Estava querendo publicar algo relacionado às eleições, mas sem ser aquele arroz com feijão, do tipo "vamos votar consciente dessa vez, serão quatro anos de mandato, blablabla whiskas sachê". Então fiz um apanhado (e vou apanhar de tanto que escrevi) de tudo o que vi recentemente (e, claro, dando meus pitacos).
E-mails
É estressionante ver como diariamente trocentos e-mails relacionados à política chegam a mim (e outras milhares de pessoas). O problema não é receber algo relacionado à política, e sim ver que invariavelmente esses textos (geralmente mal escritos) têm a simples missão de denegrir um dos candidatos à presidência do Brasil. Abusando da ética, começam a surgir informações das quais ninguém, nem os próprios candidatos, sabiam. Tal candidato (não) falou isso, e tal candidato (não) fez aquilo! Só hoje eu recebi três e-mails de uma amiga: um falando dos votos nulos, e dois falando da Dilma.
Quanto ao voto nulo, há uma corrente antiga circulando na internet pregando que se 51% dos votos válidos para um dos cargos forem nulos, as eleições para aquela(s) cadeira(s) deverão ser refeitas com candidatos diferentes dos que participaram dessa candidatura. Numa rápida pesquisa na internet, vê-se que a corrente existe desde 2000 e até agora tem força, mas que não faz sentido algum. De fato, há uma maneira de anular as eleições: com nulidade de votos (e não votos nulos) maior que 50%. A nulidade ocorre quando qualquer elemento do voto torna-o inválido (fraudado). Se essa porcentagem for alcançada, uma nova eleição deverá ser realizada em aproximadamente um mês, mas não há qualquer constatação de que o novo pleito deverá ser realizado com candidatos diferentes.
Quanto aos e-mails da Dilma, um fala de uma suposta afirmação da candidata que teria sido feita durante a inauguração de um comitê em Minas Gerais. Reproduzirei os pontos mais críticos:
"Após a inauguração de um comité em Minas, Dilma é entrevistada por um jornalista local. veja:
como a senhora vê o crescimento da sua candidatura nas pesquisas?
O povo brasileiro sabe escolher, é a continuidade do governo Lula, e após as eleições nós vamos dessarmar o palanque e estender os braços aos nossos adversários, o candidato Serra está convidado a participar do meu governo, porque nesta eleição nem mesmo cristo querendo, me tira essa vitória, as pesquisas comprovam o que eu estou dizendo, vou ganhar no primeiro turno.
[...]
Poucos minutos após a entrevista, já tinha caido na internet, twitter.... e ela disse ter sido mal interpretada e que a frase não foi essa, porém alguns mineiros já repudiam a candidata e o quadro eleitoral começa a dar uma reviravolta, em Minas a petista estava a frente de José Serra e agora Serra já ultrapassou com uma vantagem de 5 pontos, tanto que Aécio Neves já está aparecendo na TV pedindo aos mineiros o apoio unanime a Serra.
IMPORTANTE: a Dilma já está até sentando na cadeira presidencial, dá pra acreditar.
[...]
DILMA, a favor do Aborto e Acima de Jesus Cristo. até o Papa no vaticano já se manifestou contra essa frase."
Jogando o trecho da suposta afirmação da candidata no Google, dá para ver que vários blogs publicaram esse texto, na íntegra, sem ter ideia da veracidade ou não do que foi escrito. Em alguns casos, antes da matéria havia uma assinatura do G1 (portal da Globo), tentando assegurar a autenticidade do texto. Buscando no G1, não há qualquer matéria com essa afirmação da candidata. Ou seja: pessoas analfabetas radicalizando nas tentativas de denegrir um candidato.
O terceiro e-mail contém uma série de slides apontando uma suposta parcialidade do Ibope nas pesquisas dos presidenciáveis. Um dos slides, chamado "RESUMO/BR", faz uma radiografia das cidades em todo o país que teriam sido entrevistadas pelo instituto.
"Total de prefeituras do PSDB: 785
Total de prefeituras do PT: 547
Cidades do PSDB/Coligados entrevistadas: 39
Cidades do PT/Coligados entrevistadas: 132
2 cidades do PV
Total de cidades: 173
Total de entrevistas: 5.506
Total de eleitores: 134.080.517"
Não há citação da fonte originária dessa produção. Jogando um trecho dos slides no Google, vários blogs (para variar) aparecem comentando o assunto, alguns contendo bastante informação. Apesar de, particularmente, não acreditar em pesquisas de qualquer gênero por diversas razões (por exemplo, de cerca de 30 pessoas com quem conversei, 25 votarão na Marina, e veja só onde ela está nas pesquisas [é claro que isso depende de cada região e cada realidade, o que reforça a minha descrença em pesquisas]), sei que sem pensarem na veracidade disso as pessoas espalharam o e-mail com o simples intuito de apontar manipulação por um partido político. Ou seja: a internet facilitou o esquecimento da ética para o uso de mensagens apelativas e falsas para denegrir os candidatos!
