolher, é a continuidade do governo Lula, e após as eleições nós vamos dessarmar o palanque e estender os braços aos nossos adversários, o candidato Serra está convidado a participar do meu governo, porque nesta eleição nem mesmo cristo querendo, me tira essa vitória, as pesquisas comprovam o que eu estou dizendo, vou ganhar no primeiro turno.
[...]
Poucos minutos após a entrevista, já tinha caido na internet, twitter.... e ela disse ter sido mal interpretada e que a frase não foi essa, porém alguns mineiros já repudiam a candidata e o quadro eleitoral começa a dar uma reviravolta, em Minas a petista estava a frente de José Serra e agora Serra já ultrapassou com uma vantagem de 5 pontos, tanto que Aécio Neves já está aparecendo na TV pedindo aos mineiros o apoio unanime a Serra.
IMPORTANTE: a Dilma já está até sentando na cadeira presidencial, dá pra acreditar.
[...]
DILMA, a favor do Aborto e Acima de Jesus Cristo. até o Papa no vaticano já se manifestou contra essa frase."
Jogando o trecho da suposta afirmação da candidata no Google, dá para ver que vários blogs publicaram esse texto, na íntegra, sem ter ideia da veracidade ou não do que foi escrito. Em alguns casos, antes da matéria havia uma assinatura do G1 (portal da Globo), tentando assegurar a autenticidade do texto. Buscando no G1, não há qualquer matéria com essa afirmação da candidata. Ou seja: pessoas analfabetas radicalizando nas tentativas de denegrir um candidato.
O terceiro e-mail contém uma série de slides apontando uma suposta parcialidade do Ibope nas pesquisas dos presidenciáveis. Um dos slides, chamado "RESUMO/BR", faz uma radiografia das cidades em todo o país que teriam sido entrevistadas pelo instituto.
"Total de prefeituras do PSDB: 785
Total de prefeituras do PT: 547
Cidades do PSDB/Coligados entrevistadas: 39
Cidades do PT/Coligados entrevistadas: 132
2 cidades do PV
Total de cidades: 173
Total de entrevistas: 5.506
Total de eleitores: 134.080.517"
Não há citação da fonte originária dessa produção. Jogando um trecho dos slides no Google, vários blogs (para variar) aparecem comentando o assunto, alguns contendo bastante informação. Apesar de, particularmente, não acreditar em pesquisas de qualquer gênero por diversas razões (por exemplo, de cerca de 30 pessoas com quem conversei, 25 votarão na Marina, e veja só onde ela está nas pesquisas [é claro que isso depende de cada região e cada realidade, o que reforça a minha descrença em pesquisas]), sei que sem pensarem na veracidade disso as pessoas espalharam o e-mail com o simples intuito de apontar manipulação por um partido político. Ou seja: a internet facilitou o esquecimento da ética para o uso de mensagens apelativas e falsas para denegrir os candidatos!
PS: não duvido de manipulações (e quem duvida?), por mais que essa tenha ou não sido forjada, ou erros involuntários em pesquisas.
A internet tornou-se parte fundamental das campanhas políticas. Infelizmente, um dos meios de promoção de determinado candidato é justamente denegrir o outro. Esses e-mails que recebi hoje não continham pedidos diretos de votos, mas todos conhecemos pelo menos uma pessoa que fala mal de um candidato para engrandecer outro. Não?
Marina
Grande parte das discussões realizadas próximas à mim parecia tiroteios ideológicos. Quase invariavelmente um dos lados, ao saber que outra pessoa apoiava outro candidato, falava tudo de ruim que ouvira falar dessa pessoa. As conversas não envolviam mais as propostas, e sim a Dilma ter roubado bancos e matado inocentes ("Mas ela vivia em outra realidade", dizem) e o Serra ter envolvimento com paraísos fiscais e ser aversivo à pobres (pode ser que não chegue a esse ponto, mas vamos combinar: 'Zé' Serra foi inacreditável). Dados relevantes? Sim! Mas não são eles que devem prevalecer nas eleições! Dessa maneira as pessoas tentam eleger a pessoa com o histórico menos sujo (o famoso "menos pior") sem destacar necessariamente o que eles têm de bom. As discussões políticas ficaram totalmente imbecis. É irritante ver como grande parte das discussões envolvem esse método simples de denegrir um candidato.
Uma das razões de eu ter escolhido a Marina Silva é o tipo de eleitor dela. Li um artigo inteligentíssimo de um amigo da minha mãe, no qual ele mostra apoio à Marina pela mesma razão que eu e muitos outros. Diferente dessa rixa entre Serra e Dilma, os eleitores da Marina estão mais empenhados em enaltecer suas qualidades do que denegrir os outros candidatos. Basicamente todo mundo que eu conheço votará nela.
Candidata diferente, talvez exagerando um pouco nas marteladas em assuntos relacionados à Sustentabilidade (tanto quanto o Serra exagera na Saúde ["hipocondríaco", segundo Plínio], a Dilma no seu parentesco com Lula [Lula + Frankenstein = Dilma?] e o Plínio nas piadas [que convenhamos, são divertidas e alegram os debates, fraquíssimos]), mas geralmente mostrando compreensão sobre diversos temas de relevância. Expõe sua história de superação diante de doenças e analfabetismo como sinal de que entende do que o país precisa. E, certamente, de pobreza ela entende mais que o Plínio, a Dilma e o Serra juntos. No debate da Record, realizado no dia 26, ela agradeceu a todos os eleitores jovens que estão fazendo campanha gratuita para ela. Fale que a mentalidade desse eleitor não é totalmente diferente dos outros, que ficam se matando?
O país está cansado de conviver com as políticas do PT, PSDB, e os seus coligados. No Estado de São Paulo, os petistas e derivados pedem que o PSDB "não exerça a continuidade no poder". É uma frase feliz (ou infeliz?) pois, se creem nisso, deviam se lembrar de que o PT está no poder do país há oito anos, então o partido também devia pular fora. Não sabemos da competência da Marina para governar o país (a Dilma, sabemos, não governaria - ela tem uma boa imagem graças ao Lula [que governaria por ela?]; o Serra tem grande experiência política, mas pode tender a seguir a política do PSDB de elitismo [eu vi um candidato a deputado federal do PSDB prometer que criará uma lei para evitar quebra de sigilo bancário {POR QUE NÓS POBRES LIGARÍAMOS PARA ISSO!?}]). Por isso, acho válido dar uma chance ao PV. O PT ou o PSDB no poder só manterá esses dois lados brigando sempre, e o PV não teve até agora a chance de mostrar o que pode fazer. Não é para mudar? Então mudem direito.
Mídia
Lula repudiou a imprensa brasileira e vice-versa atualmente. Ficou nítido que a maioria dos veículos é contra o PT, e tornou-se corriqueiro os jornais publicarem chamadas fortes contra o partido. A Veja publicou recentemente várias capas criticando o presidente e a possível sucessora. O Lula, no seu direito de comentar, mostrou-se contra a posição da mídia, obviamente. Errado o fato de a mídia repudiar a crítica dele. Afinal, ela critica tanto o homem, e ele tem o direito de responder. O problema é que a grande mídia entendeu a continuidade do PT como um problema, e fez valer o seu direito de lutar pelo "justo", ainda mais depois de sucessivas e discretas tentativas de haver uma manipulação do poder por parte do PT (lembram da Dilma falando 'what the fuck esse artigo de controlar a mídia fazia no meu plano de presidência?'?).
