A princípio, o título desse post era "Títulos e manchetes", para falar um pouco de algumas coisas que vi recentemente, mas percebi que acabei falando um monte de coisa a mais. Por isso, "Um pouco de jornalismo" (meio aleatório) para vocês.
A maneira de abordar determinados assuntos no jornalismo sempre foi uma questão pautada pelas empresas, pelos jornalistas, e pelos estudantes, que às vezes também já se incluem na gama de jornalistas.
Nós sabemos que, em cinquenta e poucos caracteres (na internet não há tanto essa preocupação de limite de caracteres, visto que o espaço é infinito), devemos elaborar um título atrativo.
Se o leitor tiver interesse em ler, seja pelo assunto ou pela atratividade gerada pelo título, ele vai para o primeiro parágrafo da matéria, que geralmente é aquela fórmula manjada do jornalismo: o LEAD (ou lide, aportuguesadamente). Nele consta todas as informações básicas da matéria - as seis perguntas bááásicas, que são Quem, o Quê, Quando, Onde, Como e Por Quê (salvas exceções nas quais uma ou mais dessas perguntas não são tão relevantes).
Se depois de o leitor tiver se atraído pela chamada e pelo lead, ele prosseguirá a leitura. Depois do lead, poderá haver o sub-lead, e por aí vai. Às vezes as matérias podem ser montadas de outra maneira (às vezes os próprios leads podem ser algo menos diretos do que 'O padeiro João vendeu cinquenta pães hoje em sua padaria devido à grande circulação de turistas tailandeses'). Eu, particularmente, me interesso muito mais em escrever reportagens, com aberturas não tão secas, etc.
Pelo que me recordo (não, eu não estava vivo nessa época, mas foi o que me lembro de ter lido), o lead foi criado durante a Segunda Guerra Mundial, época em que havia dificuldades impostas (pela falta de tecnologia, sem falar em bombas caindo por todos os lugares e gente se metralhando pra lá e pra cá) nos campos de guerra, e os soldados responsáveis pelas reportagens (da situação do local) deviam ser breves nos relatos. Daí, tinham que responder especificamente as seis questões. Posteriormente, como vi no novo seriado Band of Brothers, os líderes dos grupos relatavam mais detalhadamente a história de um confronto.
Atualmente, o uso do lead, mas o lead básico do básico mesmo, que fala de uma cueca mas nem especifica a sua cor, é muuuito usado. Os jornais impressos continuam usando-o muito, em uma época na qual eles perderam muito espaço. Para que esperar ler amanhã no jornal com matérias de hoje algo que só contenha as informações mais básicas? Antes da metade do século XX, o rádio, mesmo com toda aquela aparelhagem pesada e complicada, estava saindo à frente do jornalismo na instantaneidade. Posteriormente, a televisão acabou mais ainda com a instantaneidade, e ainda oferecia imagens em movimento. Atualmente, a internet enterrou de vez esse jornalismo básico. Ela é a única que pode relatar, a qualquer hora do dia (pois não depende de uma grade de programação), determinado fato. Sendo assim, todos nós sabemos que o jornal impresso só vai se salvar se começar a investir em textos mais aprofundados, que contenham algo que o rádio, a televisão e a internet ainda não tenham relatado.
Mas enfim, história do jornalismo à parte, o que me fez querer escrever a respeito do jornalismo foi ter visto, em um dia, um título de matéria estranho em um veículo online e duas chamadas em um jornal pequeno da região.
O título estranho que vi é de uma matéria anunciando a festa do Divino Espírito Santo, em São Luiz do Paraitinga. Encontrei o mesmo texto em mais de um lugar (das duas uma: ou o texto é um release, cujo título foi alterado, ou um veículo copiou outro), e em um desses lugares o título é "São Luiz do Paraitinga realiza Festa do Divino para resgatar turistas".
Sabemos que a cidade passou por maus, péssimos bocados, mas há de se tomar cuidado com o que diz. O título, o chamariz primário da matéria, diz que a cidade realizará a festa PARA RESGATAR turistas. Ou seja: por esse título, podemos entender que, se não fosse a importância de se trazer turistas, não haveria festa.
É claro que cidades promovem eventos buscando arrecadar turistas e fundos, mas há outras que são tradicionais, e que independem da presença do turista. A Festa do Divino lá de São Luiz é uma dessas. É a festa mais tradicional da cidade (não é a que atrai mais gente, perdendo apenas para o carnaval - mas, em contrapartida, os turistas do Divino consomem e não sujam tanto a cidade quanto os do carnaval).
Vou falar mais dessa festa em outro post, quando a festa terminar, mas posso adiantar que ela, para os devotos não-comerciantes, não depende de turistas. Diversos eventos acontecem ao mesmo tempo, gerando até reclamações de turistas que falam da "desorganização". Essa "desorganização" é a demonstração de fé de cada um desses grupos. Eles estão lá para fazerem suas manifestações de uma maneira bonita, mas sem se importar em ficar chamando a atenção apenas para eles.
Ou seja: o título distorceu totalmente o foco da festa. Felizmente o texto não seguia esse enfoque.
A outra situação é de um pequeno jornal regional que vi lá no meu estágio, cuja capa havia duas manchetes falando de suicídios. Fala-se tanto que os veículos evitam abordar questões de suicídio, pelo risco de poder influenciar negativamente o público (que tocante os veículos midiáticos - ou uma parte dela - se importando com as pessoas), e nesse pequeno jornal duas das manchetes tratam disso.
Tudo bem, talvez pela simplicidade desse jornal ele não seja capaz de mobilizar as pessoas, e, felizmente, não afetar pessoas com tendências suicidas, mas de qualquer maneira podia ser um tema evitado (se você pensar que o jornal é pequeno, e que duas das manchetes tratavam disso, entende-se que uma parte significante do jornal falava de suicídio).
Aí eu me pergunto a razão de o jornal publicar isso. Falta de assunto? De ética? Às vezes eles até tiveram um bom motivo pra isso. Às vezes não. Podem ter feito propositalmente, querendo chamar a atenção mesmo correndo o risco de serem sensacionalistas, ou até pra dizerem que deram um furo de reportagem, pelo fato de os outros veículos não publicarem isso. É claro que esse argumento seria ridículo, então duvido um pouco que seja isso. E, no final das contas, podem ter feito sem pensar em tudo isso, na maior ingenuidade que um jornalista não deve ter quando publica algo sabendo que o seu texto pode ir looonge e afetar várias pessoas.
Por isso ouvimos tanto os professores (sejam os do espaço universitário ou profissional) falarem para termos cuidado com o que dizemos. Um dia, algo que publicamos pode afetar negativamente uma pessoa, e nós poderemos nem ficar sabendo disso. É por isso que os meios de comunicação são poderosas armas. E não é à toa que chamam a imprensa de Quarto Poder.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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Eu estou aqui, senhor jornalista \o/
ResponderExcluirAbração pra você !!!
^^