PS: não duvido de manipulações (e quem duvida?), por mais que essa tenha ou não sido forjada, ou erros involuntários em pesquisas.
A internet tornou-se parte fundamental das campanhas políticas. Infelizmente, um dos meios de promoção de determinado candidato é justamente denegrir o outro. Esses e-mails que recebi hoje não continham pedidos diretos de votos, mas todos conhecemos pelo menos uma pessoa que fala mal de um candidato para engrandecer outro. Não?
Marina
Grande parte das discussões realizadas próximas à mim parecia tiroteios ideológicos. Quase invariavelmente um dos lados, ao saber que outra pessoa apoiava outro candidato, falava tudo de ruim que ouvira falar dessa pessoa. As conversas não envolviam mais as propostas, e sim a Dilma ter roubado bancos e matado inocentes ("Mas ela vivia em outra realidade", dizem) e o Serra ter envolvimento com paraísos fiscais e ser aversivo à pobres (pode ser que não chegue a esse ponto, mas vamos combinar: 'Zé' Serra foi inacreditável). Dados relevantes? Sim! Mas não são eles que devem prevalecer nas eleições! Dessa maneira as pessoas tentam eleger a pessoa com o histórico menos sujo (o famoso "menos pior") sem destacar necessariamente o que eles têm de bom. As discussões políticas ficaram totalmente imbecis. É irritante ver como grande parte das discussões envolvem esse método simples de denegrir um candidato.
Uma das razões de eu ter escolhido a Marina Silva é o tipo de eleitor dela. Li um artigo inteligentíssimo de um amigo da minha mãe, no qual ele mostra apoio à Marina pela mesma razão que eu e muitos outros. Diferente dessa rixa entre Serra e Dilma, os eleitores da Marina estão mais empenhados em enaltecer suas qualidades do que denegrir os outros candidatos. Basicamente todo mundo que eu conheço votará nela.
Candidata diferente, talvez exagerando um pouco nas marteladas em assuntos relacionados à Sustentabilidade (tanto quanto o Serra exagera na Saúde ["hipocondríaco", segundo Plínio], a Dilma no seu parentesco com Lula [Lula + Frankenstein = Dilma?] e o Plínio nas piadas [que convenhamos, são divertidas e alegram os debates, fraquíssimos]), mas geralmente mostrando compreensão sobre diversos temas de relevância. Expõe sua história de superação diante de doenças e analfabetismo como sinal de que entende do que o país precisa. E, certamente, de pobreza ela entende mais que o Plínio, a Dilma e o Serra juntos. No debate da Record, realizado no dia 26, ela agradeceu a todos os eleitores jovens que estão fazendo campanha gratuita para ela. Fale que a mentalidade desse eleitor não é totalmente diferente dos outros, que ficam se matando?
O país está cansado de conviver com as políticas do PT, PSDB, e os seus coligados. No Estado de São Paulo, os petistas e derivados pedem que o PSDB "não exerça a continuidade no poder". É uma frase feliz (ou infeliz?) pois, se creem nisso, deviam se lembrar de que o PT está no poder do país há oito anos, então o partido também devia pular fora. Não sabemos da competência da Marina para governar o país (a Dilma, sabemos, não governaria - ela tem uma boa imagem graças ao Lula [que governaria por ela?]; o Serra tem grande experiência política, mas pode tender a seguir a política do PSDB de elitismo [eu vi um candidato a deputado federal do PSDB prometer que criará uma lei para evitar quebra de sigilo bancário {POR QUE NÓS POBRES LIGARÍAMOS PARA ISSO!?}]). Por isso, acho válido dar uma chance ao PV. O PT ou o PSDB no poder só manterá esses dois lados brigando sempre, e o PV não teve até agora a chance de mostrar o que pode fazer. Não é para mudar? Então mudem direito.
Mídia
Lula repudiou a imprensa brasileira e vice-versa atualmente. Ficou nítido que a maioria dos veículos é contra o PT, e tornou-se corriqueiro os jornais publicarem chamadas fortes contra o partido. A Veja publicou recentemente várias capas criticando o presidente e a possível sucessora. O Lula, no seu direito de comentar, mostrou-se contra a posição da mídia, obviamente. Errado o fato de a mídia repudiar a crítica dele. Afinal, ela critica tanto o homem, e ele tem o direito de responder. O problema é que a grande mídia entendeu a continuidade do PT como um problema, e fez valer o seu direito de lutar pelo "justo", ainda mais depois de sucessivas e discretas tentativas de haver uma manipulação do poder por parte do PT (lembram da Dilma falando 'what the fuck esse artigo de controlar a mídia fazia no meu plano de presidência?'?).