Parcialidade? O Estadão confirmou isso no editorial chamado 'O Mal a Evitar' do dia 25 de setembro. Declarou abertamente apoio ao Serra. Isso é algo a que não nos habituamos a ver - a mídia admitindo sua parcialidade. Demorou para isso acontecer, na verdade, pois já era óbvio, mas antes tarde do que nunca, é admirável (ou menos vergonhoso?) que o veículo tenha tomado essa atitude. Na faculdade, ouvimos muito falar de imparcialidade, mas sabemos que, em determinados momentos, se for por uma boa causa (e não para fazer jornalismo marrom), devemos fazê-lo. Os demais veículos contra o PT não tomaram o mesmo partido, e provavelmente não arriscarão publicar algo do gênero. A Istoé, pelo contrário (e sem admitir), está apoiando o PT, o que ficou bem visível na matéria de capa 'A onda vermelha' publicada em 24 de setembro. É difícil saber se as atitudes dos veículos são virtuosas, pois eles mesmo é que costumam deter as informações e conflitá-las. É tanta incoerência que temos dificuldade em saber o que mais se aproxima do correto, e a ideia jornalística de um veículo ser formador de opinião chega a ser preocupante.
Palhaçada
Tiririca, Netinho, Mulher Pera, Mulher Melão, Tati Quebra Barraco, Reginaldo Rossi, Leandro e Kiko do KLB (dobradinha musical em cargo estadual e federal [rima animal]), Batoré, Ronaldo Esper, Vampeta, Marcelinho Carioca e Dinei (Corinthians em massa), Tulio Maravilha, Bebeto, Romário, (já temos meio time de futebol), Maguila, Gretchen. Eis alguns dos candidatos a deputado e senador no Brasil.
Pode parecer que viver de música, futebol e humor não rende muito. Às vezes, não rende mesmo. Pode ser uma das razões para que esses candidatos estejam aí. Mas imagina-se que eles mal saibam a função de um vereador, muito menos a de um deputado estadual e federal ou de um senador (Tiririca diz: "O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto"). Então por que estão aí? Cabos eleitorais! O Tiririca é um dos melhores exemplos atuais para isso: um palhaço sendo eleito para tratar de política, considerada palhaçada por muita gente. Muito provavelmente será eleito por essa combinação de sua função com a imagem da política. E o que acontece com isso? Pelo sistema proporcional das eleições aplicado esse ano, os votos de um candidato também elegem outros candidatos do partido/coligação.
Fazendo um cálculo meio insano (levando em consideração candidatos, partidos e eleitores em determinada região), o Tiririca poderá levar um monte de candidatos, como o Agnaldo Timóteo (cantor, que como vereador de São Paulo tentou mudar o nome do parque do Ibirapuera para parque Michael Jackson), Valdemar Costa Neto (que renunciou do cargo de deputado federal em 2005 para escapar da cassação após ser acusado de participar do mensalão), Luciana Costa (que assumiu o lugar deixado pelo Enéas Carneiro [saudades das propostas de fazer bomba atômica no país]), Milton Monti (deputado federal que tentou tornar obrigatório o ensino de LATIM nas escolas brasileiras [muita gente se forma sem nem saber português, e ele quer implantar o latim?]) e o pastor Paulo Freire (que é contra a adoção por casais gays, direito reconhecido pelo Supremo Tribunal de Justiça).
O exemplo mais famoso desse evento ocorreu em 2002, quando o Enéas foi eleito com votos suficientes (1,5 milhão de votos) para levar consigo outros cinco candidatos. Um desses políticos, Vanderlei Assis, entrou recebendo apenas 275 votos nominais e, logicamente, fez presepada e renunciou após envolvimento em um escândalo. *com informações da Folha
Ou seja: a palhaçada de eleger gente como o Tiririca muito provavelmente comprometerá a eficiência da política no âmbito nacional.
PS: é sério que tem gente que vai votar no Netinho? Qual é a ideia? Pedir para ele implantar a lei João do Tatuapé para contrariar a Maria da Penha e, a exemplo dele, podermos bater nas mulheres? Vi esse comentário em uma matéria no site da Folha:
"Netinho errou feio neste caso de bater em mulher, é lamentável, votarei resignado mas votarei nele, como um homem erra e tem a chance de se aperfeiçoar eu espero que ele tenha se perdoado e aprendido que em mulher não se bate nem com uma flor, é uma atitude repugnante sem dúvida essa que ele cometeu no passado."
O cara não vai ajudar o país de maneira alguma, representa um retrocesso (e a ignorância das pessoas), será eleito e levará alguns colegas junto. É mole?
Ficha Limpa
Parece outra palhaçada ver como metade dos ministros do país insistem em votar contra a aplicação imediata da Ficha Limpa, alegando inconstitucionalidade, cláusula pétrea e qualquer outro termo complicado para a "segurança" do país. Depois de mais de 10 horas de discussão, encerrada na madrugada do dia 24, cinco ministros votaram a favor e cinco contra a aplicação imediata. O voto definitivo seria o do 11º ministro, cuja cadeira está vaga desde a aposentadoria do Eros Grau.
Segundo consta na mídia, apesar do empate a lei está em vigor, por não ter sido considerada inconstitucional, e os candidatos fichas-suja terão de recorrer à Justiça e depender da palavra final do Supremo Tribunal Federal. Em uma entrevista publicada numa matéria no Estadão:
"Como ficam as eleições?
A lei não foi declarada inconstitucional. É uma vitória, mas vai causar bastante confusão. Num plenário com 10 ministros, 5 reconheceram que a lei da Ficha Limpa não viola a Constituição. Temos uma lei que vale para essa eleição. Isso é muito importante. A frustração teria sido maior ainda se a maioria dos ministros tivesse votado pela inconstitucionalidade."
Se valer mesmo para agora, ótimo! Fico pensando se inventarem de analisar as candidaturas após as eleições. Nisso, Maluf e companhia terão sido eleitos, levando seus coleguinhas às cadeiras nacionais, e mesmo se mais votados forem chutados, alguma sequela ficará ali (leia-se políticos como Vanderlei Assis, que entrou graças ao Enéas e fez cagada), a não ser que os votos sejam anulados ou outra providência seja tomada (talvez alguma medida já existente da qual eu não tenha conhecimento). Isso sem falar no Joaquim Roriz, ex-candidato ao governo do Distrito Federal, que foi barrado pela Justiça e resolveu lançar a esposa como candidata nos últimos dias. Putz.
Lixo
É incrível como o mundo real e o virtual estão sujos com as propagandas! Fiquei com muita vontade de fazer igual aos responsáveis por um canal do Youtube chamado Vandativismo, no qual o único vídeo hospedado é uma resposta aos políticos (e os responsáveis pelas propagandas) que entopem as cidades de cartazes e cavaletes. A Justiça intensificou a fiscalização dessa propaganda, proibindo a colocação de cavaletes em canteiros e locais que atrapalhem a circulação. Nas propagandas que não respeitam a lei, chutes, fogo, e sprays (indicando o número da lei que proíbe isso).
Na internet, as comunidades (pelo menos no Orkut) viraram palco de discussões infames, do tipo que comentei no início do texto. Além disso, há diversas propagandas inúteis, a ponto de candidatos tentarem fazer apelos emocionais. Em comunidades de São Luiz do Paraitinga (cidade em que morei, atingida por uma enchente no início do ano), vi um político criando um tópico com o nome, todo em maiúsculo mesmo, "POR SÃO LUIZ E PELO AMOR DE DEUS". Já sabia que viria besteira, e não deu outra. Não havia uma proposta sequer para a cidade, e todos os compromissos eram superficiais. Nada a ver com São Luiz. Esses tópicos foram apagados, mas apareceram vários outros, incluindo tópicos enaltecendo as capacidades do Mercadante (o desespero para o PSDB conseguir o poder nacional é o mesmo do PT para conseguir o poder no Estado).
