Em janeiro completou um ano que fui embora de São Luiz do Paraitinga. Foi um ano bem corrido, sem dar para respirar muito pensando no que aconteceu na casa em que eu morava e com a vida que eu tinha (a não ser para pautar o meu trabalho de conclusão de curso, relacionado à cidade).
Sem ficar me prendendo muito ao que ocorreu, consegui muitas coisas boas mesmo com as perdas do início do ano. Morando em Taubaté, conseguia dormir melhor, já que não viajava todos os dias, e ter mais tempo para estudar, trabalhar e ter uma vida social mais ampla. Respirei novos ares, conheci gente nova, e consegui inspiração para alguns projetos que não havia amadurecido nos anos anteriores. Mesmo assim eu ainda me sentia unido à cidade em que morava, tanto que sentia quase um dever em deixar algo que contribuísse com a cidade - sentimento que foi convertido no meu livro (que espero conseguir publicar logo).
Quase no Natal visitei a cidade pela última vez para entregar uma cópia em CD do meu trabalho a alguns amigos e colegas. Foi um dia meio triste, pois sabia que minhas visitas à cidade seriam menos frequentes, já que, findado o meu curso na faculdade, eu partiria do Vale do Paraíba. Sendo assim, aproveitei a situação para deixar um "até algum dia" a essas pessoas.
No final do ano, mais precisamente no dia 30 de novembro, fiquei satisfeito com o resultado daqueles meses de trabalho para concluir o TCC. A banca avaliadora, em especial um professor que adora a cidade tema do meu trabalho, ressaltava a minha coragem em retornar lá tantas vezes mesmo depois de ter passado por tudo o que passei. Ele disse não ter tido coragem de retornar lá uma vez sequer desde a tragédia.
É claro que fiquei feliz com o que o professor falou - tanto sobre a questão de enfrentar o lado emocional para produzir um trabalho quanto sobre a relevância do projeto -, mas para mim fica claro que isso é mais poético que real.
Hoje, um ano passado da tragédia, parei para olhar uma sequência de foto das consequências da chuva deste início de ano. Todos os dias há algo novo, mas hoje é que resolvi parar para ver uma sequência de 109 fotos. Na verdade, não sei o por quê de olhar essas fotos. Acho que foi pela curiosidade de descobrir o que eu sentiria ao ver fotos de tragédias do mesmo gênero da que me afetou há um ano.
Em alguns casos a descrição das fotos marcavam, já que nelas é que constavam números de mortos e outros problemas subsequentes. No mais, as imagens não me abalaram. Na verdade eu senti como se fosse possível usar aquelas mesmas fotos no meu trabalho, como se as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo fossem São Luiz do Paraitinga. E aí sim, voltando à São Luiz veio aquela dor por tudo. De entrar em casa e ver tudo de cabeça para baixo (no meu caso vale ressaltar a felicidade de ter cinco gatos sobreviventes), de andar pelas ruas e ver tudo marrom, inclusive o que as pessoas retiravam de suas casas, e de pensar no pavor das pessoas ao se perderem em pensamentos imaginando que suas vidas haviam acabado ali. Sei que, a cada tragédia que acontecer, o mesmo acontecerá nas novas vítimas.
E aí vem o pensamento adicional de tudo o que passei no decorrer do ano ao retornar à cidade e entrevistas as pessoas, de segurar o choro pelas que perderam tudo mas lutavam para recomeçar até os momentos de alegria ao ver que pessoas que eu conhecia estavam se reerguendo.
Eu, meio participante e meio espectador, sempre fui privilegiado por ter tocado a vida, na medida do possível, apesar dos apesares. Mesmo com a minha situação diferenciada, sempre fiz questão de mostrar que São Luiz não era uma cidade coitada, e que ganhara mais foco pelo bem cultural perdido do que por suas pessoas. No meu TCC, eu relatei mês a mês o que aconteceu na cidade, mas sempre apontando acontecimentos nacionais e internacionais graves, como o terremoto no Haiti e as enchentes no Paquistão.
Agora, um ano depois do acontecimento em São Luiz, que só tirou a vida de um homem durante um deslizamento, e de outros eventos que tiraram a vida de muita gente, nós voltamos a ver tragédias em todos os noticiários, como de costume, matando muita gente.
Na verdade nem sei bem por que estou escrevendo isso... depois de tanto tempo focado no TCC, que me prendia a algo que me marcou, pude descansar mais de um mês. Estava querendo escrever aqui, mas estava precisando divagar um pouco para voltar a pensar em outros assuntos, mas é difícil. Tendo passado por situações que lembram as que estão acontecendo atualmente, fico imaginando se as novas vítimas, daqui a um ano, serão tão privilegiadas quanto eu, que recebi apoio incomensurável dos meus amigos e consegui tocar em frente.
sábado, 15 de janeiro de 2011
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