segunda-feira, 8 de março de 2010

Simplicidade

Semanas corridas, pouco tempo para respirar, e muitas experiências boas. Desde que o trabalho no jornal de São Luiz do Paraitinga começou, meus finais de semana foram reduzidos. Meu descanso pode começar apenas no meio de sábado, ou até mesmo no domingo apenas.

Como todo estudante deve pensar, é empolgante começar a exercer a função para a qual você estuda. Não era como no primeiro ano, em que você chegava nas pessoas dizendo "Oi, eu sou estudante do primeiro ano de jornalismo da Unitau, e vou fazer matéria sobre blablabla whiskas sachê. Será que você pode responder algumas perguntas?".

A parte de ser estudante de jornalismo é mantida, mas a nova frase faz você se sentir um jornalista de verdade, principalmente por trabalhar no único jornal cujo objetivo é tratar apenas de assuntos relacionados ao município. Você começa a fazer contatos, as pessoas envolvidas com o poder público lembram de você, e por aí vai (apesar de que tive a felicidade de ouvir uma mulher da prefeitura dizer que se lembra de uma entrevista que fiz com ela no meio do ano passado, mesmo que fosse apenas um trabalho).

Mas tem as pessoas que não ligam direito para quem você é. Nas duas semanas de jornal trabalhei também com matérias relacionadas à zona rural e aos moradores da mesma. Na primeira semana de trabalho, cheguei às 7:30 da manhã de sábado em São Luiz para andar pela zona rural do município. O enfoque era a situação das residências e estradas atualmente (levando em conta que alguns lugares foram prejudicados por três enchentes, por exemplo, e que continuam sendo incomodados pela chuva).

Ainda no centro, encontrei o editor-chefe Luiz Egypto acidentalmente. Ele me levou até a zona rural do município, para que eu começasse a observar as estradas, e entrevistasse os moradores. Durante alguns minutos andei encontrando poucas casas, sempre fechadas. Minha intenção era encontrar alguém asseguradamente acordado nas residências, evitando incomodar as pessoas acordando-as acidentalmente.

Cerca de 20 minutos de caminhada depois, cheguei a um local com algumas seis casas. Numa delas havia um rapaz lavando o quintal, e uma senhorinha andando pra lá e pra cá na casa. Não vou entrar muito em detalhes com certas partes, pois pretendo postar a reportagem aqui no final de semana.

Pedi à senhora, chamada Maria de Lourdes, que me concedesse uma rápida entrevista. Ela estava limpando a residência e colocando móveis novos, e perguntou se eu seria rápido. Ouch. Falei que levaria apenas cinco minutos.

A conversa durou pelo menos meia hora. Na hora de ir embora, ela insistiu para que eu tomasse café ali.

Durante a entrevista fiz perguntas básicas, nada excepcional. Mas o trabalho tem um quê a mais, que faz falta a muitos luizenses. Eles sabem que nós estaremos no município o tempo todo. Não é apenas uma entrevista para uma mídia maior, que resultará em um minuto de reportagem, e fim.

De entrevista, passou à conversa. Eu perguntava, ela respondia, e conversávamos sobre cada ponto abordado. Ela passou a fazer questão de detalhar tudo. Me mostrou sua residência, e o seu quintal, que não possui cerca de madeira em um grande trecho, e sim, como cerca natural, o rio Paraíba. Sua residência fica ao lado do rio. Deve ser difícil viver ali agora.

Foi engraçado sentir como, no início, quando não tínhamos vínculo algum, ela perguntou se a entrevista demoraria, e depois, quando ela soube que eu passei pelo mesmo, se sentiu à vontade para falar.

Aliás, eu havia dito que não seria útil dizer aos entrevistados 'eu também perdi tudo o que tinha em casa, e sei o que você está sentindo'. Na verdade, ainda não acho útil parte da frase, seria ridículo dizer que sei o que cada um sente, mas percebi que dizer que fui afetado gera uma certa familiaridade entre eu e o entrevistado. Se der para evitar, eu o faço.

No entanto, notei que as pessoas veem uma grande necessidade de detalhar o ocorrido e se perdem justamente quando o repórter não sentiu o que aconteceu. Sempre me dizem "se você morasse aqui ia ver a situação da cidade e das casas". Minha resposta, obviamente, é que eu morava ali. O entrevistado se surpreende, pergunta em que bairro eu morava, vê que eu sei bem o que aconteceu no município, e passa a responder as perguntas de outra maneira.