Infelizmente, muita gente entende a questão de ajudar um político a se eleger como a necessidade de fazer qualquer coisa que venha à cabeça para engrandecê-lo.
Agora sim, depois de um desabafo quilométrico, dá para fazer o pedido arroz com feijão:
Porra, gente, vamos votar direito!?
Espero ter alguma notícia boa depois do dia 3 de outubro.
E-mails
É estressionante ver como diariamente trocentos e-mails relacionados à política chegam a mim (e outras milhares de pessoas). O problema não é receber algo relacionado à política, e sim ver que invariavelmente esses textos (geralmente mal escritos) têm a simples missão de denegrir um dos candidatos à presidência do Brasil. Abusando da ética, começam a surgir informações das quais ninguém, nem os próprios candidatos, sabiam. Tal candidato (não) falou isso, e tal candidato (não) fez aquilo! Só hoje eu recebi três e-mails de uma amiga: um falando dos votos nulos, e dois falando da Dilma.
Quanto ao voto nulo, há uma corrente antiga circulando na internet pregando que se 51% dos votos válidos para um dos cargos forem nulos, as eleições para aquela(s) cadeira(s) deverão ser refeitas com candidatos diferentes dos que participaram dessa candidatura. Numa rápida pesquisa na internet, vê-se que a corrente existe desde 2000 e até agora tem força, mas que não faz sentido algum. De fato, há uma maneira de anular as eleições: com nulidade de votos (e não votos nulos) maior que 50%. A nulidade ocorre quando qualquer elemento do voto torna-o inválido (fraudado). Se essa porcentagem for alcançada, uma nova eleição deverá ser realizada em aproximadamente um mês, mas não há qualquer constatação de que o novo pleito deverá ser realizado com candidatos diferentes.
Quanto aos e-mails da Dilma, um fala de uma suposta afirmação da candidata que teria sido feita durante a inauguração de um comitê em Minas Gerais. Reproduzirei os pontos mais críticos:
"Após a inauguração de um comité em Minas, Dilma é entrevistada por um jornalista local. veja:
como a senhora vê o crescimento da sua candidatura nas pesquisas?
O povo brasileiro sabe escolher, é a continuidade do governo Lula, e após as eleições nós vamos dessarmar o palanque e estender os braços aos nossos adversários, o candidato Serra está convidado a participar do meu governo, porque nesta eleição nem mesmo cristo querendo, me tira essa vitória, as pesquisas comprovam o que eu estou dizendo, vou ganhar no primeiro turno.
[...]
Poucos minutos após a entrevista, já tinha caido na internet, twitter.... e ela disse ter sido mal interpretada e que a frase não foi essa, porém alguns mineiros já repudiam a candidata e o quadro eleitoral começa a dar uma reviravolta, em Minas a petista estava a frente de José Serra e agora Serra já ultrapassou com uma vantagem de 5 pontos, tanto que Aécio Neves já está aparecendo na TV pedindo aos mineiros o apoio unanime a Serra.
IMPORTANTE: a Dilma já está até sentando na cadeira presidencial, dá pra acreditar.
[...]
DILMA, a favor do Aborto e Acima de Jesus Cristo. até o Papa no vaticano já se manifestou contra essa frase."
Jogando o trecho da suposta afirmação da candidata no Google, dá para ver que vários blogs publicaram esse texto, na íntegra, sem ter ideia da veracidade ou não do que foi escrito. Em alguns casos, antes da matéria havia uma assinatura do G1 (portal da Globo), tentando assegurar a autenticidade do texto. Buscando no G1, não há qualquer matéria com essa afirmação da candidata. Ou seja: pessoas analfabetas radicalizando nas tentativas de denegrir um candidato.
O terceiro e-mail contém uma série de slides apontando uma suposta parcialidade do Ibope nas pesquisas dos presidenciáveis. Um dos slides, chamado "RESUMO/BR", faz uma radiografia das cidades em todo o país que teriam sido entrevistadas pelo instituto.
"Total de prefeituras do PSDB: 785
Total de prefeituras do PT: 547
Cidades do PSDB/Coligados entrevistadas: 39
Cidades do PT/Coligados entrevistadas: 132
2 cidades do PV
Total de cidades: 173
Total de entrevistas: 5.506
Total de eleitores: 134.080.517"
Não há citação da fonte originária dessa produção. Jogando um trecho dos slides no Google, vários blogs (para variar) aparecem comentando o assunto, alguns contendo bastante informação. Apesar de, particularmente, não acreditar em pesquisas de qualquer gênero por diversas razões (por exemplo, de cerca de 30 pessoas com quem conversei, 25 votarão na Marina, e veja só onde ela está nas pesquisas [é claro que isso depende de cada região e cada realidade, o que reforça a minha descrença em pesquisas]), sei que sem pensarem na veracidade disso as pessoas espalharam o e-mail com o simples intuito de apontar manipulação por um partido político. Ou seja: a internet facilitou o esquecimento da ética para o uso de mensagens apelativas e falsas para denegrir os candidatos!
PS: não duvido de manipulações (e quem duvida?), por mais que essa tenha ou não sido forjada, ou erros involuntários em pesquisas.
A internet tornou-se parte fundamental das campanhas políticas. Infelizmente, um dos meios de promoção de determinado candidato é justamente denegrir o outro. Esses e-mails que recebi hoje não continham pedidos diretos de votos, mas todos conhecemos pelo menos uma pessoa que fala mal de um candidato para engrandecer outro. Não?
Marina
Grande parte das discussões realizadas próximas à mim parecia tiroteios ideológicos. Quase invariavelmente um dos lados, ao saber que outra pessoa apoiava outro candidato, falava tudo de ruim que ouvira falar dessa pessoa. As conversas não envolviam mais as propostas, e sim a Dilma ter roubado bancos e matado inocentes ("Mas ela vivia em outra realidade", dizem) e o Serra ter envolvimento com paraísos fiscais e ser aversivo à pobres (pode ser que não chegue a esse ponto, mas vamos combinar: 'Zé' Serra foi inacreditável). Dados relevantes? Sim! Mas não são eles que devem prevalecer nas eleições! Dessa maneira as pessoas tentam eleger a pessoa com o histórico menos sujo (o famoso "menos pior") sem destacar necessariamente o que eles têm de bom. As discussões políticas ficaram totalmente imbecis. É irritante ver como grande parte das discussões envolvem esse método simples de denegrir um candidato.
Uma das razões de eu ter escolhido a Marina Silva é o tipo de eleitor dela. Li um artigo inteligentíssimo de um amigo da minha mãe, no qual ele mostra apoio à Marina pela mesma razão que eu e muitos outros. Diferente dessa rixa entre Serra e Dilma, os eleitores da Marina estão mais empenhados em enaltecer suas qualidades do que denegrir os outros candidatos. Basicamente todo mundo que eu conheço votará nela.
Candidata diferente, talvez exagerando um pouco nas marteladas em assuntos relacionados à Sustentabilidade (tanto quanto o Serra exagera na Saúde ["hipocondríaco", segundo Plínio], a Dilma no seu parentesco com Lula [Lula + Frankenstein = Dilma?] e o Plínio nas piadas [que convenhamos, são divertidas e alegram os debates, fraquíssimos]), mas geralmente mostrando compreensão sobre diversos temas de relevância. Expõe sua história de superação diante de doenças e analfabetismo como sinal de que entende do que o país precisa. E, certamente, de pobreza ela entende mais que o Plínio, a Dilma e o Serra juntos. No debate da Record, realizado no dia 26, ela agradeceu a todos os eleitores jovens que estão fazendo campanha gratuita para ela. Fale que a mentalidade desse eleitor não é totalmente diferente dos outros, que ficam se matando?