Parcialidade? O Estadão confirmou isso no editorial chamado 'O Mal a Evitar' do dia 25 de setembro. Declarou abertamente apoio ao Serra. Isso é algo a que não nos habituamos a ver - a mídia admitindo sua parcialidade. Demorou para isso acontecer, na verdade, pois já era óbvio, mas antes tarde do que nunca, é admirável (ou menos vergonhoso?) que o veículo tenha tomado essa atitude. Na faculdade, ouvimos muito falar de imparcialidade, mas sabemos que, em determinados momentos, se for por uma boa causa (e não para fazer jornalismo marrom), devemos fazê-lo. Os demais veículos contra o PT não tomaram o mesmo partido, e provavelmente não arriscarão publicar algo do gênero. A Istoé, pelo contrário (e sem admitir), está apoiando o PT, o que ficou bem visível na matéria de capa 'A onda vermelha' publicada em 24 de setembro. É difícil saber se as atitudes dos veículos são virtuosas, pois eles mesmo é que costumam deter as informações e conflitá-las. É tanta incoerência que temos dificuldade em saber o que mais se aproxima do correto, e a ideia jornalística de um veículo ser formador de opinião chega a ser preocupante.
Palhaçada
Tiririca, Netinho, Mulher Pera, Mulher Melão, Tati Quebra Barraco, Reginaldo Rossi, Leandro e Kiko do KLB (dobradinha musical em cargo estadual e federal [rima animal]), Batoré, Ronaldo Esper, Vampeta, Marcelinho Carioca e Dinei (Corinthians em massa), Tulio Maravilha, Bebeto, Romário, (já temos meio time de futebol), Maguila, Gretchen. Eis alguns dos candidatos a deputado e senador no Brasil.
Pode parecer que viver de música, futebol e humor não rende muito. Às vezes, não rende mesmo. Pode ser uma das razões para que esses candidatos estejam aí. Mas imagina-se que eles mal saibam a função de um vereador, muito menos a de um deputado estadual e federal ou de um senador (Tiririca diz: "O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto"). Então por que estão aí? Cabos eleitorais! O Tiririca é um dos melhores exemplos atuais para isso: um palhaço sendo eleito para tratar de política, considerada palhaçada por muita gente. Muito provavelmente será eleito por essa combinação de sua função com a imagem da política. E o que acontece com isso? Pelo sistema proporcional das eleições aplicado esse ano, os votos de um candidato também elegem outros candidatos do partido/coligação.
Fazendo um cálculo meio insano (levando em consideração candidatos, partidos e eleitores em determinada região), o Tiririca poderá levar um monte de candidatos, como o Agnaldo Timóteo (cantor, que como vereador de São Paulo tentou mudar o nome do parque do Ibirapuera para parque Michael Jackson), Valdemar Costa Neto (que renunciou do cargo de deputado federal em 2005 para escapar da cassação após ser acusado de participar do mensalão), Luciana Costa (que assumiu o lugar deixado pelo Enéas Carneiro [saudades das propostas de fazer bomba atômica no país]), Milton Monti (deputado federal que tentou tornar obrigatório o ensino de LATIM nas escolas brasileiras [muita gente se forma sem nem saber português, e ele quer implantar o latim?]) e o pastor Paulo Freire (que é contra a adoção por casais gays, direito reconhecido pelo Supremo Tribunal de Justiça).
O exemplo mais famoso desse evento ocorreu em 2002, quando o Enéas foi eleito com votos suficientes (1,5 milhão de votos) para levar consigo outros cinco candidatos. Um desses políticos, Vanderlei Assis, entrou recebendo apenas 275 votos nominais e, logicamente, fez presepada e renunciou após envolvimento em um escândalo. *com informações da Folha
Ou seja: a palhaçada de eleger gente como o Tiririca muito provavelmente comprometerá a eficiência da política no âmbito nacional.
PS: é sério que tem gente que vai votar no Netinho? Qual é a ideia? Pedir para ele implantar a lei João do Tatuapé para contrariar a Maria da Penha e, a exemplo dele, podermos bater nas mulheres? Vi esse comentário em uma matéria no site da Folha:
"Netinho errou feio neste caso de bater em mulher, é lamentável, votarei resignado mas votarei nele, como um homem erra e tem a chance de se aperfeiçoar eu espero que ele tenha se perdoado e aprendido que em mulher não se bate nem com uma flor, é uma atitude repugnante sem dúvida essa que ele cometeu no passado."