Ou seja: é quase uma conversa de amigos. Não importa se eu sou repórter, estudante, astronauta ou um lunático que chega na cidade às 7:30 para entrevistar as pessoas.

Ao me despedir, Maria insistiu para que eu tomasse café com ela, seu marido, e os rapazes que estavam ali ajudando-a. Disse que não podia ficar, e ela fez questão de ligar para uma vizinha com uma história curiosa, pedindo que ela me concedesse uma entrevista. Cinco minutos depois eu estava sendo acolhido em outra residência, dessa vez uma chácara.

O casal, dono da chácara, não foi diretamente afetado pela enchente. A água subiu por toda a trilha de acesso à residência, mas não chegou ao quintal. Infelizmente, as residências dos filhos foram atingidas. Nem por isso eles deixaram de ser solidários com os outros. No total, eles abrigaram 56 pessoas na chácara, tendo algumas pessoas ficado no local por mais de duas semanas.

Também me ofecereram café, mas não aceitei, até porque tinha recebido uma ligação e precisei me apressar um pouco. Comecei a caminhar de volta para o centro. Levaria, no mínimo, meia hora a pé.

Não bastasse os exemplos de simplicidade dados por essas famílias, caminhei durante cinco minutos, até que um veículo passasse por mim e logo depois parasse. Continuei seguindo em frente, passando pelo carro devagar e olhando para dentro. O casal de senhores disse "Entra".

Desci no centro, passei mais algum tempo na cidade, e fui embora.

No segundo final de semana uma de minhas pautas foi relacionada ao Mercado Municipal. Falar das figuras de lá, como personagens, comidas, costumes. Falar do símbolo que o mercadão representa.

Fui na sexta-feira para a cidade, realizei entrevistas para outras matérias, e à noite toquei em um restaurante. Fui dormir às 3:30 da manhã, e acordei às 7:30 para ir ao mercadão. Me sentei junto a outras pessoas para tomar o café da manhã tradicional ali: café com pastel de farinha.

Alguns minutos depois comecei a encontrar as minha fontes. Uma delas, por sinal, estava acompanhada de sua filha, que me explicara na semana anterior onde seria um bom lugar para encontrar minhas fontes para a matéria da zona rural.

Comecei a encontrar várias pessoas. Fofoqueiras, jogadores de palito, baralho, e até de jogos de adivinhação. Passei cerca de meia hora dando risada enquanto assistia o jogo de adivinhação de cerca de cinco senhores, que zombavam um do outro, sempre dizendo "hoje você não vai ganhar nada, vai voltar só com xixi no bolso". Todos conversavam com o maior prazer.

O jogador de adivinhação, que após pergunta nomeou e descreveu o jogo como "Jogo de veio, porque não temos o que fazer", é que não queria dar entrevista a princípio, mas acabou aceitando responder as perguntas.

Você vê vários tipos de pessoas na cidade. Há tanta gente simples, que independente das dificuldades que tem na vida conversam com um sorriso no rosto, que não tem como você não aprender lições de vida com eles. Não são políticos, não têm pressa, e se sentem bem com uma boa conversa.

PS: enviei a postagem e esqueci de parabenizar as mulheres pelo dia 8. Faltavam 11 minutos para ser tarde demais. Então, parabéns pelo dia, que foi estabelecido após décadas e décadas de lutas por melhores condições de trabalho. Alguns fatos, como o incêndio em uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, em março de 1911, que matou quase 150 mulheres, ressaltaram a necessidade de haver melhor estruturação nos locais de trabalho e valorização das trabalhadoras.

3 comentários:

  1. Feeeee!
    Teu trabalho, teu TCC, tua vida profissional.. enfim, tão nascendo e isso é maravilhoso.
    Que tudo flua da melhor maneira possível pra você, viu? Tô na torcida! =)
    E, se precisar de algo, sabe que pode contar ^^


    ps: certeza que vc aceitou tomar café na casa da senhora que não queria dar entrevista, mas falou meia hora! hahaha!

    E obrigada pelos parabéns pelo DIA DA MUGUEGADA!


    beeeijo

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  2. Vc é ótimo !!!

    Ainda consegue lembrar das companheiras !!!

    Aguardo a reportagem... :)


    Abração


    ^^

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  3. Mano, voce é um puto de merda que não sabe nada....... de moda! Mas ta mandando muito bem no que nasceu pra fazer. Parabéns pelos diversos trabalhos.

    Desculpa aparecer pouco, ta corridão aqui! Mas sempre que possível passo aqui pra ver se voce tomou café!

    Beijo.

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