O país está cansado de conviver com as políticas do PT, PSDB, e os seus coligados. No Estado de São Paulo, os petistas e derivados pedem que o PSDB "não exerça a continuidade no poder". É uma frase feliz (ou infeliz?) pois, se creem nisso, deviam se lembrar de que o PT está no poder do país há oito anos, então o partido também devia pular fora. Não sabemos da competência da Marina para governar o país (a Dilma, sabemos, não governaria - ela tem uma boa imagem graças ao Lula [que governaria por ela?]; o Serra tem grande experiência política, mas pode tender a seguir a política do PSDB de elitismo [eu vi um candidato a deputado federal do PSDB prometer que criará uma lei para evitar quebra de sigilo bancário {POR QUE NÓS POBRES LIGARÍAMOS PARA ISSO!?}]). Por isso, acho válido dar uma chance ao PV. O PT ou o PSDB no poder só manterá esses dois lados brigando sempre, e o PV não teve até agora a chance de mostrar o que pode fazer. Não é para mudar? Então mudem direito.
Mídia
Lula repudiou a imprensa brasileira e vice-versa atualmente. Ficou nítido que a maioria dos veículos é contra o PT, e tornou-se corriqueiro os jornais publicarem chamadas fortes contra o partido. A Veja publicou recentemente várias capas criticando o presidente e a possível sucessora. O Lula, no seu direito de comentar, mostrou-se contra a posição da mídia, obviamente. Errado o fato de a mídia repudiar a crítica dele. Afinal, ela critica tanto o homem, e ele tem o direito de responder. O problema é que a grande mídia entendeu a continuidade do PT como um problema, e fez valer o seu direito de lutar pelo "justo", ainda mais depois de sucessivas e discretas tentativas de haver uma manipulação do poder por parte do PT (lembram da Dilma falando 'what the fuck esse artigo de controlar a mídia fazia no meu plano de presidência?'?).
Parcialidade? O Estadão confirmou isso no editorial chamado 'O Mal a Evitar' do dia 25 de setembro. Declarou abertamente apoio ao Serra. Isso é algo a que não nos habituamos a ver - a mídia admitindo sua parcialidade. Demorou para isso acontecer, na verdade, pois já era óbvio, mas antes tarde do que nunca, é admirável (ou menos vergonhoso?) que o veículo tenha tomado essa atitude. Na faculdade, ouvimos muito falar de imparcialidade, mas sabemos que, em determinados momentos, se for por uma boa causa (e não para fazer jornalismo marrom), devemos fazê-lo. Os demais veículos contra o PT não tomaram o mesmo partido, e provavelmente não arriscarão publicar algo do gênero. A Istoé, pelo contrário (e sem admitir), está apoiando o PT, o que ficou bem visível na matéria de capa 'A onda vermelha' publicada em 24 de setembro. É difícil saber se as atitudes dos veículos são virtuosas, pois eles mesmo é que costumam deter as informações e conflitá-las. É tanta incoerência que temos dificuldade em saber o que mais se aproxima do correto, e a ideia jornalística de um veículo ser formador de opinião chega a ser preocupante.
Palhaçada
Tiririca, Netinho, Mulher Pera, Mulher Melão, Tati Quebra Barraco, Reginaldo Rossi, Leandro e Kiko do KLB (dobradinha musical em cargo estadual e federal [rima animal]), Batoré, Ronaldo Esper, Vampeta, Marcelinho Carioca e Dinei (Corinthians em massa), Tulio Maravilha, Bebeto, Romário, (já temos meio time de futebol), Maguila, Gretchen. Eis alguns dos candidatos a deputado e senador no Brasil.
Pode parecer que viver de música, futebol e humor não rende muito. Às vezes, não rende mesmo. Pode ser uma das razões para que esses candidatos estejam aí. Mas imagina-se que eles mal saibam a função de um vereador, muito menos a de um deputado estadual e federal ou de um senador (Tiririca diz: "O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto"). Então por que estão aí? Cabos eleitorais! O Tiririca é um dos melhores exemplos atuais para isso: um palhaço sendo eleito para tratar de política, considerada palhaçada por muita gente. Muito provavelmente será eleito por essa combinação de sua função com a imagem da política. E o que acontece com isso? Pelo sistema proporcional das eleições aplicado esse ano, os votos de um candidato também elegem outros candidatos do partido/coligação.
Fazendo um cálculo meio insano (levando em consideração candidatos, partidos e eleitores em determinada região), o Tiririca poderá levar um monte de candidatos, como o Agnaldo Timóteo (cantor, que como vereador de São Paulo tentou mudar o nome do parque do Ibirapuera para parque Michael Jackson), Valdemar Costa Neto (que renunciou do cargo de deputado federal em 2005 para escapar da cassação após ser acusado de participar do mensalão), Luciana Costa (que assumiu o lugar deixado pelo Enéas Carneiro [saudades das propostas de fazer bomba atômica no país]), Milton Monti (deputado federal que tentou tornar obrigatório o ensino de LATIM nas escolas brasileiras [muita gente se forma sem nem saber português, e ele quer implantar o latim?]) e o pastor Paulo Freire (que é contra a adoção por casais gays, direito reconhecido pelo Supremo Tribunal de Justiça).
O exemplo mais famoso desse evento ocorreu em 2002, quando o Enéas foi eleito com votos suficientes (1,5 milhão de votos) para levar consigo outros cinco candidatos. Um desses políticos, Vanderlei Assis, entrou recebendo apenas 275 votos nominais e, logicamente, fez presepada e renunciou após envolvimento em um escândalo. *com informações da Folha
Ou seja: a palhaçada de eleger gente como o Tiririca muito provavelmente comprometerá a eficiência da política no âmbito nacional.
PS: é sério que tem gente que vai votar no Netinho? Qual é a ideia? Pedir para ele implantar a lei João do Tatuapé para contrariar a Maria da Penha e, a exemplo dele, podermos bater nas mulheres? Vi esse comentário em uma matéria no site da Folha:
"Netinho errou feio neste caso de bater em mulher, é lamentável, votarei resignado mas votarei nele, como um homem erra e tem a chance de se aperfeiçoar eu espero que ele tenha se perdoado e aprendido que em mulher não se bate nem com uma flor, é uma atitude repugnante sem dúvida essa que ele cometeu no passado."
O cara não vai ajudar o país de maneira alguma, representa um retrocesso (e a ignorância das pessoas), será eleito e levará alguns colegas junto. É mole?
Ficha Limpa
Parece outra palhaçada ver como metade dos ministros do país insistem em votar contra a aplicação imediata da Ficha Limpa, alegando inconstitucionalidade, cláusula pétrea e qualquer outro termo complicado para a "segurança" do país. Depois de mais de 10 horas de discussão, encerrada na madrugada do dia 24, cinco ministros votaram a favor e cinco contra a aplicação imediata. O voto definitivo seria o do 11º ministro, cuja cadeira está vaga desde a aposentadoria do Eros Grau.
Segundo consta na mídia, apesar do empate a lei está em vigor, por não ter sido considerada inconstitucional, e os candidatos fichas-suja terão de recorrer à Justiça e depender da palavra final do Supremo Tribunal Federal. Em uma entrevista publicada numa matéria no Estadão:
"Como ficam as eleições?
A lei não foi declarada inconstitucional. É uma vitória, mas vai causar bastante confusão. Num plenário com 10 ministros, 5 reconheceram que a lei da Ficha Limpa não viola a Constituição. Temos uma lei que vale para essa eleição. Isso é muito importante. A frustração teria sido maior ainda se a maioria dos ministros tivesse votado pela inconstitucionalidade."