O cara não vai ajudar o país de maneira alguma, representa um retrocesso (e a ignorância das pessoas), será eleito e levará alguns colegas junto. É mole?
Ficha Limpa
Parece outra palhaçada ver como metade dos ministros do país insistem em votar contra a aplicação imediata da Ficha Limpa, alegando inconstitucionalidade, cláusula pétrea e qualquer outro termo complicado para a "segurança" do país. Depois de mais de 10 horas de discussão, encerrada na madrugada do dia 24, cinco ministros votaram a favor e cinco contra a aplicação imediata. O voto definitivo seria o do 11º ministro, cuja cadeira está vaga desde a aposentadoria do Eros Grau.
Segundo consta na mídia, apesar do empate a lei está em vigor, por não ter sido considerada inconstitucional, e os candidatos fichas-suja terão de recorrer à Justiça e depender da palavra final do Supremo Tribunal Federal. Em uma entrevista publicada numa matéria no Estadão:
"Como ficam as eleições?
A lei não foi declarada inconstitucional. É uma vitória, mas vai causar bastante confusão. Num plenário com 10 ministros, 5 reconheceram que a lei da Ficha Limpa não viola a Constituição. Temos uma lei que vale para essa eleição. Isso é muito importante. A frustração teria sido maior ainda se a maioria dos ministros tivesse votado pela inconstitucionalidade."
Se valer mesmo para agora, ótimo! Fico pensando se inventarem de analisar as candidaturas após as eleições. Nisso, Maluf e companhia terão sido eleitos, levando seus coleguinhas às cadeiras nacionais, e mesmo se mais votados forem chutados, alguma sequela ficará ali (leia-se políticos como Vanderlei Assis, que entrou graças ao Enéas e fez cagada), a não ser que os votos sejam anulados ou outra providência seja tomada (talvez alguma medida já existente da qual eu não tenha conhecimento). Isso sem falar no Joaquim Roriz, ex-candidato ao governo do Distrito Federal, que foi barrado pela Justiça e resolveu lançar a esposa como candidata nos últimos dias. Putz.
Lixo
É incrível como o mundo real e o virtual estão sujos com as propagandas! Fiquei com muita vontade de fazer igual aos responsáveis por um canal do Youtube chamado Vandativismo, no qual o único vídeo hospedado é uma resposta aos políticos (e os responsáveis pelas propagandas) que entopem as cidades de cartazes e cavaletes. A Justiça intensificou a fiscalização dessa propaganda, proibindo a colocação de cavaletes em canteiros e locais que atrapalhem a circulação. Nas propagandas que não respeitam a lei, chutes, fogo, e sprays (indicando o número da lei que proíbe isso).
Na internet, as comunidades (pelo menos no Orkut) viraram palco de discussões infames, do tipo que comentei no início do texto. Além disso, há diversas propagandas inúteis, a ponto de candidatos tentarem fazer apelos emocionais. Em comunidades de São Luiz do Paraitinga (cidade em que morei, atingida por uma enchente no início do ano), vi um político criando um tópico com o nome, todo em maiúsculo mesmo, "POR SÃO LUIZ E PELO AMOR DE DEUS". Já sabia que viria besteira, e não deu outra. Não havia uma proposta sequer para a cidade, e todos os compromissos eram superficiais. Nada a ver com São Luiz. Esses tópicos foram apagados, mas apareceram vários outros, incluindo tópicos enaltecendo as capacidades do Mercadante (o desespero para o PSDB conseguir o poder nacional é o mesmo do PT para conseguir o poder no Estado).
Infelizmente, muita gente entende a questão de ajudar um político a se eleger como a necessidade de fazer qualquer coisa que venha à cabeça para engrandecê-lo.
Agora sim, depois de um desabafo quilométrico, dá para fazer o pedido arroz com feijão:
Porra, gente, vamos votar direito!?
Espero ter alguma notícia boa depois do dia 3 de outubro.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
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caríssimo nenê, não querendo ser cética, Sir Wiston Churchill disse uma vez: "A maior propaganda contra a democracia é uma conversa de 5 minutos com um eleitor mediano."
ResponderExcluirespere para ver o senado e a camara federal depois do dia 3, com shows de pagode e comedia, desfile de moda, e peladas em geral (de futebol e das componentes da salada de frutas).
Infelizmente a realidade é construída por numeros.
São Luiz, ótimo post!
ResponderExcluirGOstei de ler o manifesto anti-clichê!
abço