quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Amizade (nostalgia+post gigante)

"Pode acontecer um monte de merda na minha vida, mas se tem algo de que não posso reclamar é dos amigos que tenho."

O Mineiro (amigo de São Luiz do Paraitinga) falou isso nesse final de semana, enquanto íamos de ônibus à Lagoinha, para passar o dia com o Kannu (nós três tocávamos juntos). Fazia cerca de um mês que eu não via o Mineiro, e acho que uns seis meses que não via o Kannu.

Eu os conheci logo que mudei para São Luiz: o Mineiro trabalhava como chapeiro e sempre deixava um violão guardado embaixo do carrinho de lanches, e depois de conhecê-lo comecei a levar o meu violão também para tocarmos juntos. Para socializar mais fácil, aprendi a tocar uma música da qual nem gostava tanto para tocar com ele e com outro amigo nosso. Alguns meses depois conheci o Kannu, que curtia rock tanto quanto eu, mas que também não sabia tocar tanto - igual a mim e ao Mineiro.

Começamos a tocar juntos e a fazer apresentações pela cidade (restaurantes, festival de inverno, etc), e algum tempo depois resolvemos renomear o grupo e tocar músicas próprias (sendo uma delas a que linkei lá em cima).



Nossa primeira apresentação, no festival de inverno, em julho de 2007




Apresentação num restaurante, provavelmente em 2007 também




Apresentação no festival de inverno de 2008, quando tínhamos um baterista e resolvemos fazer uma apresentação mais rock'n'roll (com direito a gritos, pulos, caras de maus, e eu com camisa aberta no frio)




Acústico que eu e Mineiro fizemos em 2008 durante um evento cultural


Tempos depois, o Mineiro foi embora de São Luiz para morar em Taubaté (que não é longe) e trabalhar em outro lugar. O Kannu começou a tocar em um grupo sertanejo - o grupo já tem um cd gravado e se apresenta em várias cidades - e foi morar em Lagoinha (20 km de SLP), onde os outros membros da banda moram. Com a enchente, também fui embora. Estou abrigado em Taubaté até me formar, e mesmo assim não pude voltar a tocar com o Mineiro por aqui devido às divergências em nossos horários.

Nenhum de nós três conversa diariamente, e às vezes ficamos um bom tempo sem contato. Aí resolvemos tirar um fim de semana para fazer um 'back to the good old times' lá em Lagoinha, aproveitando que estava tendo um rodeio por lá.

No momento em que o Mineiro falou a frase que destaquei lá em cima eu estava segurando o choro. Depois, quando encontramos o Kannu em sua casa, pegamos violões e baixo e começamos a improvisar as músicas. Começamos com 'Born to be wild', mas depois foi a vez de tocar 'Cartas de baralho'. Quando a música terminou, os três estavam com cara de bunda, e começamos a falar da nossa amizade depois de o Kannu ter dito 'já já eu vou chorar se continuar assim'. Até escrevendo essa parte eu quase chorei.

Tem MUITA gente que passa por nossas vidas, com quem temos contato diariamente, e que por mais que haja conversa, troca de ideias, balada, não é criado um vínculo afetivo assim. Esse é o tipo de pessoa de quem você vai lembrar por um tempo, ter saudade de um momento ou outro, e só.

Os outros, de quem você sempre lembra, e eventualmente fica desanimado pela falta que o contato faz, são aqueles que te dão orgulho quando você diz que são 'irmãos'. São aqueles idiotas que marcam algum programa, e que no final das contas só ficaram bebendo juntos num bar qualquer ou ficaram jogando no computador até o amanhecer enquanto falavam de problemas amorosos e de garotas que mexiam conosco. Essa é a parte mais triste de você ver na marra os ciclos da vida de cada um passando, pois é comum que a linha traçada por cada um separe esse grupo e leve cada pessoa a lugares distintos.