Se valer mesmo para agora, ótimo! Fico pensando se inventarem de analisar as candidaturas após as eleições. Nisso, Maluf e companhia terão sido eleitos, levando seus coleguinhas às cadeiras nacionais, e mesmo se mais votados forem chutados, alguma sequela ficará ali (leia-se políticos como Vanderlei Assis, que entrou graças ao Enéas e fez cagada), a não ser que os votos sejam anulados ou outra providência seja tomada (talvez alguma medida já existente da qual eu não tenha conhecimento). Isso sem falar no Joaquim Roriz, ex-candidato ao governo do Distrito Federal, que foi barrado pela Justiça e resolveu lançar a esposa como candidata nos últimos dias. Putz.
Lixo
É incrível como o mundo real e o virtual estão sujos com as propagandas! Fiquei com muita vontade de fazer igual aos responsáveis por um canal do Youtube chamado Vandativismo, no qual o único vídeo hospedado é uma resposta aos políticos (e os responsáveis pelas propagandas) que entopem as cidades de cartazes e cavaletes. A Justiça intensificou a fiscalização dessa propaganda, proibindo a colocação de cavaletes em canteiros e locais que atrapalhem a circulação. Nas propagandas que não respeitam a lei, chutes, fogo, e sprays (indicando o número da lei que proíbe isso).
Na internet, as comunidades (pelo menos no Orkut) viraram palco de discussões infames, do tipo que comentei no início do texto. Além disso, há diversas propagandas inúteis, a ponto de candidatos tentarem fazer apelos emocionais. Em comunidades de São Luiz do Paraitinga (cidade em que morei, atingida por uma enchente no início do ano), vi um político criando um tópico com o nome, todo em maiúsculo mesmo, "POR SÃO LUIZ E PELO AMOR DE DEUS". Já sabia que viria besteira, e não deu outra. Não havia uma proposta sequer para a cidade, e todos os compromissos eram superficiais. Nada a ver com São Luiz. Esses tópicos foram apagados, mas apareceram vários outros, incluindo tópicos enaltecendo as capacidades do Mercadante (o desespero para o PSDB conseguir o poder nacional é o mesmo do PT para conseguir o poder no Estado).
Infelizmente, muita gente entende a questão de ajudar um político a se eleger como a necessidade de fazer qualquer coisa que venha à cabeça para engrandecê-lo.
Agora sim, depois de um desabafo quilométrico, dá para fazer o pedido arroz com feijão:
Porra, gente, vamos votar direito!?
Espero ter alguma notícia boa depois do dia 3 de outubro.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Fogo
Estamos acostumados (principalmente pessoas da minha geração) a ouvir frases um tanto quanto pesadas com relação ao destino da humanidade e demais seres vivos, incluindo o próprio planeta, como 'o futuro está nas mãos dos jovens', e 'veja a que ponto o mundo chegou'.
Não sei a razão, mas desde a minha adolescência a primeira frase vem à minha cabeça com certa frequência, e eu realmente acabo me sentindo parte de um grupo responsável por tomar alguma atitude decente pelo mundo.
Quanto à segunda frase, ainda me lembro do dia em que estava entrando no condomínio no qual morei em São Paulo até 2006, quando uma moradora reclamava com o porteiro a respeito da situação do mundo: catástrofes, desigualdade, corrupção, violência. Ela citava passagens pertencentes à suas crenças, e acreditava que os eventos negativos que se tornaram corriqueiros eram indícios do fim dos tempos.
Por mais que nunca tenha tido envolvimento com qualquer tipo de grupo que se mobilize para o fim da depredação no mundo - quando era mais novo eu tinha a maior vontade de participar daquelas invasões pacíficas do Greenpeace a navios que caçam baleias; hoje eu sou mais viking, e sou mais a favor da lei de talião com pessoas sem escrúpulos que destroem o planeta por dinheiro ou prazer - eu cresci com um certo idealismo, mesmo sem sair falando para os outros pararem de jogar lixo nas ruas e cousas do gênero.
Sempre tive a consciência de que não vou salvar o mundo (as primeiras coisas que falam quando você ingressa na faculdade de jornalismo: 1. você não vai ficar rico; 2. você não vai salvar o mundo), mas tenho a meta de fazer algo relevante que possa mudar algumas pessoas, e que elas façam o mesmo com mais pessoas, e por aí vai. Não pretendo me tornar um ecochato para aparecer, e sim tentar mobilizar as pessoas para atitudes simples que já ajudem o mundo de alguma maneira.
Sei que há eventos catastróficos que ocorrem no mundo que não necessariamente são causados pelo humano (afinal, a natureza tem seus ciclos, e algumas vezes as mudanças podem causar deformidades no que era comum no ciclo anterior, causando alterações na temperatura, solo, etc), mas a questão vai além das ações da natureza. Aparentemente tudo gira em torno do aquecimento global, e uns jogam a culpa nos outros pelos aumentos graduais da temperatura nos últimos anos, enquanto outros dizem que os atos humanos não interferem tanto nas alterações repentinas que ocorrem no planeta. Mais do que qualquer coisa, as consequências mais discutidas são os impactos que essas alterações trarão às vidas humanas.
Independente de quem está correto, qualquer uma das afirmações quer dizer que o humano interfere na vida dos outros, principalmente na dos que não são humanos. E há pessoas que não veem importância em qualquer uma das constatações, e não só não colaboram com o planeta como conseguem piorar bastante a situação.
Isso acontece em diversos graus: há grandes empresas que, procurando criar boas imagens, dizem que preservam o meio ambiente e tentam contribuir para a inclusão social dos desfavorecidos, enquanto do outro lado permitem vazamentos ou promovem a desigualdade com trabalhos escravos em cantos escondidos do mundo.
No caso desse texto, o exemplo usado não será uma grande empresa, que visa lucros milionários, e sim pessoas quaisqueres, como eu ou quem ler isso.
Hoje, enquanto assistia a um telejornal para realizar as tarefas diárias do trabalho, vi uma matéria aqui da região falando de um incêndio criminoso na rodovia Oswaldo Cruz, que liga Taubaté, no Vale do Paraíba, a Ubatuba, no litoral norte (entre as duas cidades está São Luiz do Paraitinga, onde morei durante três anos).
Muito provavelmente não é criminoso no sentido de que alguém pegou um lança-chamas e incendiou o local para empobrecer um fazendeiro qualquer. Deve ter sido, simplesmente, um imbecil que passava de carro e jogou uma bituca de cigarro no mato seco - não há chuva nessa região há dois meses. O custo dessa queimada estúpida: 400.000 m² (equivalente a mais de 50 campos de futebol, levando em conta um cálculo médio das exigências da Fifa para um campo, 105x70m).
Segundo a reportagem, foram registrados 1.219 focos de incêndio em 2009 nesta região. Faltando quatro meses para o fim de 2010, 1.697 focos já foram registrados nesse ano. Destes, a maioria teria tido início causado pelas típicas ações irresponsáveis, como jogar uma bituca de cigarro no mato ou iniciar um incêndio """""controlado""""", que também é uma atitude babaca, visto que isso empobrece muito o solo, e muitos infelizes fazem isso querendo limpar o espaço para começar a cultivar algo.
O que dá para dizer a essas pessoas? Aliás, muitas delas nem sabem o tremendo prejuízo que causaram à natureza - fauna e flora - e a proprietários dos terrenos queimados, porque só estão de passagem por ali!
Outra notícia de hoje? "Parque (Nacional) das Emas sofre destruição de 90%". O parque, situado no Centro-Oeste, tem 132.000 hectares (usando os mesmos cálculos de antes, isso equivale a quase 180.000 campos de futebol). A destruição de 90% equivale a 118.000 hectares (ISSO EQUIVALE A MAIS DE CENTO E SESSENTA MIL CAMPOS DE FUTEBOL!). O fogo começou em plantios de soja ao redor do parque e se alastrou pelos fortes ventos dos últimos dias.
Para esclarecer um pouco mais (e não deixar a entender que só o equivalente a campos de futebol foi queimado), consultando a Wikipedia encontrei o tópico "Importância do parque". Em resumo, ali era um ponto fundamental para manter características da fauna e flora do Cerrado. Ali tentava-se manter vivo, pelo que contei, 51 espécies da fauna, e 42 da flora. Dentre elas, várias espécies em extinção!
Voltando à matéria do Estadão, dados indicam que a maior parte dos incêndios ocorrem no Cerrado, e que 67% deles começam em áreas privadas, com índios ou fazendeiros imbecis que tentam fazer essa "queimada controlada", e acabam ferrando com tudo. Ou seja: para "cuidarem" de suas terras, eles acabam com centenas de espécies.
Sério, se o mundo estivesse nas mãos da minha geração, eu pediria a liberação do porte de tacos de beisebol para a aplicação de disciplinamentos mais rígidos... no entanto, tem tanta gente da minha idade que ajuda a piorar as coisas que às vezes eu fico é pensando em como o mundo seria mais feliz daqui para frente se todos os humanos sumissem...
Não sei a razão, mas desde a minha adolescência a primeira frase vem à minha cabeça com certa frequência, e eu realmente acabo me sentindo parte de um grupo responsável por tomar alguma atitude decente pelo mundo.
Quanto à segunda frase, ainda me lembro do dia em que estava entrando no condomínio no qual morei em São Paulo até 2006, quando uma moradora reclamava com o porteiro a respeito da situação do mundo: catástrofes, desigualdade, corrupção, violência. Ela citava passagens pertencentes à suas crenças, e acreditava que os eventos negativos que se tornaram corriqueiros eram indícios do fim dos tempos.
Por mais que nunca tenha tido envolvimento com qualquer tipo de grupo que se mobilize para o fim da depredação no mundo - quando era mais novo eu tinha a maior vontade de participar daquelas invasões pacíficas do Greenpeace a navios que caçam baleias; hoje eu sou mais viking, e sou mais a favor da lei de talião com pessoas sem escrúpulos que destroem o planeta por dinheiro ou prazer - eu cresci com um certo idealismo, mesmo sem sair falando para os outros pararem de jogar lixo nas ruas e cousas do gênero.
Sempre tive a consciência de que não vou salvar o mundo (as primeiras coisas que falam quando você ingressa na faculdade de jornalismo: 1. você não vai ficar rico; 2. você não vai salvar o mundo), mas tenho a meta de fazer algo relevante que possa mudar algumas pessoas, e que elas façam o mesmo com mais pessoas, e por aí vai. Não pretendo me tornar um ecochato para aparecer, e sim tentar mobilizar as pessoas para atitudes simples que já ajudem o mundo de alguma maneira.
Sei que há eventos catastróficos que ocorrem no mundo que não necessariamente são causados pelo humano (afinal, a natureza tem seus ciclos, e algumas vezes as mudanças podem causar deformidades no que era comum no ciclo anterior, causando alterações na temperatura, solo, etc), mas a questão vai além das ações da natureza. Aparentemente tudo gira em torno do aquecimento global, e uns jogam a culpa nos outros pelos aumentos graduais da temperatura nos últimos anos, enquanto outros dizem que os atos humanos não interferem tanto nas alterações repentinas que ocorrem no planeta. Mais do que qualquer coisa, as consequências mais discutidas são os impactos que essas alterações trarão às vidas humanas.
Independente de quem está correto, qualquer uma das afirmações quer dizer que o humano interfere na vida dos outros, principalmente na dos que não são humanos. E há pessoas que não veem importância em qualquer uma das constatações, e não só não colaboram com o planeta como conseguem piorar bastante a situação.
Isso acontece em diversos graus: há grandes empresas que, procurando criar boas imagens, dizem que preservam o meio ambiente e tentam contribuir para a inclusão social dos desfavorecidos, enquanto do outro lado permitem vazamentos ou promovem a desigualdade com trabalhos escravos em cantos escondidos do mundo.
No caso desse texto, o exemplo usado não será uma grande empresa, que visa lucros milionários, e sim pessoas quaisqueres, como eu ou quem ler isso.
Hoje, enquanto assistia a um telejornal para realizar as tarefas diárias do trabalho, vi uma matéria aqui da região falando de um incêndio criminoso na rodovia Oswaldo Cruz, que liga Taubaté, no Vale do Paraíba, a Ubatuba, no litoral norte (entre as duas cidades está São Luiz do Paraitinga, onde morei durante três anos).
Muito provavelmente não é criminoso no sentido de que alguém pegou um lança-chamas e incendiou o local para empobrecer um fazendeiro qualquer. Deve ter sido, simplesmente, um imbecil que passava de carro e jogou uma bituca de cigarro no mato seco - não há chuva nessa região há dois meses. O custo dessa queimada estúpida: 400.000 m² (equivalente a mais de 50 campos de futebol, levando em conta um cálculo médio das exigências da Fifa para um campo, 105x70m).
Segundo a reportagem, foram registrados 1.219 focos de incêndio em 2009 nesta região. Faltando quatro meses para o fim de 2010, 1.697 focos já foram registrados nesse ano. Destes, a maioria teria tido início causado pelas típicas ações irresponsáveis, como jogar uma bituca de cigarro no mato ou iniciar um incêndio """""controlado""""", que também é uma atitude babaca, visto que isso empobrece muito o solo, e muitos infelizes fazem isso querendo limpar o espaço para começar a cultivar algo.
O que dá para dizer a essas pessoas? Aliás, muitas delas nem sabem o tremendo prejuízo que causaram à natureza - fauna e flora - e a proprietários dos terrenos queimados, porque só estão de passagem por ali!
Outra notícia de hoje? "Parque (Nacional) das Emas sofre destruição de 90%". O parque, situado no Centro-Oeste, tem 132.000 hectares (usando os mesmos cálculos de antes, isso equivale a quase 180.000 campos de futebol). A destruição de 90% equivale a 118.000 hectares (ISSO EQUIVALE A MAIS DE CENTO E SESSENTA MIL CAMPOS DE FUTEBOL!). O fogo começou em plantios de soja ao redor do parque e se alastrou pelos fortes ventos dos últimos dias.
Para esclarecer um pouco mais (e não deixar a entender que só o equivalente a campos de futebol foi queimado), consultando a Wikipedia encontrei o tópico "Importância do parque". Em resumo, ali era um ponto fundamental para manter características da fauna e flora do Cerrado. Ali tentava-se manter vivo, pelo que contei, 51 espécies da fauna, e 42 da flora. Dentre elas, várias espécies em extinção!
Voltando à matéria do Estadão, dados indicam que a maior parte dos incêndios ocorrem no Cerrado, e que 67% deles começam em áreas privadas, com índios ou fazendeiros imbecis que tentam fazer essa "queimada controlada", e acabam ferrando com tudo. Ou seja: para "cuidarem" de suas terras, eles acabam com centenas de espécies.
Sério, se o mundo estivesse nas mãos da minha geração, eu pediria a liberação do porte de tacos de beisebol para a aplicação de disciplinamentos mais rígidos... no entanto, tem tanta gente da minha idade que ajuda a piorar as coisas que às vezes eu fico é pensando em como o mundo seria mais feliz daqui para frente se todos os humanos sumissem...
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Amizade (nostalgia+post gigante)
"Pode acontecer um monte de merda na minha vida, mas se tem algo de que não posso reclamar é dos amigos que tenho."
O Mineiro (amigo de São Luiz do Paraitinga) falou isso nesse final de semana, enquanto íamos de ônibus à Lagoinha, para passar o dia com o Kannu (nós três tocávamos juntos). Fazia cerca de um mês que eu não via o Mineiro, e acho que uns seis meses que não via o Kannu.