Até hoje, por exemplo, dói ao lembrar de quando fui embora de São Paulo. Passei os meus últimos dias lá com os meus amigos, e nunca vou esquecer da última despedida que tive na noite anterior à minha partida. Estava dentro do elevador com o Renan (que passava o dia no meu apartamento, e eventualmente traçava minhas marmitex), e quando chegamos ao andar no qual ele morava, depois de 20 segundos de silêncio, desabamos no choro, parecendo duas criancinhas. Aí a boadrasta dele, que estava com a porta de casa aberta, veio me abraçar também... devia estar achando que éramos malucos. Acho que essa foi a despedida mais triste que já tive.

Tenho outros grandes amigos de lá também, daqueles que ignoram a técnica do 'abraço de homem' (típico de homem que gosta de abraçar quem não é tão amigo, mas que para não se sentir maricas evita mais de um segundo de contato e cousas do gênero). É abraço forte, com tapas, enquanto um xinga o outro dos mais variados e pesados palavrões possíveis.



Renan e eu... isso deve ser em 2004 ou 2005




Johan, Tico, Marcel, Felipe, Renan, e eu capotando




Marcel, eu, Leon, Johan e Tico, quando eu já não morava mais em São Paulo - virei a noite com eles na capital pra viajar de manhã pra Prainha Branca (noite memorável)




Meu primeiro carnaval em São Luiz do Paraitinga, em 2007, com direito a visita do Marcel e Johan


Agora, depois de tantas fotos e legendas nostálgicas, vem o outro lado da coisa: se eu não tivesse ido embora de São Paulo, eu não teria conhecido o Mineiro e o Kannu, e ninguém da faculdade em que estudo, e por aí vai. É aí que tá a graça da coisa! Em algum momento devemos partir do local em que estamos, mas ao invés de lamentos e mais lamentos pela distância dessas pessoas queridas, devemos nos contentar por termos ensinado algo a elas e vice-versa no tempo em que estávamos próximos, e por sabermos que poderemos ensinar outras coisas a novas pessoas, e com elas aprendermos algo diferente.

Cada ciclo de nossa vida tem um momento certo para começar e terminar, e a cada mudança devemos ter o coração e a mente abertos para recebermos novas pessoas, e, consequentemente, novos aprendizados.

Então, à quem parte de algum lugar, aproveite os novos lugares e as novas pessoas que conhecerá: a saudade de pessoas vivas não deve ser tão dolorosa, pois, por mais longe que estejam, as pessoas terão uma chance de encontro em algum momento. Na verdade, acho que nem a saudade de pessoas mortas deve ser tão dolorosa. As lembranças aparecem, e com elas o choro, mas acho que o que prevalesce são os momentos que as pessoas tiveram juntos. Tem lugares do mundo onde as pessoas até festejam a morte de alguém! Acho que, na atual conjuntura, não é difícil uma pessoa morta ir a um lugar melhor que o mundo de hoje...

PS: apesar da "proximidade" trazida pela internet, é sacal ficar horas conversando virtualmente com quem você costumava encontrar diariamente. Na maioria das vezes eu prefiro conversar vez ou outra com as pessoas, saber que elas estão vivas e inteiras, e deixar crescer a saudade costumeira de quem vivia décadas antes de inventarem a internet. Prefiro assim, ainda mais quando as pessoas que estão distantes não estão TÃO distantes, e posso encontrá-las a qualquer hora (fórmula do 'qualquer hora': tempo livre + dinheiro - faculdade - trabalho de conclusão de curso - estágio = qualquer hora).

PS2: apesar de fazer menção apenas aos amigos aqui, tudo o que falei aqui é aplicável à minha família, principalmente no quesito saudade, visto que dificilmente consigo vê-la. No caso mamãe+gatos(igualmente da família)+eu, a situação é mais agravante, pois passamos vários anos juntos, acostumados a estarmos juntos, e nos afastamos involuntariamente (enchente fdp).

PS3: eu sou péssimo em demonstrar meus sentimentos pessoalmente, acredito que pela infância anti-social que tive, mas uma hora eu ia ter que falar essas coisas, nem que fosse pela internet.

PS4: acho que já dá pra renomear esse post como 'Bíblia 2: o império contra-ataca'

Um comentário:

  1. hahahahahahaha post legal cara, vc escreve bem! e tem uma queda por fórmulas =P
    eu passei bastante por isso também, mas como acho um saco ficar falando, só vou falar que gostei do post!

    Abraço

    ResponderExcluir