Eu os conheci logo que mudei para São Luiz: o Mineiro trabalhava como chapeiro e sempre deixava um violão guardado embaixo do carrinho de lanches, e depois de conhecê-lo comecei a levar o meu violão também para tocarmos juntos. Para socializar mais fácil, aprendi a tocar uma música da qual nem gostava tanto para tocar com ele e com outro amigo nosso. Alguns meses depois conheci o Kannu, que curtia rock tanto quanto eu, mas que também não sabia tocar tanto - igual a mim e ao Mineiro.
Começamos a tocar juntos e a fazer apresentações pela cidade (restaurantes, festival de inverno, etc), e algum tempo depois resolvemos renomear o grupo e tocar músicas próprias (sendo uma delas a que linkei lá em cima).
Nossa primeira apresentação, no festival de inverno, em julho de 2007
Apresentação num restaurante, provavelmente em 2007 também
Apresentação no festival de inverno de 2008, quando tínhamos um baterista e resolvemos fazer uma apresentação mais rock'n'roll (com direito a gritos, pulos, caras de maus, e eu com camisa aberta no frio)
Acústico que eu e Mineiro fizemos em 2008 durante um evento cultural
Tempos depois, o Mineiro foi embora de São Luiz para morar em Taubaté (que não é longe) e trabalhar em outro lugar. O Kannu começou a tocar em um grupo sertanejo - o grupo já tem um cd gravado e se apresenta em várias cidades - e foi morar em Lagoinha (20 km de SLP), onde os outros membros da banda moram. Com a enchente, também fui embora. Estou abrigado em Taubaté até me formar, e mesmo assim não pude voltar a tocar com o Mineiro por aqui devido às divergências em nossos horários.
Nenhum de nós três conversa diariamente, e às vezes ficamos um bom tempo sem contato. Aí resolvemos tirar um fim de semana para fazer um 'back to the good old times' lá em Lagoinha, aproveitando que estava tendo um rodeio por lá.
No momento em que o Mineiro falou a frase que destaquei lá em cima eu estava segurando o choro. Depois, quando encontramos o Kannu em sua casa, pegamos violões e baixo e começamos a improvisar as músicas. Começamos com 'Born to be wild', mas depois foi a vez de tocar 'Cartas de baralho'. Quando a música terminou, os três estavam com cara de bunda, e começamos a falar da nossa amizade depois de o Kannu ter dito 'já já eu vou chorar se continuar assim'. Até escrevendo essa parte eu quase chorei.
Tem MUITA gente que passa por nossas vidas, com quem temos contato diariamente, e que por mais que haja conversa, troca de ideias, balada, não é criado um vínculo afetivo assim. Esse é o tipo de pessoa de quem você vai lembrar por um tempo, ter saudade de um momento ou outro, e só.
Os outros, de quem você sempre lembra, e eventualmente fica desanimado pela falta que o contato faz, são aqueles que te dão orgulho quando você diz que são 'irmãos'. São aqueles idiotas que marcam algum programa, e que no final das contas só ficaram bebendo juntos num bar qualquer ou ficaram jogando no computador até o amanhecer enquanto falavam de problemas amorosos e de garotas que mexiam conosco. Essa é a parte mais triste de você ver na marra os ciclos da vida de cada um passando, pois é comum que a linha traçada por cada um separe esse grupo e leve cada pessoa a lugares distintos.
Até hoje, por exemplo, dói ao lembrar de quando fui embora de São Paulo. Passei os meus últimos dias lá com os meus amigos, e nunca vou esquecer da última despedida que tive na noite anterior à minha partida. Estava dentro do elevador com o Renan (que passava o dia no meu apartamento, e eventualmente traçava minhas marmitex), e quando chegamos ao andar no qual ele morava, depois de 20 segundos de silêncio, desabamos no choro, parecendo duas criancinhas. Aí a boadrasta dele, que estava com a porta de casa aberta, veio me abraçar também... devia estar achando que éramos malucos. Acho que essa foi a despedida mais triste que já tive.
Tenho outros grandes amigos de lá também, daqueles que ignoram a técnica do 'abraço de homem' (típico de homem que gosta de abraçar quem não é tão amigo, mas que para não se sentir maricas evita mais de um segundo de contato e cousas do gênero). É abraço forte, com tapas, enquanto um xinga o outro dos mais variados e pesados palavrões possíveis.
Renan e eu... isso deve ser em 2004 ou 2005
Johan, Tico, Marcel, Felipe, Renan, e eu capotando
Marcel, eu, Leon, Johan e Tico, quando eu já não morava mais em São Paulo - virei a noite com eles na capital pra viajar de manhã pra Prainha Branca (noite memorável)
Meu primeiro carnaval em São Luiz do Paraitinga, em 2007, com direito a visita do Marcel e Johan
Agora, depois de tantas fotos e legendas nostálgicas, vem o outro lado da coisa: se eu não tivesse ido embora de São Paulo, eu não teria conhecido o Mineiro e o Kannu, e ninguém da faculdade em que estudo, e por aí vai. É aí que tá a graça da coisa! Em algum momento devemos partir do local em que estamos, mas ao invés de lamentos e mais lamentos pela distância dessas pessoas queridas, devemos nos contentar por termos ensinado algo a elas e vice-versa no tempo em que estávamos próximos, e por sabermos que poderemos ensinar outras coisas a novas pessoas, e com elas aprendermos algo diferente.
Cada ciclo de nossa vida tem um momento certo para começar e terminar, e a cada mudança devemos ter o coração e a mente abertos para recebermos novas pessoas, e, consequentemente, novos aprendizados.
Então, à quem parte de algum lugar, aproveite os novos lugares e as novas pessoas que conhecerá: a saudade de pessoas vivas não deve ser tão dolorosa, pois, por mais longe que estejam, as pessoas terão uma chance de encontro em algum momento. Na verdade, acho que nem a saudade de pessoas mortas deve ser tão dolorosa. As lembranças aparecem, e com elas o choro, mas acho que o que prevalesce são os momentos que as pessoas tiveram juntos. Tem lugares do mundo onde as pessoas até festejam a morte de alguém! Acho que, na atual conjuntura, não é difícil uma pessoa morta ir a um lugar melhor que o mundo de hoje...
PS: apesar da "proximidade" trazida pela internet, é sacal ficar horas conversando virtualmente com quem você costumava encontrar diariamente. Na maioria das vezes eu prefiro conversar vez ou outra com as pessoas, saber que elas estão vivas e inteiras, e deixar crescer a saudade costumeira de quem vivia décadas antes de inventarem a internet. Prefiro assim, ainda mais quando as pessoas que estão distantes não estão TÃO distantes, e posso encontrá-las a qualquer hora (fórmula do 'qualquer hora': tempo livre + dinheiro - faculdade - trabalho de conclusão de curso - estágio = qualquer hora).
PS2: apesar de fazer menção apenas aos amigos aqui, tudo o que falei aqui é aplicável à minha família, principalmente no quesito saudade, visto que dificilmente consigo vê-la. No caso mamãe+gatos(igualmente da família)+eu, a situação é mais agravante, pois passamos vários anos juntos, acostumados a estarmos juntos, e nos afastamos involuntariamente (enchente fdp).
PS3: eu sou péssimo em demonstrar meus sentimentos pessoalmente, acredito que pela infância anti-social que tive, mas uma hora eu ia ter que falar essas coisas, nem que fosse pela internet.
PS4: acho que já dá pra renomear esse post como 'Bíblia 2: o império contra-ataca'
O Mineiro (amigo de São Luiz do Paraitinga) falou isso nesse final de semana, enquanto íamos de ônibus à Lagoinha, para passar o dia com o Kannu (nós três tocávamos juntos). Fazia cerca de um mês que eu não via o Mineiro, e acho que uns seis meses que não via o Kannu.
Eu os conheci logo que mudei para São Luiz: o Mineiro trabalhava como chapeiro e sempre deixava um violão guardado embaixo do carrinho de lanches, e depois de conhecê-lo comecei a levar o meu violão também para tocarmos juntos. Para socializar mais fácil, aprendi a tocar uma música da qual nem gostava tanto para tocar com ele e com outro amigo nosso. Alguns meses depois conheci o Kannu, que curtia rock tanto quanto eu, mas que também não sabia tocar tanto - igual a mim e ao Mineiro.
Começamos a tocar juntos e a fazer apresentações pela cidade (restaurantes, festival de inverno, etc), e algum tempo depois resolvemos renomear o grupo e tocar músicas próprias (sendo uma delas a que linkei lá em cima).
Nossa primeira apresentação, no festival de inverno, em julho de 2007
Apresentação num restaurante, provavelmente em 2007 também
Apresentação no festival de inverno de 2008, quando tínhamos um baterista e resolvemos fazer uma apresentação mais rock'n'roll (com direito a gritos, pulos, caras de maus, e eu com camisa aberta no frio)
Acústico que eu e Mineiro fizemos em 2008 durante um evento cultural
Tempos depois, o Mineiro foi embora de São Luiz para morar em Taubaté (que não é longe) e trabalhar em outro lugar. O Kannu começou a tocar em um grupo sertanejo - o grupo já tem um cd gravado e se apresenta em várias cidades - e foi morar em Lagoinha (20 km de SLP), onde os outros membros da banda moram. Com a enchente, também fui embora. Estou abrigado em Taubaté até me formar, e mesmo assim não pude voltar a tocar com o Mineiro por aqui devido às divergências em nossos horários.
Nenhum de nós três conversa diariamente, e às vezes ficamos um bom tempo sem contato. Aí resolvemos tirar um fim de semana para fazer um 'back to the good old times' lá em Lagoinha, aproveitando que estava tendo um rodeio por lá.
No momento em que o Mineiro falou a frase que destaquei lá em cima eu estava segurando o choro. Depois, quando encontramos o Kannu em sua casa, pegamos violões e baixo e começamos a improvisar as músicas. Começamos com 'Born to be wild', mas depois foi a vez de tocar 'Cartas de baralho'. Quando a música terminou, os três estavam com cara de bunda, e começamos a falar da nossa amizade depois de o Kannu ter dito 'já já eu vou chorar se continuar assim'. Até escrevendo essa parte eu quase chorei.
Tem MUITA gente que passa por nossas vidas, com quem temos contato diariamente, e que por mais que haja conversa, troca de ideias, balada, não é criado um vínculo afetivo assim. Esse é o tipo de pessoa de quem você vai lembrar por um tempo, ter saudade de um momento ou outro, e só.
Os outros, de quem você sempre lembra, e eventualmente fica desanimado pela falta que o contato faz, são aqueles que te dão orgulho quando você diz que são 'irmãos'. São aqueles idiotas que marcam algum programa, e que no final das contas só ficaram bebendo juntos num bar qualquer ou ficaram jogando no computador até o amanhecer enquanto falavam de problemas amorosos e de garotas que mexiam conosco. Essa é a parte mais triste de você ver na marra os ciclos da vida de cada um passando, pois é comum que a linha traçada por cada um separe esse grupo e leve cada pessoa a lugares distintos.
Até hoje, por exemplo, dói ao lembrar de quando fui embora de São Paulo. Passei os meus últimos dias lá com os meus amigos, e nunca vou esquecer da última despedida que tive na noite anterior à minha partida. Estava dentro do elevador com o Renan (que passava o dia no meu apartamento, e eventualmente traçava minhas marmitex), e quando chegamos ao andar no qual ele morava, depois de 20 segundos de silêncio, desabamos no choro, parecendo duas criancinhas. Aí a boadrasta dele, que estava com a porta de casa aberta, veio me abraçar também... devia estar achando que éramos malucos. Acho que essa foi a despedida mais triste que já tive.
Tenho outros grandes amigos de lá também, daqueles que ignoram a técnica do 'abraço de homem' (típico de homem que gosta de abraçar quem não é tão amigo, mas que para não se sentir maricas evita mais de um segundo de contato e cousas do gênero). É abraço forte, com tapas, enquanto um xinga o outro dos mais variados e pesados palavrões possíveis.
Renan e eu... isso deve ser em 2004 ou 2005
Johan, Tico, Marcel, Felipe, Renan, e eu capotando
Marcel, eu, Leon, Johan e Tico, quando eu já não morava mais em São Paulo - virei a noite com eles na capital pra viajar de manhã pra Prainha Branca (noite memorável)
Meu primeiro carnaval em São Luiz do Paraitinga, em 2007, com direito a visita do Marcel e Johan
Agora, depois de tantas fotos e legendas nostálgicas, vem o outro lado da coisa: se eu não tivesse ido embora de São Paulo, eu não teria conhecido o Mineiro e o Kannu, e ninguém da faculdade em que estudo, e por aí vai. É aí que tá a graça da coisa! Em algum momento devemos partir do local em que estamos, mas ao invés de lamentos e mais lamentos pela distância dessas pessoas queridas, devemos nos contentar por termos ensinado algo a elas e vice-versa no tempo em que estávamos próximos, e por sabermos que poderemos ensinar outras coisas a novas pessoas, e com elas aprendermos algo diferente.
Cada ciclo de nossa vida tem um momento certo para começar e terminar, e a cada mudança devemos ter o coração e a mente abertos para recebermos novas pessoas, e, consequentemente, novos aprendizados.
Então, à quem parte de algum lugar, aproveite os novos lugares e as novas pessoas que conhecerá: a saudade de pessoas vivas não deve ser tão dolorosa, pois, por mais longe que estejam, as pessoas terão uma chance de encontro em algum momento. Na verdade, acho que nem a saudade de pessoas mortas deve ser tão dolorosa. As lembranças aparecem, e com elas o choro, mas acho que o que prevalesce são os momentos que as pessoas tiveram juntos. Tem lugares do mundo onde as pessoas até festejam a morte de alguém! Acho que, na atual conjuntura, não é difícil uma pessoa morta ir a um lugar melhor que o mundo de hoje...
PS: apesar da "proximidade" trazida pela internet, é sacal ficar horas conversando virtualmente com quem você costumava encontrar diariamente. Na maioria das vezes eu prefiro conversar vez ou outra com as pessoas, saber que elas estão vivas e inteiras, e deixar crescer a saudade costumeira de quem vivia décadas antes de inventarem a internet. Prefiro assim, ainda mais quando as pessoas que estão distantes não estão TÃO distantes, e posso encontrá-las a qualquer hora (fórmula do 'qualquer hora': tempo livre + dinheiro - faculdade - trabalho de conclusão de curso - estágio = qualquer hora).
PS2: apesar de fazer menção apenas aos amigos aqui, tudo o que falei aqui é aplicável à minha família, principalmente no quesito saudade, visto que dificilmente consigo vê-la. No caso mamãe+gatos(igualmente da família)+eu, a situação é mais agravante, pois passamos vários anos juntos, acostumados a estarmos juntos, e nos afastamos involuntariamente (enchente fdp).
PS3: eu sou péssimo em demonstrar meus sentimentos pessoalmente, acredito que pela infância anti-social que tive, mas uma hora eu ia ter que falar essas coisas, nem que fosse pela internet.
PS4: acho que já dá pra renomear esse post como 'Bíblia 2: o império contra-ataca'
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